Em nota técnica a ser publicada na 26ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) tratei da relação entre a Inteligência Artificial (IA) e a Gestão de Pessoas. A íntegra da nota fica disponível em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs.

Aqui uma síntese. Vivemos um momento onde a tecnologia, e principalmente a IA, tornaram-se o centro das atenções, gerando dúvidas sobre o impacto nas relações de trabalho.

A IA têm revolucionado a forma como as empresas operam, proporcionando novas oportunidades e desafios. Na gestão de pessoas, essas inovações têm o potencial de transformar processos tradicionais, melhorar a eficiência, produtividade e otimizar a tomada de decisões baseada em dados.

Uma das principais mudanças trazidas é a automação de tarefas repetitivas e de baixo valor agregado. Isso libera os profissionais de RH para se concentrarem em atividades mais estratégicas, como o desenvolvimento de talentos, a gestão do desempenho e a criação de um ambiente de trabalho saudável e produtivo.

A IA tem sido utilizada no processo de recrutamento e seleção de candidatos, trazendo benefícios significativos. Algoritmos avançados têm a capacidade de analisar grandes volumes de dados, como currículos, perfis de redes sociais e resultados de testes, para identificar os candidatos mais qualificados e compatíveis com os requisitos do cargo.

A utilização no processo seletivo busca eliminar viés e promover a contratação às cegas. Essa abordagem possibilita criar um ambiente que valoriza a diversidade e a inclusão nas organizações. As empresas podem realizar processos seletivos imparciais, livres de padrões e preconceitos, o que resulta na aquisição de excelentes profissionais e na promoção da inovação por meio de diferentes ideias e perspectivas. Essa abordagem oferece um grande potencial competitivo.

Cabe observar que os resultados gerados pelos algoritmos dependem dos dados e pressupostos utilizados na construção. Exemplo é o caso da Amazon, que, em 2014, decidiu aplicar seus algoritmos de IA avançados em seus próprios processos de recrutamento e seleção. Logo ficou evidente o favorecimento da contratação de homens brancos. Isso ocorreu porque as premissas que orientaram a construção dos algoritmos buscavam encontrar profissionais com perfis semelhantes aos dos colaboradores de destaque da empresa, majoritariamente homens brancos, refletindo o perfil dominante na organização.

É importante assegurar que os colaboradores compreendam e se adaptem às mudanças, por meio da promoção da capacitação e conscientização sobre o uso dessas tecnologias.

A introdução pode gerar receios e incertezas entre os colaboradores, como o medo de substituição por máquinas ou a perda de controle sobre as atividades. É crucial oferecer programas de treinamento e desenvolvimento que ajudem na compreensão de vantagens e benefícios da tecnologia, bem como na complementaridade com o trabalho humano. Eles podem adquirir as habilidades necessárias para trabalhar em conjunto com as ferramentas tecnológicas, explorando o potencial de forma colaborativa.

É fundamental criar uma cultura organizacional que valorize a confiança e a transparência. Os colaboradores devem sentir-se seguros para expressar suas preocupações e questionamentos em relação à tecnologia e à IA. Incentivar o diálogo aberto e a participação ativa dos colaboradores na implementação e no desenvolvimento dessas ferramentas pode ajudar a construir um ambiente de confiança mútua e colaboração.

Deve-se abordar questões éticas e de privacidade. Embora essas ferramentas tragam benefícios significativos, deve-se garantir a transparência no uso dos dados dos colaboradores, respeitando a privacidade e a segurança das informações pessoais.

É necessário estabelecer políticas claras e realizar comunicação transparente sobre como os dados serão coletados, armazenados e utilizados. Os colaboradores devem ser informados sobre quais informações serão coletadas, como serão utilizadas e quais serão os benefícios para eles e para a organização. É essencial obter o consentimento antes de coletar e utilizar seus dados, assegurando que estejam cientes dos propósitos e limites do uso dessas informações. Implementar medidas de segurança para proteger os dados contra acesso não autorizado e garantir sua integridade. Isso inclui a utilização de práticas de criptografia, firewalls e outras soluções de segurança de dados. A organização deve adotar uma postura proativa na proteção da privacidade, seguindo as legislações e regulamentações pertinentes, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil.

É essencial realizar avaliações éticas periódicas no desenvolvimento e uso de tecnologias de IA na gestão de pessoas. Isso inclui a análise de possíveis vieses e discriminações nos algoritmos, assegurando a ausência injustiças com base em características como gênero, raça, idade ou origem étnica. A transparência e auditoria dos algoritmos são fundamentais para garantir a equidade e imparcialidade nas decisões.

Ao abordar essas considerações, as organizações podem utilizar a IA de forma responsável e ética, garantindo o respeito aos direitos dos colaboradores e construindo uma cultura organizacional baseada na confiança, transparência e equidade.

Fatores de sucesso no uso da Inteligência Artificial

Apesar das novas tecnologias ajudarem e trazerem resultados, é importante lembrar que em qualquer projeto, as pessoas são o recurso mais valioso para alcançar o desejado. Os líderes não devem se preocupar apenas com os resultados, mas sim com o cuidado e desenvolvimento das pessoas, pois são elas que geram os resultados. É fundamental liderar as pessoas, não apenas se concentrar nos números. Reconhecer o valor humano e investir no crescimento e bem-estar dos colaboradores é essencial para alcançar o sucesso a longo prazo. As novas tecnologias devem ser vistas como ferramentas que potencializam o desempenho e a eficiência das equipes, mas nunca devem substituir o papel dos líderes na motivação, orientação e apoio. Afinal, são eles que impulsionam a inovação, a criatividade e a excelência nos resultados.

Leia também: São Paulo precisa aproximar a inovação das empresas e da sociedade para voltar a ser pujante

Diante das transformações impulsionadas pela tecnologia e IA na gestão de pessoas, é fundamental compreender o seu impacto e adotar uma abordagem ética e responsável. A introdução dessas inovações traz benefícios significativos, como a automação de tarefas repetitivas, a personalização dos programas de capacitação e o uso de dados para uma tomada de decisão mais informada. No entanto, é essencial garantir a transparência no uso dos dados dos colaboradores, respeitando sua privacidade e segurança. A criação de políticas claras, a implementação de medidas de proteção de dados e a realização de avaliações éticas são passos fundamentais nesse processo. Ao estabelecer uma cultura organizacional baseada na confiança, transparência e equidade, as empresas podem aproveitar todo o potencial dessas tecnologias, promovendo o desenvolvimento dos colaboradores e impulsionando o sucesso no ambiente de trabalho atual.

Wilson Andrade. Empreendedor da startup HYOU e ABC Jobs, membro da comunidade de inovação do Grande ABC (ABC Valley) e mentor do programa de aceleração Inovativa Brasil.