Sem saída

Rio: carnaval sem blocos de rua prejudica vendedores ambulantes

Festa costuma ser a principal fonte de renda no ano para boa parte dessa categoria, mas, pelo segundo ano consecutivo, esse recurso não entrará no orçamento. Trabalhadores apontam abandono do poder público

Prefeitura do Rio/Divulgação
Prefeitura do Rio/Divulgação
Diante da falta de respostas da prefeitura, uma campanha de arrecadação "Carnaval é Sustento" foi lançada em solidariedade aos vendedores ambulantes


São Paulo – Mais do que uma “renda extra”, é com dinheiro ganho no carnaval que os vendedores ambulantes da cidade do Rio de Janeiro sustentam os principais projetos de suas famílias. “É com esse dinheiro do carnaval que a gente consegue comprar o eletrodoméstico, (consertar) a geladeira que está queimada e o fogão que está com as bocas ruins. O dinheiro do carnaval nos ajuda a manter nossos filhos no colégio. E é com ele que conseguimos reformar nossa casa, consertar aquela goteira e colocar uma laje”, afirma a trabalhadora Izabel Cristina Gomes. 

As proibições impostas pela pandemia fizeram de 2020 e 2021 anos difíceis para a categoria. Com isso, os ambulantes do Rio de Janeiro entram em mais um ano sem conseguir trabalhar nesse período de carnaval. Com a proibição do desfile dos blocos de rua, por conta da gravidade da pandemia de covid-19, os camelôs vão perder novamente a principal fonte de renda do ano.

Por outro lado, a administração municipal carioca autorizou a apresentação de cerca 80 blocos de carnaval com entrada paga, segundo informações do portal Metrópoles. À repórter Viviane Nascimento, do Seu Jornal, da TVT, os ambulantes lamentam a falta desse importante recurso por mais um ano. E apontam que há um abandono da categoria pelo poder público.

A vendedora Jaqueline de Fátima Santos relata que reservava o dinheiro do carnaval para emergências médicas. De acordo com ela, as perdas em 2021 foram imensuráveis. “Eu perdi meu neto”, relata. “Estava recebendo aquele auxílio de R$ 600. E para mim e mais três crianças fica difícil (sobreviver com esse valor). Era só alimentação, eu recebia cesta básica, mas tinha luz para pagar e outras contas. E, infelizmente eu perdi meu neto devido à falta de trabalho e por negligência médica”, descreve. 

Solidariedade com a categoria

A gestão do prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou um auxílio de R$ 500 para cerca de 9 mil vendedores ambulantes cadastrados em 2020 pela Ambev, a empresa patrocinadora dos grandes blocos de carnaval do Rio. O movimento dos trabalhadores acusa, no entanto, que esse cadastro está defasado.

De acordo com a categoria, hoje são cerca de 40 mil pessoas atuando no carnaval do Rio. “Tinha um cadastro muito grande e existe um sorteio. Então as pessoas que foram sorteadas para trabalhar em 2020 é que vão receber esse dinheiro”, explica a presidenta do Movimento Unido dos Camelôs, Maria do Carmo. 

“Só que eu já recebi várias denúncias de pessoas que mesmo cadastradas na Ambev, que receberam o crachá, também não estão conseguindo receber o dinheiro. Porque há uma ‘covardia’ muito grande. Você precisa ter um aplicativo, abrir uma conta digital e muitos não estão conseguindo fazer isso. E a gente quer que todos os camelôs que trabalham todos os dias na cidade, que sustentam a cultura do Rio, recebam esse auxílio de carnaval. Ele é muito importante para ajudar a sanar (a perda de renda), apesar do valor ser baixo”, acrescenta a trabalhadora. 

Diante da falta de respostas da prefeitura, a campanha de arrecadação “Carnaval é Sustento” presta solidariedade aos vendedores ambulantes e artistas populares. A iniciativa oferece recompensas para quem contribuir com os vendedores ambulantes do Rio. “Esse é um dever do poder público, mas enquanto ele não faz a parte dele, a gente está conseguindo ajudar de alguma forma. Essa categoria está sem trabalhar dois anos por causa da pandemia, não tem eventos nós não trabalhamos”, conclui Maria do Carmo.

Assista à reportagem da TVT