Petrobras e USP inauguram laboratório para desenvolver tecnologias do pré-sal

Nova instalação possibilita realização, no Brasil, de ensaios de sistemas oceânicos fundamentais para novos materiais usados na exploração do pré-sal

Simulações são fundamentais na escolha dos materiais a serem usados, bem como dos sistemas de ancoragem em plataformas (Foto: Agência Petrobras de Notícias/Divulgação)

Um tanque medindo quase 200 metros quadrados, com quatro de profundidade, equipado com sistemas capazes de gerar ondas para todas as direções e simular assim as condições de alto mar. Exatamente aquelas enfrentadas pelas plataformas de extração de petróleo em águas profundas. Já imaginou?

O aparato, dotado de tecnologia inovadora que permitirá a realização de pesquisas e testes de sistemas oceânicos antes realizados no exterior, será fundamental no desenvolvimento de materiais utilizados na exploração das reservas de petróleo da camada do pré-sal.

A nova instalação foi inaugurada na terça-feira (1º), no Tanque de Provas Numérico (TPN), da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). O evento contou com a presença de pesquisadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras e do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.

“Agora nosso laboratório reúne algo inédito no mundo, que é a articulação entre um laboratório virtual para simulação numérica e um tanque físico de provas”, afirma Kazuo Nishimoto, professor do Departamento de Engenharia Naval e Oceânica da Escola Politécnica (Poli) e coordenador do TPN.

Nishimoto explica que as explorações na camada pré-sal serão feitas a até 7 mil metros de profundidade. Uma exploração desse porte exige que as tecnologias sejam cada vez mais precisas, principalmente em relação às simulações. No laboratório da Poli, os pesquisadores constroem modelos virtuais e físicos de plataformas e navios e os avaliam em diversas situações que podem ocorrer no ambiente marinho.

Nós da Rede

Além da USP, integram a rede as universidades federais do Rio de Janeiro, Alagoas, Amazonas, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Rio Grande do Sul e do Norte; Universidade Estadual de Campinas; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Instituto Tecnológico da Aeronáutica; Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Laboratório Nacional de Computação Científica, ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Cada uma dessas instituições é chamada de nó da Rede.

“Essas simulações são fundamentais na escolha dos materiais a serem usados, bem como dos sistemas de ancoragem”, explica Nishimoto. “Nos ambientes virtual e físico do laboratório podemos criar condições de um mar em meio a um furacão, por exemplo, para testarmos a resistência dos materiais”.

O novo tanque que integra o TPN, tecnicamente chamado de calibrador físico hidrodinâmico, é um reforço aos recursos hoje disponíveis, como o LabOceano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que realiza ensaios de plataformas com modelos completos, e o Tanque de Reboque do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT), criado para testes de embarcações com velocidade de avanço.

Desde 2002, o TPN colabora com a Petrobras no desenvolvimento de conceitos inovadores e em estudos e análises da exploração petrolífera em águas profundas, no qual a empresa brasileira detém a tecnologia mais avançada do mundo. O projeto da Poli-USP integra a Rede Temática de Computação Científica e Visualização, conhecida como Rede Galileu.

Kazuo Nshimoto explica que, para dar suporte ao laboratório, a Rede Galileu instalou sistemas de computadores  interligados a cada um dos nós da Galileu. Os equipamentos têm capacidade de processamento de cerca de 180 teraflops.

Só para se ter uma idéia da capacidade e velocidade do equipamento, um computador pessoal comum, por mais rápido que seja, chega a atingir cerca de 0,04 teraflops de processamento. “Essa velocidade é que nos permitiu construir a sala de simulações em quatro dimensões, com imersão extra-sensorial e sistemas de som”, descreve Nishimoto.

O equipamento a que ele se refere é um aparato semelhante a um simulador de vôo, em quatro dimensões. Numa poltrona e console com todos os controles de uma embarcação real, inclusive os movimentos, o operador de um navio poderá navegar no ambiente virtual como se tivesse em condições reais.

A Petrobras investiu no laboratório da USP cerca de R$ 10 milhões. Todas as instituições da rede foram contempladas com valores equivalentes. De acordo com a legislação da companhia e da Agência Nacional de Petróleo, 1% da receita de produção dos campos petrolíferos deve ser investido em pesquisas e desenvolvimento.