Diário do Bolso

‘Por que você disse aquilo?’

Ah, porque…, porque achei que ia pegar bem, sei lá… Pelo menos, por um dia, vão parar com aquela história dos imóveis que a minha turma comprou com dinheiro vivo

Marc Pascual / Pixabay
Marc Pascual / Pixabay

Diário, hoje de manhã aconteceu uma coisa muito estranha comigo. Muito estranha!

Eu estava sentado no banheiro, soltando uns traques (de manhã, eu pareço o cano de escapamento de uma Romisetta) quando, de repente, Ele falou comigo.

Não, não é Ele-Deus. É Ele-Ele. O belinguéu, o sem-osso, o piu-piu, o bingolim, o balangandã, o Olavo, o varizento.

Pois é, Ele falou. Tava cabisbaixo, como sempre, olhando lá pro fundo do poço, mas, de repente, virou a cabeça na minha direção e perguntou:

– Por que você disse aquilo?

– Tá falando comigo?

– Tem mais alguém aqui? É com você mesmo. Por que você disse que aquilo?

– Aquilo o quê?

– O “imbrochável”.

– Ah, porque…, porque achei que ia pegar bem, sei lá…

– Como é que ia pegar bem, se a maioria do seu público é de conservadores, de evangélicos, de gente que não quer nem saber de educação sexual nas escolas?

– Eles se fazem de santinhos, mas gostam de uma sacanagem.

– Eu sei, mas não em público. Era dia de falar de independência, de pátria, de família, não de mim.

– Pelo menos, por um dia, vão parar com aquela história dos imóveis que a minha turma comprou com dinheiro vivo.

– Tinha outros jeitos de você mudar de assunto. Agora, como vão chamar os seus seguidores? “Brochominions”?

– Pô, não é assim…

– É assim, sim. Porque, quando alguém fala em voz alta que é imbrochável, fica na cara que ele é.

– Fica?

– Fica. Ainda mais que o Exército gastou mais de R$ 33 milhões em Viagra e um monte de general ganhou prótese peniana.

– Mas esses são os outros. De mim, ninguém fala nada.

– Ah, falam, sim. Por exemplo, na página 180 do livro daquela tal de Thaís Oyama, está escrito que você toma Cialis.

– É pro coração, pô!

– Quem vai acreditar nisso?

– Sei lá…

– E pensa bem: como é que a fica a sua moral? Você começou o mandato falando em “golden shower” e vai terminar gritando “imbrochável”?

Leia mais: Ironia, é dizer o contrário do que a coisa é. Por exemplo: ‘Nunca fiz rachadinha’

– Quer que eu fale do quê? De economia? Não dá, pô!

– De qualquer coisa, menos de mim. Ainda mais com uma fake news dessas. Me deixa em paz. Sou apenas mais um menor abandonado…

Depois de dizer isso, ele baixou a cabeça e derramou uma gota. Pode ser impressão minha, Diário, mas acho que foi uma lágrima.

rachadinha

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