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Planalto está preocupado com futuras denúncias de Janot contra Temer

Mesmo que base governista consiga barrar abertura de processo contra o presidente por corrupção passiva, novas denúncias da PGR terão que ser analisadas na Câmara

Beto Barata/PR

Politicamente, tanto oposição como base aliada avaliam que novas denúncias aumentam ainda mais o desgaste de Temer

Brasília – Uma das principais preocupações no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, hoje (27), não diz respeito ao pedido feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que o Supremo Tribunal Federal (STF) abra processo contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, e sim as próximas denúncias que estão por vir.

Janot já deixou claro que desmembrou a investigação realizada pela Polícia Federal e deve apresentar, na próxima semana, pelo menos mais uma denúncia contra Temer. Desta vez, por obstrução de Justiça. Mas há representantes do Legislativo e do Judiciário que apostam que estes pedidos de abertura de processo cheguem a quatro, no total. Segundo assessores de tribunais superiores, a avaliação é que as delações feitas no âmbito da Lava Jato citando o presidente também podem caber em pedidos para processá-lo por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

Juridicamente, os magistrados e operadores de Direito só querem falar a respeito quando as denúncias forem formalizadas. Mas, politicamente, tanto a oposição como a base aliada avaliam como um fator que pode aumentar ainda mais o desgaste de Temer.

O principal entendimento de ministros da equipe de coordenação política do governo é de que, mesmo se conseguirem rejeitar o primeiro pedido na Câmara dos Deputados (que foi formalizado na noite de ontem), ainda terão novas ameaças pairando caso essa rejeição não seja por ampla maioria dos deputados – o que até mesmo governistas duvidam que aconteça.

Ataque a Janot

Por parte do Palácio do Planalto, a estratégia principal adotada é a de confrontar os argumentos apresentados por Janot. Temer fez um pronunciamento esta tarde para dizer que a denúncia apresentada pela PGR, a seu ver, não possui provas consistentes, afirmando que a denúncia de Janot se baseia em “ilações” e é uma “ficção”. Mesmo assim, o tom das próximas denúncias deverá seguir no mesmo estilo duro e objetivo.

No pedido protocolado ontem, Rodrigo Janot afirmou que o atual presidente da República “ludibriou os cidadãos brasileiros e, sobretudo, os eleitores”. O procurador-geral também disse, em relação ao ex-deputado e assessor direto de Temer, Rodrigo Rocha Loures (flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de propina), que a cena em que ele aparece correndo pela rua, carregando tal mala, consiste em “uma afronta ao cidadão e ao cargo público que ocupava”. Ele acusou Rocha Loures de ter se valido do cargo para servir de “executor de práticas espúrias de Michel Temer”.  

No total, o presidente da República foi citado 44 vezes por delações feitas pelos executivos da Odebrecht. E o caso sobre o qual trata o pedido protocolado ontem refere-se apenas às gravações feitas pelo empresário Joesley Batista sobre conversa tida com Temer no início de março no porão do Palácio do Jaburu – período em que ele estava em pleno exercício do mandato.