‘Por que você disse aquilo?’
Ah, porque…, porque achei que ia pegar bem, sei lá… Pelo menos, por um dia, vão parar com aquela história dos imóveis que a minha turma comprou com dinheiro vivo
Publicado 08/09/2022 - 09h41
Diário, hoje de manhã aconteceu uma coisa muito estranha comigo. Muito estranha!
Eu estava sentado no banheiro, soltando uns traques (de manhã, eu pareço o cano de escapamento de uma Romisetta) quando, de repente, Ele falou comigo.
Não, não é Ele-Deus. É Ele-Ele. O belinguéu, o sem-osso, o piu-piu, o bingolim, o balangandã, o Olavo, o varizento.
Pois é, Ele falou. Tava cabisbaixo, como sempre, olhando lá pro fundo do poço, mas, de repente, virou a cabeça na minha direção e perguntou:
– Por que você disse aquilo?
– Tá falando comigo?
– Tem mais alguém aqui? É com você mesmo. Por que você disse que aquilo?
– Aquilo o quê?
– O “imbrochável”.
– Ah, porque…, porque achei que ia pegar bem, sei lá…
– Como é que ia pegar bem, se a maioria do seu público é de conservadores, de evangélicos, de gente que não quer nem saber de educação sexual nas escolas?
– Eles se fazem de santinhos, mas gostam de uma sacanagem.
– Eu sei, mas não em público. Era dia de falar de independência, de pátria, de família, não de mim.
– Pelo menos, por um dia, vão parar com aquela história dos imóveis que a minha turma comprou com dinheiro vivo.
– Tinha outros jeitos de você mudar de assunto. Agora, como vão chamar os seus seguidores? “Brochominions”?
– Pô, não é assim…
– É assim, sim. Porque, quando alguém fala em voz alta que é imbrochável, fica na cara que ele é.
– Fica?
– Fica. Ainda mais que o Exército gastou mais de R$ 33 milhões em Viagra e um monte de general ganhou prótese peniana.
– Mas esses são os outros. De mim, ninguém fala nada.
– Ah, falam, sim. Por exemplo, na página 180 do livro daquela tal de Thaís Oyama, está escrito que você toma Cialis.
– É pro coração, pô!
– Quem vai acreditar nisso?
– Sei lá…
– E pensa bem: como é que a fica a sua moral? Você começou o mandato falando em “golden shower” e vai terminar gritando “imbrochável”?
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– Quer que eu fale do quê? De economia? Não dá, pô!
– De qualquer coisa, menos de mim. Ainda mais com uma fake news dessas. Me deixa em paz. Sou apenas mais um menor abandonado…
Depois de dizer isso, ele baixou a cabeça e derramou uma gota. Pode ser impressão minha, Diário, mas acho que foi uma lágrima.