PDT, terceiro colocado, anuncia apoio ao PSB em Fortaleza, e reforça disputa periferia-centro

Petista Elmano de Freitas levanta o debate sobre a área preferencial do adversário Roberto Cláudio, e acirramento PT-PSB continua

Elmano criticou Ciro Gomes, ex-ministro e irmão do governador Cid, pela postura de acirramento com o PT (Foto: Eduardo Guimarães. Campanha)

Fortaleza – O candidato a prefeito de Fortaleza pelo PT, Elmano de Freitas, escolheu um tema caro ao adversário para iniciar a campanha no segundo turno. Enquanto alianças vão sendo costuradas, a saúde pública aparece na fala do postulante mais votado no primeiro turno, com 25,4% da preferência do eleitorado. Elmano anunciou nesta primeira semana da nova fase da campanha que sua meta será implantar mais Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e contratar mais funcionários para a área. Segundo Elmano, a atual administração, da petista Luizianne Lins, já teria demonstrado que tem a saúde em atenção especial, triplicando as equipes de Programa de Saúde da Família (PSF) e inaugurando o Hospital da Mulher. “Vamos continuar aprimoando a proposta”, garantiu ele. 

Elmano mira no embate direto com seu adversário, o médico e deputado estadual Roberto Cláudio (PSB, 23,3% dos votos no primeiro turno). Até agora as duas UPAs em funcionamento na capital cearense foram abertas e  são mantidas pelo governo do estado, de Cid Gomes, aliado de Cláudio. Ele também é crítico à forma que foi inaugurado, em agosto, o Hospital da Mulher, um gigantesco complexo hospitalar, ainda aguardando pleno funcionamento.

Mais do que a prioridade de proposta, o início do segundo foi será marcado pela busca de apoio do terceiro colocado, o PDT, e pelo embate PT versus PSB que tem marcado a eleição deste ano país afora. Na quinta-feira (12), após uma longa semana de conversas, o PDT anunciou que apoiará Cláudio, mas deixou o candidato derrotado Heitor Férrer livre para definir sua posição. Os petistas minimizam a definição, afirmando que não será tão simples ao adversário absorver os 262 mil votos obtidos por Férrer, que deve se manter longe dos palanques dos ex-adversários para preservar a imagem de opositor ao governo Cid Gomes (PSB) na Assembleia e por ser amparado por vereadores de seu partido que fazem oposição ao PT na Câmara Municipal. Essa é a postura que espera Elmano de Freitas. “Com o PDT aqui nós percebemos três posições: uma de apoio a nossa candidatura, outra de apoio ao nosso adversário e uma com o candidato (Heitor) manifestando uma provável neutralidade”, disse ele, antes da definição pró-PSB.

Para o cientista político e historiador Francisco Moreira Ribeiro, foi o candidato do PDT, com mais de 20% dos votos, a grande novidade no primeiro turno. “Durante todo o processo ele se destacou em função de ser o diferencial”, afirma Moreira Ribeiro. Tanto que até agora todas as análises sobre o resultado do segundo turno passavam pela postura que Férrer e seu partido adotariam. Sua colocação no primeiro turno contrariou todas as pesquisas anteriores, onde ele aparecia em quarto. “O resultado agora vai depender de como a população vai ver a derrota de Heitor Férrer, que foi um jogador importante que, ainda que não transfira votos, influenciará na avaliação da população sobre sua derrota”, afirma Moreira Ribeiro.

No Ceará o PDT é controlado pelo deputado federal André Figueiredo, que chegou a ser secretário-executivo do Ministério do Trabalho com o ex-ministro Carlos Lupi. Figueiredo é de grupo oposto ao do atual ministro, Brizola Neto, escolhido por Dilma Rousseff para suceder Lupi. Outra figura de destaque no PDT local é a deputado estadual Patrícia Saboya, ex-mulher de Ciro Gomes, que no início da semana já havia anunciado apoio a Roberto Cláudio. 

A favor do candidato aliado a Cid Gomes pode contar o fato de o pedetista ter tido respaldo de parte significativa do eleitorado de classe média, mesmo segmento no qual o candidato do PSB se saiu bem. Moreira Ribeiro opina que “pelo que se desenhou, a disputa será entre periferia e bairros de classe média. Houve um erro da Luizianne Lins (atual prefeita, do PT), que não valorizou em nenhum momento o papel que a classe média teria no processo. Mesmo tendo constatado insatisfação, só no final foi que ela retomou questões importantes como a limpeza urbana, manutenção das ruas, recuperação de certos equipamentos mais próximos da classe media. Mas, quando se administra uma cidade, não se pode pensar dessa forma. Tanto que a avaliação dela só veio a melhorar no final da campanha do primeiro turno.”

Ele considera que o resultado do primeiro turno em Fortaleza foi o esperado. “Havia expectativa de que os dois candidatos amparados pelas máquinas institucionais seriam os que chegariam à frente”, analise ele, ressalvando que “os dois candidatos que passaram não são novidade exatamente por representarem as maquinas institucionais, e portanto fizeram uma disputa que confundia o eleitor, os dois grupos estava juntos em outros momentos recentes e de uma hora para outra romperam.”

Elmano admitiu ser “importante a aliança nacional” de ambas as siglas no governo Dilma Rousseff, e afirmou que “defendo que ela se mantenha”. Mas, quando falou da relação local, não poupou críticas a uma das lideranças expressivas do PSB, o ex-ministro e ex-deputado Ciro Gomes, irmão do governador. “Em Fortaleza o problema foi que o governador delegou a articulação política a Ciro Gomes, e ele é anti-petista, sempre foi contrário à aliança com o PT. A ação de Ciro facilitou”, afirmou Elmano, referindo-se à aliança local entre as siglas, que desde 2004 assegurou dois mandatos tanto para Luizianne Lins frente à prefeitura quanto para Cid frente ao Estado.  

Desde a manhã de quinta-feira a assessoria do PSB foi contatada por telefone e por e-mail, e ficou de enviar posições do candidato Roberto Cláudio sobre alguns aspectos abordados, mas não o fez até o fechamento desta reportagem.