‘Good bye Solo’ conta história delicada

Filme chega como um novo fôlego no cinema independente norte-americano, mostra as pessoas e suas relações com o mundo

“Good Bye Solo” ganhou o prêmio da Crítica Internacional no Festival de Veneza em 2008 (Foto: Divulgação)

São Paulo – Ganhador do prêmio da Crítica Internacional no Festival de Veneza no ano passado, “Good Bye Solo” é um drama delicado que tece, por um vies humanista, uma história de desolação da qual se destaca o trabalho de dois atores e um roteiro muito bem construído, co-assinado pelo diretor Ramin Bahrani e Bahareh Azimi. O longa estreia em São Paulo nesta sexta-feira (18).

“Good bye Solo” parte de uma premissa simples, que a dupla de roteirista poderia ter levado a diversos caminhos – alguns deles excessivamente melodramáticos – mas sempre optam pela sutileza de uma história que se desenvolve com seus personagens. Muito da força do filme também vem da direção segura de Bahrani. O longa começa com um homem na casa dos 70 anos tentando fazer um acordo com um taxista senegalês que mora nos EUA.

O homem quer pagar adiantado mil dólares para, no dia 20 de outubro, ser levado a uma região montanhosa, onde há uma famosa rocha gigantesca e muito vento. O motivo nunca será revelado com palavras, mas deduzido pelo público e pelo motorista de táxi ao longo dos quase 90 minutos de filme.

Surge uma amizade inusitada entre William (Red West) e Solo (Souleymane Sy Savane), um motorista de táxi sempre animado que, às vezes, parece uma versão masculina da alegre protagonista de “Sempre Feliz”.

É uma relação até estranha, pois Solo quer ajudar William, mas este não quer ser ajudado. Morando em Winston-Salen, na Carolina do Norte, Solo também quer a sua fatia do sonho americano, tentando passar no exame para comissário de bordo.

Casado com uma mexicana, eles esperam o primeiro filho e cuidam da filha mais velha dela, com quem o taxista tem uma relação muito próxima. Assim, “Good bye Solo” acompanha alguns dias na vida desse grupo de personagens, até chegar em 20 de outubro – a data do acordo entre Solo e William.

Em seu filme, Bahrani não está interessado em falar de multiculturalismo ou observar o estrangeiro como um ser exótico – pelo contrário. O que interessa ao jovem diretor, de 33 anos, é a dinâmica das relações humanas, os laços que unem Solo e William, formados tão pelo acaso.

A jornada dos personagens ecoa “O Gosto de Cereja”, um dos filmes emblemáticos de Abbas Kiarostami, mas, aqui, Bahrani não é mero aprendiz – pode em alguns momentos se referir a mestres, mas sabe tomar o trabalho de diretor em suas mãos e fazer um filme próprio.

Para colocar “Good bye Solo” num patamar elevado, Bahrani conta com o trabalho excepcional de dois atores. West, que foi amigo de juventude de Elvis Presley, e trabalhou em alguns filmes com o roqueiro, tem a cara de sujeito comum.

Um homem de poucas palavras, descobrimos sobre sua personalidade e intenções junto com Solo. E como muito pouco é realmente dito, nunca temos certeza de algumas coisas. Já Sy Savane não é do Senegal, como o personagem, mas da Costa do Marfim, e já trabalhou como comissário de bordo na Air Afrique – sonho profissional do personagem Solo.

“Good bye Solo” chega como um novo fôlego no cinema independente norte-americano, que anda tão cheio de seus vícios visuais, de suas muletas narrativas e paternalismos multiculturais. Aqui, a força está naquilo que não é dito. Não é um filme de mensagem – ainda bem! É um filme sobre as pessoas, suas relações e o mundo – por isso mesmo, tão triste quanto reconfortante, tão enigmático quanto recompensador.

Fonte: Reuters

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