Operação Yoasi

PF deflagra segunda ofensiva contra desvio de medicamentos para crianças Yanomami

Apenas um dos alvos da operação é suspeito de ter repassado R$ 4 milhões para empresa investigada

Marcello Casal/Agência Brasil
Marcello Casal/Agência Brasil
Com ação da quadrilha, foram entregues efetivamente apenas 30% dos medicamentos destinados a crianças

São Paulo – A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (4) a segunda fase da Operação Yoasi. Os alvos são suspeitos de lavar recursos provenientes de desvio de medicamentos destinados ao povo Yanomami. Os agentes cumprem quatro mandados de busca e apreensão em Boa Vista, expedidos pela 4ª Vara da Justiça Federal em Roraima.

De acordo com as investigações, os suspeitos teriam “realizado vultosos aportes em empresas suspeitas com o objetivo de dar aparência de legalidade aos valores supostamente desviados”.

“Apenas um dos alvos da operação de hoje, preso na Operação Hipóxia, deflagrada no início de setembro e que investigou o superfaturamento de oxigênio destinado aos Yanomami, é suspeito de ter repassado R$ 4 milhões para a empresa investigada na (Operação) Yoasi”, explica a PF em seu site.

O nome da operação faz alusão a Yoasi, que, para os Yanomami, é irmão de Omama (rei da terra para os Yanomami) e responsável pela morte no mundo. “Yoasi é um homem mau”, explicou o líder e xamã Yanomami Davi Kopenawa em conferência na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 2013 (leia aqui). “Yoasi tem a pele branca, parece macaxeira descascada. Foi ele quem deixou espírito mau para a gente morrer, para a gente adoecer”, disse o indígena.

10 mil crianças desassistidas

A primeira fase da operação foi deflagrada em 30 de novembro de 2022. O “suposto esquema” teria deixado mais de 10 mil crianças Yanomami desassistidas de medicamentos, por desvio dos produtos adquiridos pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y), com a efetiva entrega de apenas 30% dos medicamentos adquiridos.

Os principais crimes investigados são fraude em licitação, corrupção ativa e passiva, associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema de informação. A soma das penas para estes crimes pode ultrapassar 35 anos de reclusão.

Na ação de novembro, a PF alcançou os dois ex-coordenadores do Dsei Yanomami, Rômulo Pinheiro e Ramsés Almeida da Silva. Foram alvos ainda a farmacêutica Cláudia Winch Ceolin, o assessor de Ramsés, Cândido José de Lira Barbosa, e o empresário Roger Henrique Pimentel, dono da empresa Balme Empreendimentos LTDA – todos investigados por participação no esquema.