Recife – A dois dias das eleições, a corrida pela prefeitura do Recife se transformou em um verdadeiro filme nonsense. O PT, que comanda a capital pernambucana há 12 anos, está completamente rachado. Suas lideranças não param de brigar publicamente e falam mal do seu governo como se fosse oposição. O PSB, aliado histórico do PT no estado e que também governa o Recife, também age como se fosse oposição na cidade.

Enquanto isso, o PSDB se aproxima do seu arqui-inimigo PT. Nos últimos dias, tucanos e petistas têm agido em dobradinha nas propagandas eleitorais e nos debates, e chegaram até a ingressar com uma ação conjunta na Justiça contra o candidato do PSB, Geraldo Julio, por abuso de poder econômico. A aproximação tem dois motivos. Primeiro, evitar que Julio ganhe as eleições no próximo domingo. Segundo: tucanos e petistas querem o apoio um do outro caso haja o segundo turno.

A pesquisa divulgada pelo Datafolha na quinta (4) colocou Geraldo Julio, candidato apoiado pelo governador Eduardo Campos, com 41% das intenções de voto. O candidato do PSDB, Daniel Coelho, aparece com 26%, seguido pelo petista Humberto Costa com 16%.

No final de semana passado, uma pesquisa do Jornal do Commercio apontava que Geraldo Julio já tinha 50% dos votos válidos, contra 26% de Daniel Coelho e 19% de Humberto Costa.

PT x PT?

Humberto Costa começou as eleições como franco favorito, mesmo após uma série de desentendimentos dentro do próprio PT, que não deixou o atual prefeito, João da Costa, tentar a reeleição. Ao longo da campanha, correligionários ligados a João da Costa e a Humberto Costa trocaram acusações, cujo tom subiu vertiginosamente nos últimos dias.

No início desta semana, parte do PT divulgou nota atacando a cúpula da legenda no estado. Sete correntes internas subscrevem o documento que critica de maneira contundente a campanha de Humberto e, implicitamente, manifesta apoio ao candidato do PSB e ao governador Eduardo Campos. “O candidato do nosso partido trata um aliado estadual e nacional como inimigo”, diz a nota. “O PT apequena-se perante a sociedade, utilizando práticas que sempre condenou e das quais foi vítima. Trata aliados históricos como se fossem adversários”, prosseguiu.

Na última terça-feira (2), o prefeito João da Costa convocou entrevista coletiva para defender seu governo, atacado por todos os candidatos. Sem meias palavras, disse que seu partido está protagonizando a maior derrota política do PT no Brasil. “Uma derrota histórica. Começaram (Humberto e o vice João Paulo) com 40% nas pesquisas e podem terminar com menos de 15%. Não tem candidato do PT no Brasil que tenha tido essa trajetória”, disse.

João da Costa disse ainda que, “como analista político”, acredita que a tendência é que a eleição seja definida ainda no primeiro turno, com a vitória do candidato do PSB, Geraldo Julio, e declarou voto no socialista no caso de um eventual segundo contra Daniel Coelho. “Mesmo que o PT não queira, vou apoiar Geraldo Julio. Vou para a rua, vou fazer campanha, vou de porta em porta, porque esse é meu campo político, onde eu militei durante 30 anos, e vou defendê-lo”, afirmou.

João da Costa não fez campanha para o PT neste primeiro turno. Questionado sobre seu voto, disse que escolheu Humberto: “Espero que ele me convença até domingo”. Sobre a eventualidade de um segundo turno envolvendo o socialista e o petista, João da Costa afirmou que votaria em Humberto. “Mas não vou fazer campanha.”

PT & PSDB?

Até o início de setembro, quando o PT ainda liderava as pesquisas, o partido e seu antigo aliado, o PSB, trocavam ataques nas propagandas da TV e rádio. Com a queda livre de Humberto, Geraldo Julio passou a concentrar suas críticas no candidato tucano, que assumiu o segundo lugar.

Enquanto isso, PT e PSDB se juntaram para atacar o socialista e evitar que a eleição seja definida no domingo. Na quarta-feira (3), a nova aliança PT-PSDB entrou com uma ação conjunta no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), acusando o candidato do PSB de abuso de poder econômico. “Desde a semana passada, tanto o PT como nós, do PSDB, temos recebido denúncias de cadastramentos, nos bairros, para uma boca de urna paga. Isso é ilegal e considerado compra de votos. Então, os dois jurídicos moveram o pedido para impedir o abuso econômico”, disse Daniel.

A aliança ficou ainda mais visível na noite de ontem (4), durante o debate do promovido pela Rede Globo. Os candidatos de PT e PSDB centraram suas críticas em Geraldo Julio e levantaram a bola um do outro com perguntas sobre planos de governo.

Um petista que está na coordenação da campanha disse à RBA que a ala do PT ligada a Humberto Costa não teria clima para apoiar o PSB no segundo turno, já que a campanha foi muito acirrada. E assim, se a eleição do Recife já não parece tão indefinida, não se pode dizer o mesmo sobre o futuro dos partidos. PT e PSB ainda dividem a administração municipal e, sobretudo, a aliança estadual, que tem mais dois anos de mandato pela frente.