Cúpula do Brics

Lula condena gastos militares globais. Para Putin, Ocidente causou guerra na Ucrânia

Para presidente brasileiro, busca pela paz “é um dever coletivo e um imperativo para o desenvolvimento”. Putin diz que Rússia apoia “as pessoas que estão lutando por sua cultura”

Ricardo Stuckert (cenário) e Reprodução (Lula e Putin)
Ricardo Stuckert (cenário) e Reprodução (Lula e Putin)
Presidentes de Brasil e Rússia comentam a Guerra na Ucrânia sob perspectivas diferentes na Cúpula do Brics

São Paulo – Em discurso na manhã desta quarta-feira (23) na Cúpula do Brics em Joanesburgo, África do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou os gastos militares das nações e voltou a criticar a guerra na Ucrânia, Além disso, reiterou a defesa de uma moeda comum dos membros do bloco para operações comerciais, em substituição ao dólar.

“É inaceitável que os gastos militares globais em um único ano ultrapassem 2 trilhões de dólares, enquanto a FAO nos diz que 735 milhões de pessoas passam fome todos os dias no mundo. A busca pela paz é um dever coletivo e um imperativo para o desenvolvimento justo e sustentável”, disse Lula.

Na Cúpula, que termina nesta quinta (24), os líderes de Brasil, Rússia, África do Sul, Índia e China discutem geopolítica, comércio, desenvolvimento de infraestrutura e a possível expansão do bloco.

A guerra na Ucrânia e o Brics

O presidente brasileiro voltou a se posicionar em favor da paz e pelo fim do conflito entre Moscou e Kiev. “Não podemos nos furtar a tratar o principal conflito da atualidade, que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais. O Brasil tem uma posição histórica de defesa da soberania, da integridade territorial e de todos os propósitos e princípios das Nações Unidas. Achamos positivo que um número crescente de países, entre eles os países do Brics, também esteja engajado em contatos diretos com Moscou e Kiev. Não subestimamos as dificuldades para alcançar a paz”, pediu.

Já o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que participa por videoconferência, comentou a guerra sob uma perspectiva bastante diferente. Ele afirmou que as ações russas na Ucrânia são motivadas por um único desejo: pôr fim à guerra lançada contra população civil pelo regime de Kiev e apoiada pelo Ocidente.

“A Rússia decidiu apoiar as pessoas que estão lutando por sua cultura, por suas tradições, por seu idioma e por seu futuro. Nossas ações na Ucrânia são ditadas por apenas uma coisa – pôr fim à guerra que foi desencadeada na Ucrânia pelo Ocidente e seus satélites contra as pessoas que vivem em Donbass”, declarou.

Economia global

Para além da guerra, no plano econômico, o presidente brasileiro disse que “a criação de uma moeda para as transações comerciais e de investimento entre os membros do Brics aumentam nossas opções de pagamento e reduzem nossas vulnerabilidades”.

O líder brasileiro acrescentou que o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco dos Brics, poderá oferecer alternativas de financiamento adequadas às necessidades do Sul Global. “Tenho certeza de que, sob a liderança de minha companheira Dilma Rousseff, o Banco estará à altura desses desafios”, afirmou. A ex-presidente brasileira é a atual presidente da instituição.

Putin destacou que os países do bloco devem combater o neocolonialismo. “Somos contra qualquer tipo de hegemonia, o excepcionalismo propagandeado por alguns países e a nova política baseada nesse postulado, a política de continuação do colonialismo, o neocolonialismo”, disse.

Segundo Putin, o Brics é a favor de uma ordem independente da hegemonia norte-americana. “Somos todos unanimemente a favor de uma ordem mundial multipolar verdadeiramente justa e baseada no direito internacional, respeitando os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas, incluindo o direito soberano e o respeito pelo direito de cada povo ao seu próprio modelo de desenvolvimento”, disse o líder russo, sem, porém, citar os Estados Unidos.

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