Transporte de pandemia

São Paulo não coloca 100% da frota de ônibus, mesmo com fim da quarentena

Por decisão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), população paulistana segue sendo transportada em ônibus lotados, enquanto apenas 88% da frota está operando na cidade

Rovena Rosa/EBC
Rovena Rosa/EBC
Mesmo com o fim da quarentena, prefeito Ricardo Nunes não retomou a operação de 100% da frota de ônibus

São Paulo – Dados da Secretaria de Mobilidade e Trânsito do governo de Ricardo Nunes (MDB) mostram que, mesmo com a retomada de 100% das atividades econômicas e das aulas nas escolas, apenas 88% da frota de ônibus está operando na cidade de São Paulo. A frota é praticamente a mesma que operava na fase emergencial da quarentena, nos meses de março e abril.

À época, a RBA mostrou que, mesmo com o agravamento da pandemia, os transportes coletivos seguiam lotados. Os dados da prefeitura também mostram pouco incremento do número de ônibus operando nas ruas de São Paulo entre outubro de 2020 e os primeiros dias de setembro deste ano. Enquanto o número de passageiros cresceu em aproximadamente 230 mil no mesmo período.

Leia mais: Em São Paulo, fase roxa tem ônibus, metrô e trens lotados e pouco isolamento social

Lotação diária

A auxiliar de serviços gerais Ieda Leal, moradora do Jardim Elisa Maria, na zona norte da capital paulista, relata que não consegue pegar ônibus vazios na ida ao trabalho e ainda enfrenta o desrespeito ao uso de máscaras.

“Eu pego o ônibus 917-R, sentido Santana, às 5h10. Todos os dias que eu o pego ele está cheio, lotado e não tem como esperar outro, porque só passa esse no horário. Eu entro às 6h (no trabalho) e a pandemia toda foi isso, ônibus cheios, todos os dias lotados. Para voltar (do trabalho) também, a mesma coisa, com os ônibus lotados, todos muito cheios. E a gente tem trabalhar, não podemos nos dar o luxo de ficar em casa, então é isso. E sem contar os passageiros que não respeitam, que tiram a máscara dentro do ônibus, e o cobrador não reclama e não fala nada”, descreve Ieda.

Lotados e com pouca ventilação, os transportes coletivos se tornam um local de alto risco para a transmissão do novo coronavírus.

Governo Nunes erra

A avaliação de especialistas é a de que não há justificativa econômica para que a prefeitura não determine a operação de 100% da frota de ônibus. Uma vez que uma portaria, de abril de 2020, garantiu a remuneração das empresas pelos veículos que ficaram parados na pandemia. Para o pesquisador de Mobilidade Urbana do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Calabria, a prefeitura erra em manter parte da frota fora de circulação e não ser transparente quanto à demanda de passageiros por região da cidade.

“Apesar da crise que o transporte coletivo tem vivido em todo o Brasil, com a queda de passageiros e portanto uma queda de arrecadação, a cidade de São Paulo tem uma posição diferenciada nisso porque ela tem um subsídio organizado e a prefeitura estabeleceu um subsídio especial para o período da pandemia, como outras cidades do mundo fizeram”, explica.

“Então a cidade teria a capacidade de oferecer os serviços de uma forma muito melhor, com mais qualidade para os usuários nesse período, para quem precisa utilizar o transporte na pandemia. Mas tem errado na gestão, no controle da frota necessária, no mapeamento da demanda, das lotações que estão acontecendo pela cidade. Não dá para a prefeitura de São Paulo se justificar pela pandemia, porque ela tem recursos e capacidade financeira de fazer um melhor serviço. É um erro interno dela, da SPTrans de não adequar a frota para o que a cidade vem precisando”, completa Calabria.

Sem respostas

O argumento do governo Nunes tem sido que a demanda de passageiros nunca retornou aos níveis anteriores à pandemia, ficando atualmente em 67% da registrada naquele momento. No entanto, a Secretaria de Mobilidade e Trânsito não respondeu aos questionamentos da reportagem para explicar o porquê, apesar da volta de 100% das atividades, a frota de ônibus não está completa nas ruas.

Confira a reportagem