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O significado do Dossiê do Panamá

Cresce a consciência de que quem procura estas offshores, na maioria das vezes, pertence ao 1% mais rico da humanidade. E fazem isto para fugir ao pagamento de impostos

memória/ebc

O Dossiê, no fim de contas, não é “do Panamá”, mas sim da offshore Mossack Fonseca

Uma boa parte da mídia conservadora tem procurado centrar a atenção despertada pelo assim chamado, entre outros nomes, Dossiê do Panamá no círculo em torno do presidente russo, Vladimir Putin (já que ele não está citado nominalmente), e da chamada nova aristocracia chinesa, em torno do presidente Xi Jin Ping. Mas apesar disto fica a cada dia mais evidente que o estrago é muito maior.

A primeira vítima concreta dos “Panama Papers” foi o ex-primeiro ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlangsson, forçado a renunciar devido à descoberta de que ele fora dono de uma offshore que lucrara com a quebra dos bancos islandeses em 2008. Nada “ilegal”, mas inadmissível para um primeiro-ministro.

Mais recentemente, o círculo tem se fechado em torno do primeiro-ministro britânico, David Cameron, e parte de sua família. Ainda não se sabe, neste caso, qual será a extensão do estrago, mas algum estrago haverá.

Porém o alcance do dossiê vai além.

Em primeiro lugar, há a questão do nome. O dossiê, no fim de contas, não é do Panamá, mas sim da offshore Mossack Fonseca, que soe ter sede naquele país da América Central, mas tem raízes – ou tentáculos –, em mais de cem outros países pelo mundo afora. Aliás, o Panamá lucra muito pouco por albergar esta offshore.

Em segundo lugar, cresce a consciência de que quem procura estas offshores, na maioria das vezes, pertence ao 1% mais rico da humanidade. E fazem isto para fugir ao pagamento de impostos. Quer dizer: estão sonegando, em seus países de origem, não apenas impostos, mas o que eles significam: melhores serviços para a população, em termos de saúde, educação, segurança, transporte etc., e isto não apenas nos países do terceiro mundo ou emergentes, mas também em países considerados ricos.

Em terceiro lugar, há a questão da democracia. Estes fundos subtraídos ao controle de seus países de origem, em parte, são utilizados por esta elite malévola para financiar a direita em escala mundial, favorecendo políticas anti-povo, anti-soberania popular, a favor do império e da inimputabilidade dos mercados financeiros globais e nacionais.

Esta subversão acontece no mundo inteiro, do Ártico à Antártida e do Japão ao Alasca, no sentido leste-oeste, é claro.

Por aí se pode entender melhor o drama brasileiro, quando vemos uma presidenta sabidamente honesta correndo o risco de ser barrada em sua função legítima e legal por um bando quadrilheiro de assaltantes do erário público, no Congresso mais venal de nossa história recente. Estes parlamentares foram eleitos com a maior influência dos capitais vampirescos que querem sugar tudo das veias abertas de nosso país, a começar pelo pré-sal, com planos subsequentes de assaltar os fundos destinados à educação, saúde e outras finalidades precípuas do Estado.

Com apoio da mídia golpista, é claro, estimulado por um vice sequioso de ser o novo Café Filho do século 21 e açulado por representantes do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal (alguns, não todos) sequiosos por entrar para a história como os novos Silvérios dos Reis que levaram o novo Tiradentes à prisão e ao martírio.