Rio: carnaval sem blocos de rua prejudica vendedores ambulantes
Festa costuma ser a principal fonte de renda no ano para boa parte dessa categoria, mas, pelo segundo ano consecutivo, esse recurso não entrará no orçamento. Trabalhadores apontam abandono do poder público
Publicado 25/02/2022 - 15h32
São Paulo – Mais do que uma “renda extra”, é com dinheiro ganho no carnaval que os vendedores ambulantes da cidade do Rio de Janeiro sustentam os principais projetos de suas famílias. “É com esse dinheiro do carnaval que a gente consegue comprar o eletrodoméstico, (consertar) a geladeira que está queimada e o fogão que está com as bocas ruins. O dinheiro do carnaval nos ajuda a manter nossos filhos no colégio. E é com ele que conseguimos reformar nossa casa, consertar aquela goteira e colocar uma laje”, afirma a trabalhadora Izabel Cristina Gomes.
As proibições impostas pela pandemia fizeram de 2020 e 2021 anos difíceis para a categoria. Com isso, os ambulantes do Rio de Janeiro entram em mais um ano sem conseguir trabalhar nesse período de carnaval. Com a proibição do desfile dos blocos de rua, por conta da gravidade da pandemia de covid-19, os camelôs vão perder novamente a principal fonte de renda do ano.
Por outro lado, a administração municipal carioca autorizou a apresentação de cerca 80 blocos de carnaval com entrada paga, segundo informações do portal Metrópoles. À repórter Viviane Nascimento, do Seu Jornal, da TVT, os ambulantes lamentam a falta desse importante recurso por mais um ano. E apontam que há um abandono da categoria pelo poder público.
A vendedora Jaqueline de Fátima Santos relata que reservava o dinheiro do carnaval para emergências médicas. De acordo com ela, as perdas em 2021 foram imensuráveis. “Eu perdi meu neto”, relata. “Estava recebendo aquele auxílio de R$ 600. E para mim e mais três crianças fica difícil (sobreviver com esse valor). Era só alimentação, eu recebia cesta básica, mas tinha luz para pagar e outras contas. E, infelizmente eu perdi meu neto devido à falta de trabalho e por negligência médica”, descreve.
Solidariedade com a categoria
A gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou um auxílio de R$ 500 para cerca de 9 mil vendedores ambulantes cadastrados em 2020 pela Ambev, a empresa patrocinadora dos grandes blocos de carnaval do Rio. O movimento dos trabalhadores acusa, no entanto, que esse cadastro está defasado.
De acordo com a categoria, hoje são cerca de 40 mil pessoas atuando no carnaval do Rio. “Tinha um cadastro muito grande e existe um sorteio. Então as pessoas que foram sorteadas para trabalhar em 2020 é que vão receber esse dinheiro”, explica a presidenta do Movimento Unido dos Camelôs, Maria do Carmo.
“Só que eu já recebi várias denúncias de pessoas que mesmo cadastradas na Ambev, que receberam o crachá, também não estão conseguindo receber o dinheiro. Porque há uma ‘covardia’ muito grande. Você precisa ter um aplicativo, abrir uma conta digital e muitos não estão conseguindo fazer isso. E a gente quer que todos os camelôs que trabalham todos os dias na cidade, que sustentam a cultura do Rio, recebam esse auxílio de carnaval. Ele é muito importante para ajudar a sanar (a perda de renda), apesar do valor ser baixo”, acrescenta a trabalhadora.
Diante da falta de respostas da prefeitura, a campanha de arrecadação “Carnaval é Sustento” presta solidariedade aos vendedores ambulantes e artistas populares. A iniciativa oferece recompensas para quem contribuir com os vendedores ambulantes do Rio. “Esse é um dever do poder público, mas enquanto ele não faz a parte dele, a gente está conseguindo ajudar de alguma forma. Essa categoria está sem trabalhar dois anos por causa da pandemia, não tem eventos nós não trabalhamos”, conclui Maria do Carmo.