No dia D para voo solo, PSB promete fidelidade a Dilma Rousseff em 2014

Partido aposta em consolidar projeção nacional conquistando até 500 prefeituras, mas garante que governador Eduardo Campos não disputa o Planalto agora; acirramento com PMDB é esperado

“Nossa posição é de ajudar Dilma a fazer um bom governo”, diz o governador de Pernambuco (Foto: Roberto Stuckert Filho. Arquivo Planalto)

São Paulo – Disposto a conquistar até 500 prefeituras entre hoje (7) e o próximo dia 28, o PSB garante que não programa voo solo para 2014 e que estará ao lado de Dilma Rousseff na disputa pela reeleição. Nos próximos dois anos, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, porém, continuará a ser constantemente questionado sobre suas intenções nacionais. Por ora, ele garante que segue na base do governo comandado pelo PT, embora restem dúvidas sobre em qual posição irá querer inserir seu partido.

Além de tentar garantir já no primeiro turno a vitória em Belo Horizonte, o PSB tem como desafio para este domingo consolidar o nome de Geraldo Julio como grande favorito na disputa do segundo turno em Recife. Nos cálculos dos dirigentes da sigla, entre 450 e 500 prefeituras passarão a ser administradas por socialistas, em torno de 8% do total de municípios e ao menos 140 a mais que o obtido em 2008. Em relação a 2000, se confirmada a projeção, será um crescimento próximo de 300%.

O desempenho pode ratificar a expansão de um partido que soube capitalizar os bons frutos do lulismo e do momento político nacional. Em 2010, o PSB passou de três para seis governadores (Amapá, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Pernambuco e Piauí) e conquistou quatro cadeiras no Senado e 31 na Câmara. Agora, lança candidatos em 11 capitais. “Nós temos a perspectiva de ganhar no primeiro turno em Belo Horizonte e em Recife e, no segundo turno, em Curitiba, Cuiabá, Porto Velho, Macapá, Fortaleza, Aracaju e João Pessoa”, avalia o primeiro Secretário Nacional do PSB, Carlos Siqueira, em entrevista publicada na página do partido. “De modo que eu espero que nas próximas eleições nós tenhamos essa possibilidade – ou essa decisão, porque a possibilidade existe – de termos candidatos em todas as capitais e em todas as cidades onde existe o segundo turno.”

Eduardo Campos, sempre curinga

Dono de uma das melhores taxas de aprovação entre os chefes do Executivo nos estados, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, voltou a desconversar sobre seus planos para 2014 em entrevista publicada neste fim de semana pela revista Carta Capital. “Nossa posição é de ajudar a Dilma a fazer um bom governo e a disputar outro mandato. Mas antecipar esse debate é um desserviço ao país”, diz, argumentando que é preciso garantir a estabilidade em um momento de dificuldade provocado pela crise econômica. “Não estou pensando em eleição de 2014 e muito menos em dobradinha, estou pensando no Brasil. E quem pensar no Brasil, terminadas as eleições municipais, vai ajudar a presidenta Dilma Rousseff a fazer um bom trabalho pelo país.”

Com bom trânsito entre partidos de oposição ao governo do PT, incluindo o senador tucano Aécio Neves (MG), Campos terá de gastar muita saliva para convencer amigos e desafetos de que seus planos em um futuro próximo não passam por Brasília. Ou, ao menos, pela cadeira mais cobiçada da capital. O crescimento do poder do PSB naturalmente provoca a necessidade de reacomodação dentro da ampla coalizão que apoia Dilma.

“O PSB veio crescendo nas asas do lulismo. Isso é muito claro, se você olha pra trajetória do governador Eduardo Campos, em Pernambuco, mas também acho que se aplica ao caso do governador Cid Gomes, no Ceará: são setores que se alinharam com o lulismo, tinham força regional, sobretudo no Nordeste”, diz o cientista político André Singer, professor da USP e autor de Os sentidos do lulismo, em entrevista concedida em setembro à RBA

“O fenômeno novo é que se criou uma certa rivalidade entre PT e PSB”, completa. Nas eleições municipais deste ano, as duas siglas romperam antigas parcerias em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte. Na capital mineira, Marcio Lacerda (PSB) pode garantir hoje a reeleição com o apoio do PSDB e contra Patrus Ananias, ex-prefeito alçado de última hora à disputa. Na capital pernambucana, após decidir lançar candidato próprio, Campos caminha para fazer de Geraldo Julio o vencedor da primeira etapa, mas é provável que exista a necessidade de disputar uma nova rodada. E na capital cearense, Roberto Cláudio (PSB) e Elmano de Freitas (PT) têm tudo para protagonizar o segundo turno

“Pode tanto ser o início de um movimento de separação, quanto pode ser uma oscilação dentro de uma aliança que vai se manter”, avalia Singer. “Eu diria que o PSB talvez esteja procurando mais espaço no arranjo partidário. Até aqui, é isso. Há indicações – mas isso precisaria mais tempo pra comprovar – de que o lugar buscado pelo PSB é um lugar parecido ao do PMDB.”

PMDB que deve sair diminuído destas eleições. Antes com forte capilaridade nas cidades do interior do país, herança dos tempos do bipartidarismo da reta final da ditadura (1964-85), a sigla de José Sarney e Renan Calheiros vê crescer eleição após eleição o poderio de outras legendas. 

Em 2008, peemedebistas garantiram vitória em seis capitais e em outras 1.132 prefeituras. Agora, devem vencer no Rio de Janeiro e em Boa Vista, além de terem chances de disputar o segundo turno em Campo Grande e Belém. “Nas capitais tivemos problemas para apresentar candidaturas, porque tivemos que abrir mão para apoiar alguns aliados”, argumentou à Reuters o presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), que acredita, porém, que a sigla conseguirá eleger ao menos o mesmo número de prefeitos de 2008. “Nessa eleição ficou muito claro que candidatos novos têm projeção maior. É a eleição do novo. Isso é um sinal (para os partidos) que tem que projetar novas lideranças”, diz o parlamentar, no Senado há uma década e na política profissional há três. 

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