Desarmar a população requer ação conjunta de várias áreas, diz Sou da Paz
São Paulo – Para a ativista Alice Ribeiro, do instituto Sou da Paz – uma das entidades à frente da campanha nacional pelo desarmamento iniciada nesta sexta-feira (6) –, as […]
Publicado 06/05/2011 - 13h21
São Paulo – Para a ativista Alice Ribeiro, do instituto Sou da Paz – uma das entidades à frente da campanha nacional pelo desarmamento iniciada nesta sexta-feira (6) –, as ações para retirar da sociedade brasileira o estigma de ser uma das mais violentas do mundo requer a integração de vários setores, como educação, economia e, obviamente, política.
Em entrevista à Rede Brasil Atual, Alice diz ainda que o movimento pela paz e segurança institucionais já deixou para trás o plebiscito de 2005, que decidiu manter o comércio de armas no país. “É preciso olhar o futuro, que ações devem ser feitas daqui em diante.”
Leia a seguir os principais trechos.
A campanha foi adiantada depois de Realengo. Ela deveria ser uma política pública?
A possibilidade de entrega de armas e de munição é permanente, então a qualquer momento as pessoas podem entregar armas e munições nas delegacias da polícia federal no país inteiro.
Com o lançamento de uma campanha dessa, o que acontece é a chegada de elementos temporários e que incentivam as pessoas a terem um senso de urgência para entregarem armas. No caso dessa campanha, até 31 de dezembro, as pessoas que entregarem armas terão o anonimato garantido e as armas serão danificadas na hora da entrega, na frente das pessoas. O pagamento da indenização será imediato, também. Até agora, as pessoas ainda precisavam se identificar e não havia danificação e a indenização era paga por meio de depósito em conta corrente.
Estão sendo lançados incentivos extras para a entrega de armas num período determinado. Sem dúvida, isso é muito importante.
A gente precisa ter uma tragédia que choca o país para que isso seja implementado? Será que não basta, simplesmente, 95 pessoas morrerem todos os dias vítimas de armas de de fogo, no país inteiro? Isso é oito vezes a dimensão da tragédia de Realengo. São oito tragédias de Realengo por dia de vítimas. Será que isso não é suficiente para haver uma política de Estado?”
Quando a sociedade fala de novo em fazer um plebiscito, você acha isso necessário?
Na opinião do Sou da Paz, isso não é necessário, na verdade, não é nem desejável. Nós somos à favor da proibição do comércio de armas, mas isso já foi consultado à população, e a resposta foi muito clara. Então seria antidemocrático focar nisso de novo.
A gente gostaria de olhar para o futuro, pensando no que pode ser feito, ao invés de olhar para o passado e rever propostas que não funcionaram. A proposta do Sou da Paz é que se foque no futuro e para isso o desarmamento tenha uma função central, que é uma lei muito boa, mas não saiu do papel integralmente.
Poderia ser feito um programa para jovens e crianças para garantir resultados mais positivos?
É importante que todas as áreas se engajem para sensibilizar esse público. A área da educação é um parceiro natural para isso, fornecer informações qualificadas para as escolas sobre os perigos das armas de fogo e da possibilidade da entrega de armas. Tudo isso é muito importante.
A gente sabe como é criança; se aprende que não pode deixar a torneira pingando porque é ruim para o ambiente, elas ficam “papagaiando” na orelha dos adultos e não deixam acontecer. Acabam se tornando agentes mirins.
Tem outras áreas que também são importantes, como, por exemplo, a saúde. Quando a gente fala em vítimas de armas de fogo, a maior parte das vezes estamos falando de quem morre. Muitas vezes não damos o foco em quem fica – os imactos que um ferimento por arma de fogo têm na vida de uma pessoa.
A campanha é muito significativa e acreditamos que as pessoas vão se sentir mais confiantes para entregar suas armas. A gente espera que elas sejam sensibilizadas e as pessoas que não tenham armas não queiram ter.