Desenvolvimento em Foco

Inteligência artificial, ChatGPT e as virtudes e limites do novo e irreversível cenário

Sabe-se que é importante um ser humano revisar e refinar o produto criado pela tecnologia. Além disso, a avaliação ética das respostas dadas só humanos estão aptos a fazer

Pixabay
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Lançado em novembro de 2022, o ChatGPT (sigla para Generative Pre-Trained Transformer) é um modelo de linguagem baseado em deep learning (braço da inteligência artificial – IA), desenvolvido pela empresa Open AI, organização que tem como foco o desenvolvimento de inteligência artificial.

Uma das principais investidoras é a Microsoft, que injetou U$ 10 bilhões na desenvolvedora do Chat GPT e já começou a agregar as funções da plataforma a seus sites, programas e aplicativos, como o buscador Bing e o Microsoft Teams. Em cinco dias de seu lançamento, o ChatGPT já reuniu mais de 1 milhão de usuários, trata-se da aplicação com crescimento mais rápido da história.

O ChatGPT pode ser utilizado como assistente virtual de dispositivos móveis, sites de comércio eletrônico, chatbots, trazendo informações e respostas “precisas” de maneira rápida e fácil.

Diferente de outros sistemas, essa ferramenta atua com um algoritmo baseado em redes neurais, que procura simular o comportamento de uma rede neural biológica, como o cérebro humano, aprendendo assim como nós. Então, a partir do processamento de um grande volume de informações, permite que seja estabelecida uma conversa com o usuário, buscando compreender o significado das frases, interpretando esses conteúdos, o que resulta em um número infinito de diferentes respostas, desenvolvendo conversas mais complexas do que, por exemplo, em um sistema de chatbot.

Como o sistema ainda está em estágio de desenvolvimento e se baseia em informações da internet, podem ocorrer falhas devido a esta tecnologia não ter como diferenciar se as informações captadas e interpretadas são confiáveis ou corretas. Constantemente, a tecnologia vem sendo atualizada e alimentada com novas informações, buscando evitar mensagens erradas ou imprecisas.

ChatGPT, tecnologia e programadores. E o bicho-papão da automação

Após o lançamento de uma versão gratuita a usuários (novembro de 2022), em fevereiro de 2023, a empresa lançou uma assinatura do ChatGPT para pessoas físicas, com melhorias em relação à versão anterior. No valor de US$ 20 mensais, a assinatura garante a preferência nas respostas e em futuras atualizações do sistema aos seus assinantes, que também podem usar o serviço de forma ilimitada profissionalmente. Ainda não se tem a informação do atual número de assinantes.

O fato de o ChatGPT poder ser utilizado como uma ferramenta de busca, representando uma ameaça ao Google, fez com que a empresa (Google) lançasse sua versão da ferramenta de linguagem inteligente, o Bard. Porém, em seu lançamento, apresentou falhas e logo foi desvalorizado pelo mercado, inclusive derrubando as ações da empresa.

Impacto do ChatGPT nos empregos

Apesar do “encantamento” por parte de empresários, profissionais de diversas áreas e usuários sobre as funcionalidades da ferramenta, existe a preocupação sobre como ela irá  impactar no mercado de trabalho, se substituirá a força e trabalho humana, com isso, cortando empregos.

Porém, ao mesmo tempo que o chat pode substituir algumas das funções desempenhadas por humanos, pode ser útil para automatizar tarefas, liberando tempo para que os profissionais dediquem-se a atividades estratégicas e de maior relevância para a empresa.

Por mais que a ferramenta possa criar textos sobre diversos assuntos a partir de perguntas ou indicações específicas, ela é vista como uma ferramenta auxiliar de escrita, isto é, pode criar um texto simples e um especialista deve revisá-lo e/ou complementá-lo. Por ser uma tecnologia ainda em desenvolvimento, não há garantia da precisão e veracidade das informações, demandando de um profissional para fazer essa verificação final. Além disso, o senso crítico humano, para textos opinativos, é uma ferramenta que o ChatGPT não tem como substituir.

Devido a esses fatores, conclui-se que conteúdos personalizados e autorais devem continuar em destaque em meio ao grande número de textos gerados por inteligência artificial.

Inteligência Artificial pode ser risco à humanidade

Além disso, o ChatGPT tem a contribuir para a educação, da mesma forma como auxilia na escrita. É possível desenvolver conversas em outros idiomas, por exemplo, o que tende a facilitar o aprendizado, principalmente para quem estuda sozinho. Testes do ChatGPT foram realizados em provas de universidades, com bons resultados e em redações para o Enem, obtendo resultados razoáveis.

As questões educacionais relativas ao ChatGPT são bastante relevantes, algo que se deve prestar atenção, pois nem sempre os mecanismos anti-plágio conseguem identificar quando um texto foi escrito por IA. Considerando que sua versão atual já vem sendo utilizada por alunos de diferentes níveis de ensino, é preciso discutir então suas regras e adaptações a modelos de ensino das instituições.

Apesar da preocupação de muitos profissionais, sobre ocasionar corte de empregos, o cenário é positivo quando se fala em otimização de tarefas, para que o profissional tenha maior produtividade, se liberando de funções repetitivas e se dedicando ao planejamento e desenvolvimento de novos serviços.

Segundo Marina Feferbaum, Coordenadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação de Direito da Fundação Getúlio Vargas (Cepi FGV Direito SP), em matéria do Valor Investe de 15/2/2023, a versatilidade de uso faz com que ele seja útil em diversas funções e áreas. Além de responder a perguntas em chatbots, por exemplo, a tecnologia pode atuar na elaboração de textos, cálculos e até em escrever algoritmos em linguagem de programação, realizando não só tarefas repetitivas. Então um profissional pode se utilizar da tecnologia para a produção de conteúdos em menos tempo e então se dedicar a atividades mais complexas.

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Segundo Marina, algumas das aplicações para o ChatGPT executar podem ser: serviços de atendimento e apoio ao cliente, de escrita de texto para veículos de mídia, de orientações médicas em chats, de criação de roteiros de viagem, de reservas de hotéis e de recrutamento de profissionais. Para isso, é necessário “ensinar” a ferramenta a fazer um filtro de determinadas informações, cruzando-as a outros dados. E é nessa tarefa de gerir o caminho para o ChatGPT fazer seu trabalho que aparecem oportunidades aos profissionais.

Junior Borneli, fundador da StartSe, também para o site Valor Investe (15/2/2023), explica que muitas das oportunidades vindas com o ChatGPT são baseadas em aumento de produtividade. Então, um profissional que presta serviços a um cliente pode, com a tecnologia do ChatGPT, atender cinco clientes.

Por exemplo, um gestor de redes sociais otimiza seu tempo com o ChatGPT produzindo os textos para que o profissional possa se concentrar em outras funções, como desenvolver mais postagens ou ainda atender mais clientes. Ele explica ainda que outra área que a atuação do ChatGPT é bem vista é a dos desenvolvedores. Para a construção de uma página que um profissional levaria 10 horas, o ChatGPT pode levar duas, basta o gestor pedir para a ferramenta, informando as características que a página precisa ter.

Falta de transparência e de compromisso com a verdade afetam a IA

Marina Feferbaum reforça que, com a aplicabilidade do Chat GPT, os profissionais se tornarão editores dos serviços desenvolvidos, eles serão responsáveis por abastecer e filtrar as informações dos robôs. Ainda se sabe que falta precisão, que é importante que um ser humano revise o produto criado pela tecnologia, faça esse refinamento do trabalho bruto produzido por ela. Além disso, é importante uma avaliação ética das respostas dadas pela plataforma, coisas que só humanos estão aptos a fazer.

Neste novo cenário, profissionais que souberem trabalhar com tecnologia terão espaço no mercado de trabalho. Saber programação continuará sendo promissor para a carreira. Profissões ligadas ao cuidado humano também serão cada vez mais necessárias, sendo ainda mais valorizadas no futuro, deixando as tarefas automatizadas para as máquinas.

Leo Gmeiner é empreendedor da startup School Guardian, presidente do Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul (Itescs) e pesquisador convidado do Observatório de Conjuntura e Empreendedorismo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (Conjuscs).
Luciano Calchi. Co-founder da Trader Crypto, Vice-Presidente do Instituto de Tecnologia de São Caetano do Sul (ITESCS) e pesquisador convidado do Conjuscs.

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