Luta e resistência

Movimento Negro Unificado, que tirou racismo da invisibilidade, ganha homenagens em São Paulo

MNU será homenageado em ato solene na Assembleia Legislativa, nesta terça, às 19h. Como parte das celebrações de seus 45 anos, movimento também promove um baile antirracista aquilombado em São Paulo, no dia 7 de julho, e ocupa o Memorial da Resistência

Jesus Carlos/Arquivo
Jesus Carlos/Arquivo
Fundado em 18 de junho de 1978 e lançado em 7 de julho do mesmo ano, em plena ditadura civil-militar, o MNU rompeu com a invisibilidade do racismo estrutural e derrubou o mito da "democracia racial"

São Paulo – A Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) realiza um ato solene, nesta terça-feira (27), a partir das 19h, em homenagem ao Movimento Negro Unificado (MNU), que acaba de completar 45 anos. Fundado em 18 de junho de 1978 e lançado em 7 de julho do mesmo ano, em plena ditadura civil-militar, o MNU rompeu com a invisibilidade do racismo estrutural e derrubou o mito da “democracia racial” propagado pelo regime.

Na época, de acordo com historiadores, os militares queriam apresentar o Brasil como um “paraíso racial”. No entanto, a violência de Estado, que marcou o período, também era alimentada pela discriminação racial. O próprio nascimento do Movimento Negro Unificado é uma reação à violência racista da ditadura. Um mês antes, o regime prendeu, torturou e assassinou o feirante Robson Silveira da Luz, de 21 anos. Casado e pai de família, ele foi barbaramente torturado pela polícia nas dependência do 44º Distrito de Guaianases, no extremo leste de São Paulo, acusado de roubar frutas em seu local de trabalho.

No mesmo ano, quatro garotos negros e atletas da equipe juvenil de vôlei do Clube de Regatas Tietê foram barrados no local. E mesmo após reclamações do técnico, um dos diretores afirmou que ” se deixar um negro entrar na piscina, cem brancos saem”. Em outro caso, o operário Nilton Lourenço foi morto pela Polícia Militar no bairro da Lapa, na zona oeste da capital paulista. Em resposta, um grupo de jovens negros fundou o Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial. Posteriormente, rebatizado para acrescentar ao nome a palavra Negro, por sugestão do histórico ativista negro Abdias do Nascimento (1914-2011).

Espelho para a juventude

Em um ato histórico, o MNU reuniu milhares de pessoas em 7 de julho nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. O ato marcou oficialmente o lançamento do movimento contra a violência policial, o racismo e por reparação histórica e democracia racial de verdade. Ao longo das últimas décadas, a militância também registrou diversas conquistas. Entre elas, a Lei 10.639/1996, que estabeleceu o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas. Assim como garantiu o avanço da produção intelectual negra, principalmente pelo combate ao apagamento das contribuições dessa parcela da população.

O MNU também é visto como um espelho para a juventude, que fortalece o combate à discriminação racial.

“Há uma continuidade e uma diversificação. Com o MNU, surge um movimento social que vai fazer o enfrentamento mais direto. Mas muitas organizações surgem daí, e também outras formas de atuação, como o advocacy [atuação para influenciar a formulação de políticas e alocação de recursos públicos] e as ONGs, que fazem um outro papel. É importante essa diversidade e a capilaridade no combate ao racismo na sociedade”, avaliou a militante Regina Lucia dos Santos, há 28 anos no movimento, em entrevista no ano passado para a BBC News Brasil.

Celebrações

Além da homenagem nesta terça na Alesp, o MNU em São Paulo também promove um baile antirracista aquilombado no centro cultural e quilombo urbano Aparelha Luzia, no centro da cidade. O evento ocorre no dia 7 de julho.

Como parte das celebrações, o movimento ocupa o Memorial da Resistência, na capital paulista, para uma programação cultural nos dias 5, 8 e 9 de julho sob o tema “De 10 a 100 anos: Efemérides de memórias e personalidades negras”. A exposição celebra a vida e luta de pessoas e acontecimentos fundamentais para a história do movimento negro no Brasil.

A programação completa do museu está disponível aqui.