Apesar de novo programa, Metrô de SP ainda tem tumulto

Trens lotados, empurra-empurra e muita irritação. Reportagem da Rede Brasil Atual foi conferir um dia de quem usa o novo sistema de embarque do Metrô

Plataforma superlotada irrita usuários (Foto: Rede Brasil Atual/Suzana Vier)

São seis horas da tarde, horário de pico em São Paulo. O trânsito está caótico na superfície e no subterrâneo mudanças tentam reduzir também o caos comum no Metrô da capital paulista. Há uma semana, a companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) implantou o programa “Embarque Melhor”, na estação Sé para facilitar o embarque para a Zona Leste da cidade, cuja linha transporta 80 mil passageiros por hora em horário de pico, das 18h às 19h30.

A reportagem da Rede Brasil Atual foi conhecer de perto as alterações que causaram mais tumulto que o habitual no início de sua implantação nos dias 28 e 29 de setembro. O Metrô alega que 79% dos usuários aprovam as mudanças.

Partindo da estação São Bento, a reportagem chegou à estação Sé, entrocamento das linhas Leste-Oeste e Norte-Sul do Metrô. Logo na entrada, uma infraestrutura digna de um show: um número maior de funcionários que o normal usa um arsenal sofisticado de comunicação, patinetes elétricos, além de enormes placas indicativas tentando controlar o número de pessoas que desce e tem acesso à plataforma de embarque Corinthians – Itaquera, responsável por servir a Zona Leste.

“Sou motorista, tive que ficar sem dirigir hoje”, disse de Orlando Matias, que deslocou o braço no embarque do Metrô

Na plataforma de embarque, dezenas de outros funcionários orientam e controlam quem vai entrar nas baias, que já existiam, ou vai esperar em filas que vão se formando, aumentando e irritando quem chega e espera um novo embarque. A rejeição ao novo procedimento do Metrô está estampado no rosto de uma moça, que mexe a boca de um lado para o outro, nervosamente, franze a testa e mexe a cabeça como quem responde “não” a uma pergunta que só ela sabe qual é. De repente, ela solta para quem quiser ouvir: “Isso é uma palhaçada. Demora a mesma coisa. Tem que ter mais trens, isso sim”, diz Alessandra Vieira, indignada com a demora e o tumulto que ainda persiste.

Um trem chega, a multidão dá passinhos minúsculos. O trem parte, a chateação em volta aumenta. Um novo trem se aproxima. Novos passinhos, mas pouca coisa muda. Um senhor atrás, Orlando Matias, reclama que no dia anterior teve o braço deslocado durante um tumulto para entrar no vagão. “Sou motorista, tive que ficar sem dirigir hoje”. O segundo trem vai embora e ainda nem chegamos à baia. Finalmente quando o terceiro chega, o funcionário autoriza a entrar no local mais próximo ao embarque, onde um novo funcionário, à beira dos trilhos, tenta manter todos em lugar seguro. A essa altura, mesmo longe do local onde o próximo trem vai parar, a bolsa já está tão grudada no estômago que a agenda dentro dela começa a incomodar, mas nem pensar em abrir bolsa numa hora dessas.

No quarto trem, finalmente é possível entrar. A superlotação da plataforma agora continua dentro do vagão. Braços e estômago ficam bem próximos. Mas não são os meus braços que estão perto do estômago, são os braços dos vizinhos de trem. Se alguém à direita ou à esquerda se mexer, sem dúvida vou levar uma cotovelada no meio do estômago. A essa altura nem é preciso me segurar, porque se houver uma parada repentina, nem vou sentir. O trem está tão lotado que não há espaço para cair.

Lotação máxima

Estacao Pedro II

Todos os dias, no horário de pico, os trens já chegam lotados à Estação Sé. Algumas pessoas descem para acessar outra linha, mas boa parte continua e o espaço para quem entra é pequeno. É comum  as pessoas pegarem o sentido contrário às suas casas, para na volta já estarem no trem e não enfrentarem a luta na Sé. Quem entra primeiro nos vagões também têm que ter força no braço para chegar à porta do outro lado e se segurar firme para não ser jogado para fora, enquanto os outros passageiros entram. “O embarque melhorou, mas a lotação continua a mesma dentro dos vagões”, diz Luciana Rente. Aparecida Leme considera que o tumulto é resultado da falta de educação dos usuários. “Falta conscientização por parte de quem usa o serviço”. Duro foi anotar as opiniões e nomes com o braço tão colado ao corpo.

Com trens lotados, empurra-empurra e muita irritação, é comum haver discussões entre usuários. Cíntia Cristina Francisco da Silva, relata, enquanto esperava na baia, que presenciou uma discussão terrível no dia anterior (30), dentro do trem. “Uma senhora que estava esperando na estação Pedro II (primeira estação depois da Sé), quis entrar mesmo sem espaço. Ela até estava certa porque já tinham passado cinco trens e ela não entrava. Mas, deu briga quando ela empurrou todo mundo”, contou.

Na estação Tatuapé, quinta estação depois da Sé, o vagão vai ficando menos cheio e já é possível perceber os limites do próprio corpo. Na volta para a Sé, no contrafluxo, os usuários não enfrentam problemas com lotação.

Música

De volta à estação Sé, fui descobrir o que a usuária Helena Lisboa quis dizer quando comentou: “As pessoas não querem ficar ouvindo música, queremos ir pra casa”. Helena, na terça-feira (29) tentou usar o Metrô, mas desistiu “porque tava tudo lotado”.

Seis na Sé

No piso em que ficam as catracas de entrada e saída da estação, uma dupla sertaneja tenta chamar a atenção de quem passa por ali. A intenção do novo programa cultural “Seis na Sé” é que as pessoas ouçam música enquanto esperam o horário de pico passar. A música é animada, mas as pessoas param rapidamente, olham a novidade e correm para seu trem. “Eu correndo, não dá tempo de ouvir música”, diz uma senhora.

A nova operação “Embarque melhor”, de acordo com as pessoas ouvidas, parece que não transformou a viagem de Metrô em São Paulo num percurso melhor.

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