Com maior rejeição do país, Yeda Crusius tenta criar mundo paralelo

Em entrevista no Roda Viva, governadora tucana apresentou uma interpretação peculiar sobre desaprovação de seu governo constatada em pesquisa

Yeda, no Roda Viva, se disse vítima do “mercado de escândalos” (Foto: Jefferson Bernardes/Palácio Piratini)

“Em outro mundo”. Esse foi o título da nota publicada pela colunista política do jornal Zero Hora, Rosane Oliveira, para definir a performance da governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), na segunda-feira (5) à noite, no programa Roda Viva, da TV Cultura. A governadora tucana apresentou uma interpretação peculiar sobre o resultado da pesquisa Ibope, publicada por Zero Hora, que revelou péssimos números sobre o seu governo.

Para Yeda, a pergunta feita pelo Ibope relativa ao seu impeachment tratava sobre se os entrevistados estavam ou não de acordo com o “encaminhamento do processo de impeachment“. Segundo Yeda, os 62% que responderam “sim” não estariam apoiando o impeachment, mas sim “as investigações”.

Não é o que aparece publicado na pesquisa. A pergunta em questão foi a seguinte: “Você é a favor ou contra o impeachment da governadora Yeda Crusius, ou seja, o seu afastamento do cargo?”

Denúncia do MPF
Para relembrar o teor da denúncia do Ministério Público Federal, aceita pela Justiça Federal, que apontou a existência de uma quadrilha que agia no Detran:

“Os denunciados compuseram organização criminosa que operou no Estado do Rio Grande do Sul voltada à prática de diversos delitos de ‘colarinho branco’. A ‘societas delinquentium’ restou formada pela associação perene e estável dos denunciados, integrantes de diferentes núcleos estatais e diversas esferas privadas, no objetivo consciente e deliberado de perpetrar, continuadamente, sob diversas formas e com a máxima lucratividade possível, as condutas penalmente típicas apuradas em face da Administração Pública e do Erário”.

Em outro exercício de contorcionismo da verdade, a governadora também disse, no primeiro bloco do programa, que a Operação Rodin investigou “a Universidade Federal de Santa Maria” e que o contrato com o Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran-RS) seria apenas “um entre centenas” (relembre o teor da denúncia no box abaixo).

Indagada pelos jornalistas sobre os números da pesquisa, Yeda Crusius usou e abusou de evasivas. Também pudera. O governo tucano no Rio Grande do Sul apresenta os piores índices de avaliação do país.

Dos entrevistados, 74% desaprovam o modo como Yeda Crusius governa e 62% são a favor do impeachment da governadora. Consideram o governo tucano ruim ou péssimo 64%, enquanto 60% disseram que não votam em Yeda Crusius (PSDB) de jeito nenhum.

O desempenho eleitoral da governadora oscila entre 4% e 5%. Em pesquisas anteriores, realizadas pelos institutos Datafolha e Vox Populi, entre março e agosto deste ano, ela oscilava de 7% a 9%.

Os suspeitos

Confrontada com esse cenário, Yeda disse que está sendo “vítima de um mercado de escândalos” e levantou suspeitas sobre a atuação do Ministério Público Federal, da Polícia Federal, do presidente da Assembleia Legislativa, Ivar Pavan (PT), e do ministro da Justiça, Tarso Genro (PT).

Essas reclamações mereceram um comentário irônico do editor de Política de Zero Hora, que participava do programa: “Pelo jeito, todas as autoridades são suspeitas no Rio Grande do Sul, menos a governadora”.

Os jornalistas que participaram do programa questionaram também a afirmação de Yeda, segundo a qual o que a população gaúcha quer não é o impeachment, mas sim investigação das denúncias. Ocorre que a base parlamentar da governadora na Assembleia está movendo fundos e mundos para barrar as investigações na CPI da Corrupção e para enterrar rapidamente o processo de impeachment que tramita no Legislativo.

A relatora da Comissão Especial do Impeachment, deputada Zilá Breitenbach (PSDB), concluiu rapidamente sua “análise” sobre o pedido de afastamento da governadora e recomendou que o processo seja arquivado. O parecer de Breitenbach foi entregue na segunda-feira (5) ao presidente da Comissão, deputado Pedro Westphalen (PP), líder do governo. Todos os movimentos da base política do governo tucano andam na direção contrária do que Yeda afirmou no Roda Viva: o objetivo principal é dificultar ao máximo as investigações.

A governadora também foi questionada sobre o apoio discreto que vem recebendo de lideranças nacionais tucanas como os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves. Serra preferiria, segundo rumores, um cenário mais “amigável” no Rio Grande do Sul e prefere que o PSDB apoie no Estado uma candidatura do PMDB. A ideia de ter que compartilhar o palanque com Yeda Crusius e seus elevadíssimos incides de rejeição não é exatamente o sonho de consumo do governador de São Paulo.