Fome sem combate

Cozinha Cidadã: Ricardo Nunes trai população de rua e não reabre pontos de refeições

Prefeito de São Paulo reduziu de 10 mil para 3.200 mil a distribuição de refeições para pessoas em situação de risco

DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE SP
DIVULGAÇÃO/PREFEITURA DE SP
A gestão Nunes pretendia encerrar o programa Cozinha Cidadã no dia 25 de setembro, sendo que em algumas regiões da cidade a distribuição de alimentos já havia sido interrompida bem antes

São Paulo – Representantes da população em situação de rua da capital paulista denunciam que o prefeito Ricardo Nunes (MDB) traiu o acordo feito em 22 de setembro e não reabriu todos os pontos de distribuição de refeições do Programa Cozinha Cidadã. Por isso, nesta quinta-feira (7), movimentos protestaram em frente à prefeitura reivindicando uma reunião com o prefeito e a garantia da continuidade do programa.

Em reunião realizada com o presidente da Câmara Municipal, vereador Milton Leite (DEM), Nunes havia se comprometido a manter a distribuição de refeições até o final do ano. Além disso, o Fórum da Cidade em Defesa da População em Situação de Rua de São Paulo quer que prefeitura e Câmara Municipal desenvolvam um programa permanente de alimentação da população de rua para 2022.

Entretanto, após o acordo, só foram mantidos abertos seis pontos do Programa Cozinha Cidadã, com a distribuição de 3.200 refeições. Antes dos cortes feitos pela gestão Nunes, eram distribuídas cerca de 10 mil refeições por dia.

O fórum também reclama que a secretária de Direitos Humanos, Claudia Carletto, desmarcou, sem justificativa, uma reunião agendada com os representantes da população em situação de rua para discutir a continuidade do programa.

Continuidade do Cozinha Cidadã

O presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, Robson Mendonça, explica que houve aumento da distribuição em alguns locais, mas outros continuam fechados e cobra um plano de continuidade.

“Com o presidente da Câmara e o prefeito, ficou combinado que todos os locais seriam reativas até o final de dezembro. Porém, ele não reativou nenhum e tem bairros sem receber comida. O Legislativo entra em recesso de dezembro a março, e a população de rua ficará sem comer durante esse tempo? Então, precisamos de uma garantia para ninguém ficar com fome”

A presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, vereadora Erika Hilton (Psol), que mediou a reunião onde foi firmado o acordo, recebeu com indignação a postura da gestão Nunes

“É um extremo desrespeito e não pode ficar da forma que está. O prefeito se comprometeu que o programa continuaria e não vamos tolerar que ele trate a miséria e fome da cidade como algo sem relevância. Por isso, terá que cumprir o que prometeu aos cidadãos e parlamentares. Essa notícia é desprezível, gravíssima e é desrespeitoso. Não aceitaremos essa covardia. Estamos falando de fome e não pode haver esse desprezo.”

Abandono de Nunes

A gestão Nunes pretendia encerrar o programa Cozinha Cidadã no dia 25 de setembro, sendo que em algumas regiões da cidade a distribuição de alimentos já havia sido interrompida bem antes. O governo municipal dizia que os beneficiários do Cozinha Cidadã não iriam ficar sem atendimento, sendo direcionados para o programa estadual Bom Prato.

No entanto, lideranças da população de rua avaliam que os restaurantes Bom Prato não têm condições de absorver essa demanda. Dados da própria prefeitura apontam que, ao menos, 10 mil pessoas são beneficiadas pelo programa, sendo 60% delas pessoas em situação de rua e os demais, de pensões e ocupações.

Além disso, dados do cadastro único apontam que já há mais de 30 mil pessoas em situação de rua na capital paulista, indicando que mais pessoas podem vir a demandar esse tipo de atendimento. Para Mendonça, é urgente que seja elaborado um projeto permanente de oferta de alimentação para a população em situação de rua.

“A gente vem pedindo isso porque a alimentação é vida. Quem ganha vale-refeição não pode tirar comida de quem dorme no chão. A população em situação de rua precisa de uma continuidade alimentar, por isso criamos uma audiência com o prefeito.”

Em nota, a gestão Nunes confirmou a distribuição de apenas 3.600 refeições e diz que foram distribuídos 4 mil cartões de acesso aos restaurantes Bom Prato para a população de rua. Mas não comentou o acordo firmado com representantes da população de rua, na reunião do dia 22 de setembro.

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