Desenvolvimento em Foco

São Paulo precisa aproximar a inovação das empresas e da sociedade para voltar a ser pujante

Entenda quais são os desafios da Frente Parlamentar pelo Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia, Inovação e sua Integração com o Mercado de Trabalho, lançada na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

Bruna Sampaio / Alesp
Bruna Sampaio / Alesp
Evento de criação da frente pela inovação na Assembleia Legislativa em 1° de junho

O artigo que se segue será publicado na forma de nota técnica na 26ª Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Aqui uma síntese da nota. Em 1° de junho, ocorreu o lançamento da Frente Parlamentar pelo Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia, Inovação e sua Integração com o Mercado de Trabalho. O principal objetivo desta iniciativa na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) é o de estruturar e sugerir projetos de lei e políticas públicas e privadas que efetivamente aproximem e aprimorem o relacionamento entre as empresas e o ecossistema de inovação paulista (universidades, parques tecnológicos, laboratórios, incubadoras e aceleradoras de startups entre outras instituições), e desta forma incrementar a competitividade da economia paulista e apresentar soluções inovadoras para problemas em diversas áreas de nossa sociedade.

A frente almeja ter ampla participação de todos os partidos políticos, órgãos de governo, instituições do ecossistema de pesquisa, desenvolvimento e inovação e representantes do empresariado e da sociedade civil como um todo.

A força da Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação no Estado de SP

De acordo com o IBGE, o estado de São Paulo representou 31,2% do PIB em 2020. Esta pujança do PIB é resultado histórico da capacidade do estado em se posicionar no centro da dinâmica econômica em diferentes momentos da história:

  • a) na economia cafeeira, entre o final do século 19 e início do século 20;
  • b) na industrialização, entre 1930 a 1980;
  • c) e, agora, na forte expansão dos serviços, com destaque para o setor financeiro, TI e Comunicação.

Uma das diferenças do novo ciclo que ocorre neste século 21, em relação aos ciclos do século 19 (café) e do século 20 (industrialização pesada), reside no crescimento da importância da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) tecnológica como item de mudanças contínuas e de competitividade das empresas.  

Neste sentido, o estado de SP agrega mais de 2/3 dos investimentos em PD&I no país e 1/4 das instituições de educação superior do Brasil, com várias universidades públicas (USP, UNICAMP, UNESP, UNIFESP, entre outras) e privadas de ponta, bem como diversas escolas técnicas. O Sistema Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é composto por mais de 60 instituições de pesquisa. São Paulo possui mais de 70 instituições do ensino superior, entre públicas e privadas.

O estado de SP também sedia dezenas de parques tecnológicos e institutos de pesquisa nas áreas das Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas, Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, entre outras.

O estado de SP também abrange mais de 30% das startups existentes no Brasil.

Os grandes desafios paulistas

Com a globalização e o conjunto de mudanças estruturais que com ela vieram juntas, São Paulo vem perdendo peso na economia nacional.

Entre 2002 e 2020, a participação do estado de SP no PIB do Brasil caiu de 34,9% para 31,6%. Isto significa que o estado deixou de gerar R$ 230,4 bilhões a cada ano. Nas últimas décadas, o estado vive a necessidade de dar resposta a grandes desafios.

  • 1ºdesafio: revitalizar e modernizar seu parque industrial, combatendo a desindustrialização e incrementando a competitividade deste segmento.
  • 2º desafio: ampliar e modernizar o agronegócio, que já é de peso no estado.
  • 3º desafio: estar na fronteira tecnológica das atividades de serviços (especialmente no caso dos serviços que exigem elevados volumes de recursos e largas cadeias de negócios como são os casos da saúde, educação, finanças, marketing entre outros).
  • 4º desafio: capacitar a mão de obra e gerar empregos de qualidade. Segundo estudo do Fórum Econômico Mundial, nos próximos 5 anos, um a cada quatro trabalhadores (ou seja 23%) deve perder o emprego, ou ser realocado em novo posto, por causa da inteligência artificial e de outras tecnologias digitais.
  • 5º desafio: incluir os segmentos mais vulneráveis.

A P,D&I tem sido considerada por instituições internacionais (tais como o Banco Mundial), estudiosos, empresários, gestores públicos e outros atores sociais, como elemento central da competitividade. Ela guarda relação com o apoio que se dá ao empreendedorismo e à pesquisa básica e aplicada desenvolvidas nas universidades.

A P,D&I é função também de como as universidades “dialogam”, “interagem” e “cooperam” com as empresas (da indústria, do comércio, dos serviços e com o agronegócio), já que são elevados os custos das inovações tanto para as empresas quanto para as universidades.

Daí a importância da “INOVAÇÃO ABERTA”, na qual as universidades, as empresas, as startups, os governos e outros agentes ajudam a promover e compartilhar a inovação.

Entretanto, por ter sido o palco da industrialização fordista, em muitas empresas do estado de São Paulo, a P,D&I se deu de forma verticalizada. Neste modelo, a grande empresa ditava “de cima para baixo” as inovações para as demais empresas e organizações da cadeia produtiva: as matrizes no exterior ditam as mudanças para as subsidiarias no Brasil. 

Consequentemente, é baixo o diálogo e a interação entre, de um lado, o ecossistema de inovação paulista (tendo as universidades no centro); e, de outro, e as empresas.

Em vários setores da indústria, é bem pequeno o envolvimento das empresas com o ecossistema de inovação local/regional/paulista: automobilística; máquinas e equipamentos; eletrônicos; química; vestuário; alimentação, entre outros.

Tome-se o caso do setor financeiro, que hoje é um dos setores que mais investem em tecnologia no Brasil e no mundo.

Entre 2015 e 2019, no Brasil e no mundo, o setor bancário é o setor que teve maior participação nas despesas com tecnologia, com cerca de 13% do total dos gastos.

Este percentual de 13% no setor bancário é bem superior aos setores que se seguem, como comércio, telecomunicações, seguros e serviços de saúde, todos com percentuais que variam entre 5% e 10% (Pesquisa Febraban).

Apesar de todo o elevado investimento em tecnologia, não há programas específicos que envolvam parcerias entre os bancos e as universidades, que pudessem ter como objetivo o estímulo e o fomento, por exemplo, à criação de fintechs ou à formação de recursos humanos com as exigências de perfil dos bancos. É verdade que os bancos procuram constituir as suas próprias aceleradoras de fintechs: Cubo (Itaú), Inovabra (Bradesco), Lab 033 (Santander).

Mas tudo isto sem um envolvimento mais próximo com as universidades para a geração e execução de programas específicos para o fomento de fintechs.

É possível também destacarmos o conhecido distanciamento entre as universidades e as indústrias e, sobretudo, com as médias e pequenas empresas.

O país e o estado de São Paulo possuem fontes de recursos para a inovação, mas o distanciamento entre universidades e empresas contribui para que não ocorra um melhor aproveitamento dos recursos. Entre as fontes de recursos estão: Finep, Fapesp, Leis de Incentivo, Bancos de Fomento.

No ano de 2020, essas fontes de recursos para financiar pesquisas no Brasil totalizaram quase R$ 5 bilhões. Entretanto, uma parte significativa destes recursos não é aproveitada. Muitas empresas sequer sabem das oportunidades.

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Apesar da enorme infraestrutura na área de PD&I do estado de SP, bem como da existência de um grande contingente de recursos humanos qualificados, ainda há muito a avançar no campo das políticas públicas e privadas do estado.

Existe, há décadas, uma quase completa desarticulação desta imensa infraestrutura e recursos humanos do estado. Isto contribui em muito para que universidades continuem distantes das empresas e da sociedade.

Assim, é fundamental que o sistema paulista busque:

  • Incrementar a competitividade regional e, assim, interromper a queda de participação do estado no PIB;
  • Atrair investimentos;
  • Integrar os diversos setores da economia do estado (indústria; educação; saúde; finanças; agronegócios; comércio; construção civil, entre outras);
  • Combinar as ações do Governo do Estado de SP com as do Governo Federal na área da P,D&I;
  • Gerar empregos de qualidade.
  • A partir daí, a pergunta que fica é: como a “Frente Parlamentar Paulista pelo Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e sua Integração com o Mercado” pode ajudar a promover “a ponte” entre o ecossistema de inovação e a sociedade?

No caso específico das relações entre o ecossistema de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação e a sociedade, queremos que a Frente Parlamentar incentive:

  • Uma P,D&I que ajude, de maneira mais sistemática e efetiva, a busca de soluções INOVADORAS para problemas concretos do cotidiano da população, em especial em relação aos segmentos mais vulneráveis, em áreas como habitação, saúde, transporte, educação, lazer, geração de empregos, entre outras.
  • Uma Política de geração de empregos qualificados para a população, especialmente as camadas mais vulneráveis.

Desta forma, espera-se ao final da jornada da Frente Parlamentar:

  • A construção de um Projeto de Lei interpartidário que busque APROXIMAR / MELHORAR “A PONTE” entre o ecossistema de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Paulista (e no centro deste ecossistema as universidades) , de um lado; e as empresas e a sociedade, de outro.
  • O debate e a construção de Políticas Públicas e Privadas que contribuam para melhorar esta “PONTE” entre, de um lado, o ecossistema de Pesquisa, inovação paulista; e, de outro lado, as empresas e a sociedade.

Estamos confiantes que a aproximação de atores e instituições do ecossistema de inovação com as empresas e a sociedade incrementará fortemente a competitividade da economia paulista.


Ana Carolina Tosetti Davanço – Economista. Mestre em Administração pela USCS. Assessora Parlamentar

Luiz Cláudio Marcolino – Economista. Ex-Presidente do Sindicato dos Bancários de SP. Deputado Estadual por SP (PT)