'PERDI O CHÃO'

Jogador de vôlei de praia é vítima de homofobia durante jogo do circuito brasileiro em Recife

Anderson Melo ouviu frases como “saca na bicha” e “usa calcinha” durante partida válida pelo circuito brasileiro da modalidade. Confederação Brasileira de Vôlei disse que faria BO e levaria caso para o Ministério Público

(reprodução/instagram/@andersonmelo92)
(reprodução/instagram/@andersonmelo92)

São Paulo – O jogador de vôlei de praia Anderson Melo foi vítima de sistemáticos ataques homofóbicos durante partida que disputava na etapa do Recife do circuito brasileiro de vôlei de praia, neste sábado (16). Espectadores que acompanhavam o jogo na aquibancada gritaram frases como “saca na bicha”, “usa calcinha ou não usa? Usa” e “e ae, minha filha. É ou não é? É!”. O atleta se manifestou nas redes sociais e a Confederação Brasileira de Voleibol disse que iria protocolar um boletim de ocorrência e encaminhar o caso de homofobia para o Ministério Público.

Os ataques ocorreram na partida em que o carioca Anderson Melo e seu parceiro goiano de dupla, Lyan, enfrentavam o amazonense Luizão e o pernambucano Fabiano. A homofobia ocorreu em vários momentos do jogo e foi captada pela transmissão da partida. A câmera, porém, estava voltada para a arena e, das arquibancadas, registrou somente o áudio. Ao final da partida, Andreson se manifestou, rapidamente recebendo apoio de milhares de pessoas, anônimas ou não, como a canora Anitta, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, a jornalista Carol Barcellos e dezenas de atletas de diversas modalidades.

‘Perdi o chão. Perdi a bola. Perdi o jogo’

“Demorei a escrever porque eu precisava digerir o que aconteceu naquela quadra, no ambiente que mais amo estar sofri ataques homofóbicos continuadamente e pela primeira vez na vida não consegui reagir. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo e eu só lembrava da minha mãe, o quanto ela tinha medo de me ver sofrer por ser homossexual. E infelizmente ela não estava aqui para me proteger e nem ninguém. Me senti completamente acoado e sem entender porque as pessoas estavam fazendo aquilo. Um ambiente feito para as pessoas apreciarem os atletas, torcer para seus favoritos é claro, mas não necessariamente tentar diminuir, xingar, debochar ou tentar ridicularizar alguém”, disse Anderson. “Perdi o chão. Perdi a bola. Perdi o jogo. Mas não a minha força em estar aqui dividindo com vocês um crime explícito”, acrescentou.

Confederação Brasileira de Vôlei

A Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) emitiu nota sobre o ocorrido. Afirmou que “lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos” e que “apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos.”

Confira nota oficial completa

“A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos ao atleta Anderson Melo, feitos na quinta-feira por pessoas que assistiam aos jogos da segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife.

A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos.

Desde sexta-feira, a mensagem abaixo é veiculada antes de cada partida da quadra central.

‘Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discriminatórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestações como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidade, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceito e discriminação!

A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceito, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestação discriminatória em seus eventos.”

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