À própria sorte

Enchentes em São Paulo mostram ‘abandono’ e ‘irresponsabilidade’ do prefeito Ricardo Nunes

Movimento dos Atingidos por Barragens, Central de Movimentos Populares e a União dos Movimentos de Moradia protestaram em frente à prefeitura por medidas de reparação

Marcelo Camargo/EBC
Marcelo Camargo/EBC
Sofrimento e drama de milhões de pessoas na maior metrópole da América Latina não sensibiliza o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes

São Paulo – A cidade de São Paulo voltou ontem (13) a registrar enchentes e pontos de alagamento, com carros submersos e pessoas ilhadas que precisaram ser resgatadas em botes. O corpo de uma mulher foi encontrado no Rio Tietê. Na semana passada, outro temporal causou a morte de uma idosa em Moema, na zona sul da capital paulista. A previsão, contudo, ainda é de mais chuvas para esta terça-feira (14). O que coloca em alerta a população paulistana e movimentos sociais. 

Desde as 10h30, eles protestam em frente à prefeitura por medidas de enfrentamento às enchentes e pelos direitos aos atingidos. A avaliação é que a cidade está “abandonada” por “irresponsabilidade” da atual administração, do prefeito Ricardo Nunes (MDB). 

“Não é possível a gente assistir inerte esse sofrimento, ao drama de milhões de pessoas todos os anos na maior metrópole da América Latina. Não é só culpa dos eventos climáticos, embora eles sejam muito impactantes, é preciso ter ações. Mas é também culpa de um conjunto de ausências de uma política habitacional urbana, ambiental e social para enfrentar esse problema. A situação é tão grave que chega em bairros que antes não sofriam com as enchentes em São Paulo”, afirma o coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular, Raimundo Bonfim, em entrevista ao Jornal Brasil Atual

Manifestação na prefeitura

“O prefeito de São Paulo faz propaganda de que o município está com suas finanças em dia e que tem dinheiro em caixa. Mas do que adianta, se o povo, todo início de ano, sofre perdas de vidas humanas, de bens materiais e a pessoas não têm sequer um apoio por parte da prefeitura?”, questiona Bonfim.

A manifestação contra a gestão Nunes é tem ainda a presença da União dos Movimentos por Moradia (UMM) e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que, nesta terça, também reivindica o Dia Nacional de Luta dos Atingidos. Uma reunião havia sido solicitada com o prefeito, que ainda não respondeu ao pedido das entidades. Entre os pontos da pauta apresentada, elas cobram, por exemplo, a criação de uma política de segurança e proteção. Além de ações para resolver os problemas das famílias atingidas e medidas emergenciais. 

Desde 2014, está previsto no Plano Diretor Estratégico (PDE) um plano de gerenciamento de riscos. Mas, apesar da exigência, até hoje essa medida não está implementada. A integrante da coordenação estadual do MAB de São Paulo Tamires Cruz de Paula acrescenta que a atual gestão não executa toda a verba prevista para o combate às enchentes. 

Negligência e racismo ambiental

A promotoria de Habitação do Ministério Público apresentou ao Tribunal de Contas do Município (TCM) estudo demonstrando que, nos últimos sete anos, foi previsto investimento de R$ 7,4 bilhões para a área. Mas a prefeitura deixou de investir R$ 3,4 bilhões. Além disso, em 2022, dos R$ 937 milhões previstos, o governo Nunes executou apenas R$ 474 milhões.

“E o resto do dinheiro? Para onde que foi? A gente vê muitas obras sendo feitas, mas não se constrói coletivamente junto à população obras que realmente sejam efetivas no combate às enchentes. Tem obras que acabam até piorando a questão das enchentes aqui na cidade de São Paulo”, afirma a coordenadora.

Tamires também chama a atenção para o problema do racismo ambiental que, segundo ela, se agrava com a negligência do poder público em relação a populações historicamente excluídas. “No Brasil, como um todo, tem uma questão histórica com essa população atingida, seja pelas barragens, enchentes ou deslizamentos de terra. E, na nossa visão, eu acredito que o racismo ambiental segue produzindo essas tragédias. Embora haja esses eventos extremos, essa população mais vulnerável é de baixa renda, preta e parda e segue sendo a mais atingida constantemente”, lamenta o MAB.

“Porque quando se fala em racismo ambiental e áreas da especulação imobiliária, você vê que os locais que são denominados bons, são para a classe mais abastada financeiramente, então o que sobra para a população de baixa renda são as áreas de várzea e as áreas de encosta. Essa população que vive nessas áreas é mais propensa a sofrer com essas tragédias.” 

Confira a entrevista completa