No Entre Vistas

Juca Kfouri recebe jornalista que trocou São Paulo pelo Amazonas para cobrir questões ambientais

O correspondente do ‘Brasil de Fato’ no Amazonas, Murilo Pajolla, foi o convidado do programa dessa quinta-feira

TVT/Reprodução
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Voltado à cobertura das questões socioambientais, Pajolla deixou São Paulo, há um ano e meio, em direção ao interior do Amazonas, na cidade de Lábrea, onde é correspondente do Brasil de Fato

São Paulo – Jornalista do Brasil de Fato, Murilo Pajolla foi o convidado de Juca Kfouri no programa Entre Vistas, da TVT, ontem (14) à noite. Voltado à cobertura das questões socioambientais, Pajolla deixou São Paulo há cerca de um ano e meio, em direção ao interior do estado do Amazonas, na cidade de Lábrea. A mudança para a região Norte, segundo o correspondente, foi inspirada na experiência da também jornalista Eliane Brum, que trocou a maior cidade do país por Altamira, no Pará, para viver em meio à floresta amazônica e na linha de frente das questões ambientais do mundo. 

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“Achei que era necessário estar aqui, no interior do Amazonas. (…) Os correspondentes, normalmente, vivem nas capitais e eu propus ao jornal que essa parceria pudesse ser concretizada comigo morando no interior e não só numa cidade qualquer do interior, mas numa cidade que a partir de 2020 passa a integrar o chamado arco do desmatamento, que é onde ocorre a expansão da fronteira agropecuária. Então essa cidade, de alguma forma, representa tudo aquilo que vemos no noticiário sobre a devastação ambiental, as invasões, grilagem de terra, expulsão de povos indígenas e povos tradicionais da Amazônia e aniquilação desses modos de vida diferenciados”, explicou Pajolla ao Entre Vistas.

Ao sair de São Paulo para o interior do Amazonas, ele também passou a acompanhar de perto a realidade e as particularidades de alguns dos mais de 300 povos indígenas do Brasil. O jornalista comenta sobre o recém aprovado projeto de lei que transforma o “Dia do Índio” em “Dia dos Povos Indígenas”, comemorado em 19 de abril, como uma medida necessária para “contemplar essa diversidade”. De autoria da deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR), o PL visa justamente abranger a diversidade cultural e regional dos povos originários do país. 

Papel do jornalismo

A proposta, no entanto, havia sido barrada integralmente pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Mas teve o veto derrubado em sessão conjunta entre senadores e deputados federais no último dia 5. 

“Muita gente diz, até nós, jornalistas, ‘os indígenas’. É uma afirmação impossível de se fazer se ela for acompanhada de uma generalização”, ressalta Pajolla. “É preciso contemplar essa diversidade, precisa falar dos povos indígenas nas suas particularidades regionais e culturais. Quanto mais a gente homogeiniza a compreensão desses povos, quanto mais a gente percebe eles com uma compreensão folclórica, um cocar no carnaval, a cara pintada, tudo isso reforça uma cultura de desumanização que no fundo justifica a colonização passada e a continuidade desse processo. Basta ver o que está acontecendo no Mato Grosso do Sul, onde indígenas Guarani Kaiowá são atacados por milícias rurais e a polícia ao tentar retomar suas terras”, adverte. 

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Caso Bruno e Dom 

Entre as coberturas mais recentes feitas pelo jornalista para o Brasil de Fato, está o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inlgês Dom Phillips. Bruno e Dom desapareceram no dia 5 de junho, quando partiam da comunidade São Rafael em direção a Atalaia do Norte, no extremo oeste do Amazonas. Seus corpos foram encontrados cerca de 10 dias depois. Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, confessou ter sido o responsável pelas mortes. Até o momento, outros três suspeitos tiveram a prisão preventiva decretada. 

Durante a conversa com Juca Kfouri no Entre Vistas, o correspondente na Amazônia reforçou a importância da atuação das organizações indígenas na investigação do caso. 

“A gente pode considerar e dizer que os povos indígenas do Vale do Javari, a Univaja, vão passar para a história do Brasil como uma das organizações indígenas com atuação mais importante que já se viu, mais aguerrida, mais comprometida e estratégica. Quando o Bruno e o Dom desapareceram no domingo, na segunda eu falei para os editores do jornal que ia me dedicar ao assunto e passamos mais de um mês apenas nesse tema. E aí o que eu ouvi, entrando em contato com povos indígenas daquela região, inclusive alguns que acompanharam Bruno Pereira nas operações de fiscalização, ele já tinham cantado a bola desde segunda. Toda essa narrativa que foi descoberta – com as investigações da força tarefa, chefiada pela Polícia Federal, e pela atuação da imprensa também – já estava na boca dos indígenas no dia seguinte do desaparecimento”, descreve Murilo Pajolla.

Entre Vistas vai ao ar todas às quintas, às 21h30, na TVT. A íntegra dos programas anteriores está disponível no Youtube da Rede TVT

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