Ancestralidade e integração

Anielle Franco quer ampliar intercâmbio com países africanos

Ministra assinou memorando de entendimento com autoridades de Moçambique para a efetivação do Caminhos Amefricanos, programa de intercâmbios sul-sul de curta duração

Luna Costa/MIR
Luna Costa/MIR
Ministra também quer a inclusão de África do Sul e Angola no programa

São Paulo – A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, cumpre agenda movimentada no continente africano nesta semana. Nesta quarta-feira (23), ela se encontrou com a ativista de direitos humanos moçambicana Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, em Joanesburgo. E também visitou a casa do líder sul-africano na luta contra o apartheid, no tradicional bairro de Soweto. Na sequência ela participou do segundo dia de reuniões da Cúpula do Brics, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ontem a ministra esteve em Moçambique, onde se reuniu com o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do país, Daniel Nivagara. Eles assinaram dois acordos de cooperação de combate à discriminação e promoção da igualdade racial.

Além disso, a ministra também se encontrou com reitores de universidades moçambicanas para a efetivação do programa Caminhos Amefricanos, um programa de intercâmbios sul-sul de curta duração anunciado em julho deste ano no Maranhão.

Anielle ainda terá compromissos no continente africano até o próximo domingo (27) e passará também por Angola e São Tomé e Príncipe. Hoje, em entrevista coletiva, a ministra falou das agendas que vem cumprindo em paralelo à cúpula do Brics. E destacou a intenção de reforçar o intercâmbio entre estudantes brasileiros e africanos. Nesse sentido, a aproximação com o continente africano também tem como objetivo promover uma educação antirracista.

“Esse carinho que a gente tem quando a gente se reconecta com a África e com a ancestralidade, parte não só de levá-los, mas de apresentar aos alunos esse novo horizonte de lugar. Mas parte também das ações concretas com o que vem depois, seja nas escritas, seja nas trocas com os professores”, afirmou à ministra. Assim, ela antecipou que vai negociar com autoridades angolanas e sul-africanas a inclusão dos respectivos países no programa de intercâmbio.

Encontro com Graça Machel

Marielle ressaltou o encontro com Graça Machel, que reuniu outras ativistas engajadas na luta pela ampliação dos direitos das mulheres negras. Disse que a viúva de Mandela lhe deu a missão de auxiliar na organização de conferência internacional entre Estados Unidos, África do Sul, Brasil e Colômbia. O objetivo é fortalecer a luta de emancipação feminina nesses países.

A ministra disse que relatou o seu empenho, em parceria com o Ministério da Educação, na implementação da Lei 10.639 que prevê a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo das escolas do país. Pesquisa do Instituto Alana e do Geledés, lançada em abril, mostrou que sete em cada dez secretarias municipais de Educação realizam “pouca ou nenhuma” ação para implementar a legislação que promove a educação antirracista nas escolas.

Por outro lado, Anielle também destacou como uma “vitória” a revisão da Lei de Cotas, que a Câmara dos Deputados aprovou no início do mês. “No final ela (Graça Machel) perguntou como, no auge da sua experiência de vida, poderia ajudar o nosso ministério”.

Para ela, “um país que tem memória é um país que não repete seus erros”. Assim, a ministra enalteceu a aproximação com os países africanos. “Estar aqui, pautando e nos reunindo com mulheres como ela, e também tendo o apoio da própria Janja, que tem emplacado uma luta de gênero muito forte, e sempre nos convocado para falar da questão das mulheres negras também, foi incrível”.