Base de Yeda garante arquivamento de impeachment

Notas fiscais apontam que estado bancou reforma da casa da governadora tucana

Yeda Crusius em apresentação dos novos integrantes da Brigada Militar (Foto: Itamar Aguiar/Palácio Piratini)

Na quinta-feira (8), no mesmo dia em que a imprensa gaúcha publicava notas fiscais de compras feitas pela governadora do estado, com recursos públicos, para reformar e mobiliar sua casa, Yeda Crusius publicava em seu blog:

“O melhor modo de reduzir e evitar a corrupção é dar eficiência e transparência aos gastos feitos através de dinheiro público. Esse é o modelo de governo que por decisão política temos, pactuado com a população que nos elegeu, o governo de gestão, decisão política de barrar a corrupção na origem: as dificuldades de uma máquina pública ineficiente, lenta e cheia de intermediários”.

No mesmo dia, os deputados da base do governo que participam da Comissão Especial do Impeachment decidiram enterrar o processo. Sem que a Comissão tivesse se reunido uma única vez para analisar e debater os documentos que embasam o pedido de impeachment da governadora Yeda Crusius (PSDB), feito pelo Fórum dos Servidores Públicos, os deputados governistas aprovaram o arquivamento do processo, por 16 votos a 0, sob o comando da deputada Zilá Breitenbach (PSDB), relatora da comissão, e de Pedro Westphalen (PP), presidente. Os deputados de oposição se retiraram da votação em protesto contra a falta de debate na comissão e contra os atropelos regimentais de última hora.

Os parlamentares yedistas não se sensibilizaram com o resultado das últimas pesquisas que apontaram que a maioria da população defende a investigação das denúncias de corrupção. A falta de sensibilidade adquiriu ares de deboche, pois ocorreu justamente no dia em que a sociedade gaúcha tomou conhecimento de que a governadora usou dinheiro público para comprar móveis, colchões, pufes, entre outros utensílios para mobiliar sua casa.

Segundo a nota oficial divulgada pelo governo do estado, trata-se de “bens e serviços necessários à habitabilidade do local onde o governante reside”. Nas páginas dos jornais, sites e nos espaços de rádio, leitores, ouvintes e internautas começaram a perguntar: Yeda Crusius não tem dinheiro para comprar um puff? Por que o Estado precisa fazer essa compra? Isso é exemplo de gestão moderna e eficiente? Se não há nada de irregular nestas compras, por que o governo do estado escondeu o assunto até hoje? Se não há nenhum problema, por que os pedidos de informações que partiram da Assembléia Legislativa não foram respondidos prontamente? Isso é exemplo de transparência?

Essas reações não impediram que a governadora Yeda Crusius mandasse – ao contrário do que disse em recente entrevista no programa Roda Viva – enterrar as investigações sobre as inúmeras denúncias de corrupção que pesam sobre as costas dos atuais ocupantes do Piratini.

O governo tucano aposta na eficácia da lógica da naturalização do absurdo que vem sendo empregada há meses para responder a uma sucessão de escândalos. Lembrando alguns deles:

2007

Polícia Federal e Ministério Público denunciam esquema de fraude no Detran com um prejuízo de R$ 44 milhões para o Estado. Dirigentes da autarquia e de outros órgãos do governo são presos.

2008

– O vice-governador Paulo Feijó (DEM) gravou uma conversa com o então chefe da Casa Civil, Cezar Busatto (PPS), onde este, entre outras coisas, disse que empresas públicas são utilizadas para fazer caixa de campanha para partidos da base do governo.

– O então secretário de Planejamento, Ariosto Culau, saiu de uma entrevista coletiva que anunciava o resultado de investigações sobre a fraude no Detran e foi tomar um chopinho com Lair Ferst, ex-coordenador da campanha de Yeda e um dos principais acusados de envolvimento na fraude. O encontro foi flagrado por jornalistas e custou a cabeça de Culau.

– O ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, ameaçou voltar à CPI que ocorria na Assembléia para denunciar o uso de recursos públicos para pagar gastos pessoais da governadora.

2009

– Em depoimento ao Ministério Público Federal, Lair Ferst revela detalhes sobre o uso de caixa dois, caixa três e desvio de recursos na campanha da governadora.

– O Ministério Público Federal entra com ação de improbidade administrativa contra Yeda Crusius e mais oito pessoas, acusando-as de integrar uma quadrilha que agiu no Detran para desviar recursos públicos.

Vitória de Pirro

A governadora Yeda Crusius ostenta os piores índices de avaliação da história do Rio Grande do Sul. Poucas horas antes da sua base parlamentar votar pelo arquivamento do impeachment, o resultado de um novo levantamento foi divulgado. O Comitê Fora Yeda divulgou o resultado do Julgamento Popular sobre as denúncias de corrupção envolvendo o governo estadual. Ao todo, 92.520 pessoas participaram do processo. A opção “culpada” foi assinalada por 86.948 (94%) contra 4.626 (5%) da opção inocente. O número de votos brancos ou nulos foi de 946 (1%).

Após a aprovação do parecer da relatora, que é presidente estadual do PSDB, o pedido de impeachment irá agora para o Plenário da Assembléia, onde Yeda também tem maioria. O governo tucano deve vencer ali também, trata-se de uma vitória de Pirro. O clima de indignação contra o comportamento dos atuais ocupantes do Palácio Piratini é cada vez maior. O desgaste da governadora e de seus aliados, também.