Democracia em campo

Casagrande fala na TVT em ‘amor e democracia’ contra o bolsonarismo

Em entrevista a Juca Kfouri, no programa Entre Vistas, Casão também falou sobre suas expectativas para a Copa do Mundo e deu detalhes da partida de futebol que fará com indígenas, em defesa da demarcação de terras

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"Minha ligação é muito forte com os povos indígenas e meu compromisso com eles é com a visibilidade”, comenta Casagrande a Juca Kfouri na TVT

São Paulo – O ex-jogador de futebol, bicampeão pelo Corinthians, e um dos articuladores da chamada Democracia Corinthiana – movimento que lutou pelo fim da ditadura civil-militar no final da década de 1980 –, Walter Casagrande Júnior foi o convidado do jornalista Juca Kfouri no programa Entre Vistas, da TVT, exibido na última quinta-feira (1º). Casão, como é conhecido, jogou na Itália, foi também campeão mundial pelo Futebol Clube do Porto e disputou uma Copa do Mundo. Mas, na entrevista a Juca, como descrito pelo próprio apresentador, mostrou que é antes de tudo um libertário, apaixonado por música, cidadão pleno nas suas atividades políticas e que nunca teve medo de dar a cara a bater. 

Assim ele fez ao destacar, sem se deter, sua oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL). A exatamente um mês do primeiro turno eleitoral, o comentarista esportivo mostra não acreditar na reeleição do mandatário, mas vê a continuidade do “bolsonarismo”. Ainda assim, diz ser possível também enfrentar esse movimento de extrema direita. 

“Combater o ódio é sempre com amor. E para combater qualquer tipo de autoridade é sempre com democracia. Vamos combater o bolsonarismo tirando aquilo que eles conquistaram fora de qualquer estilo democrático, que são as armas, por exemplo. Isso aí tem que retroceder”, observa Casagrande. O enfrentamento também passa pela incorporação das cores da bandeira do Brasil e da própria camisa da seleção, símbolos “sequestrados” pela extrema direita, conforme classifica o comentarista, mas que na verdade são de “todo o povo brasileiro”. 

Ao lado dos indígenas

“Não precisamos resgatar nada, eles (bolsonaristas) têm o direito de usar a camiseta amarela e verde e a bandeira do Brasil. Mas nós também temos que começar a usar. Não é tirar, não é essa questão, senão não é democracia. Só que temos também que usá-las independentemente deles usarem ou não”, defende.  

Assim como um de seus melhores amigos, o craque Sócrates, morto em 2011, Casão, em paralelo ao futebol, sempre se dedicou às causas dos segmentos marginalizados pelo Estado, como os povos indígenas. A ligação com essa questão se intensificou durante o governo Bolsonaro, quando o comentarista esportivo conheceu a roteirista do filme Democracia em Vertigem (2019), Moara Passoni, que atualmente dirige uma série sobre a Democracia Corinthiana. “Eu falei para ela que precisava fazer alguma coisa, que não estava aguentando ficar assistindo de camarote, dentro da minha casa, as coisas acontecerem”, contou a Juca. 

Casagrande passou a se reunir com frequência com lideranças indígenas e, dos encontros, surgiu a ideia de uma olimpíada dos povos originários. Por conta da pandemia de covid-19, o projeto precisou ser interrompido, mas foi retomado neste ano com a proposta de ser um jogo de futebol. O objetivo, de acordo com o ex-jogador, é fazer uma analogia sobre a marcação do campo de futebol. “Porque se você não marca um campo, não tem jogo. E se não tiver a demarcação de terras indígenas, também não tem jogo na vida deles, nossa e de todo mundo”, destaca. 

A partida “Sem demarcação de terras não tem jogo” está confirmada para ocorrer no próximo dia 23, em uma aldeia próxima à cidade de Brumadinho (MG). “Minha ligação é muito forte com os povos indígenas e meu compromisso com eles é com a visibilidade”, acrescenta Casagrande. 

Expectativas sobre a Copa

O comentarista esportivo também compartilhou no Entre Vistas sua expectativa diante da Copa do Mundo que ocorre em novembro, no Catar. Essa será a primeira vez que o ex-jogador vai ao evento, não para comentar os jogos – como fez nas últimas seis disputas pela TV Globo –, mas podendo ser um torcedor. “Vou poder colocar para fora aquela sensação de torcida. Então, vai ser uma coisa super nova para mim no lado pessoal, emocional, sentimental, não sei como será. Vou voltar a ser aquele garoto que ia para o estádio torcer”, descreve. 

Apesar das expectativas pessoais, Casagrande pondera, no entanto, não estar entusiasmado com a Copa do Mundo pelas controvérsias que cercam o país do Oriente Médio, sede do evento. “A Fifa não deveria fazer um evento de Copa do Mundo em países que têm um preconceito muito grande, ditadura, que não respeitam as mulheres, que não dão liberdade, não respeitam a diferença de gêneros e que não têm nenhuma história no futebol. Eu sempre fui a favor, sempre gostei de Copa do Mundo em países e continentes diferentes, mas que tenham certa história no futebol. O Catar não tem”, aponta.

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“Não tem um interesse verdadeiro (do país) na Copa do Mundo, é uma questão muito política. E aqueles que falam que futebol e política não podem se envolver, começa a prestar atenção porque, todas são, mas essa Copa do Mundo, especialmente, é muito política. Está sendo lá por motivos políticos”, completa. Casão também analisa que as grandes seleções não estarão em posição confortável. Para o comentarista esportivo, o que estará em jogo é a intensidade física e mental dos atletas, e as equipes tradicionais terão que empatar na intensidade.

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Redação: Clara Assunção – Edição: Helder Lima