Mobilização

Conselhos de Saúde e dos Direitos Humanos protestam contra ‘revogaço’ na saúde mental

Ato virtual ocorre nesta quinta (10), às 19h, na página do Facebook da Associação Brasileira de Saúde Mental. Contra arbitrariedades do governo, entidades também manifestam apoio ao deputado Alexandre Padilha, que vem sofrendo represálias por defender a luta antimanicomial

Fernando Frazão/EBC
Fernando Frazão/EBC
Democratização da política de saúde mental permitiu tirar o paciente do isolamento e de procedimentos cruéis para tratar com liberdade, profissionalismo e apoio de parentes e amigos

São Paulo – Nesta quinta-feira (10), Dia Internacional dos Direitos Humanos, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e movimentos populares realizam ato virtual “pela democracia, pelo cuidado em liberdade e pela defesa de direitos”. A manifestação ocorre às 19h, durante o 7º Congresso da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), que transmitirá o evento em sua página no Facebook.

O ato das entidades marca a defesa da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial na semana em que a revista Época afirmou que o Ministério da Saúde está preparando um documento com a anulação de 99 portarias relacionadas à área de saúde mental.

O “revogaço”, como ficou conhecido, levaria ao encerramento de vários programas do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre eles, estaria o fim do De Volta para Casa, responsável pela reintegração social de pacientes com transtornos mentais, e o Serviço Residencial Terapêutico. Haveria também alterações no financiamento do Consultório de Rua, programa médico que atende à população em situação de rua. Assim como uma reestruturação da assistência psiquiátrica hospitalar. 

Revogaço é retrocesso

Também estaria em risco a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), voltados a usuários de crack, álcool e outras drogas.

“Justamente quando estamos chegando perto dos 72 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, ameaças à democracia continuam acontecendo. Dessa vez, há ameaças à política de saúde mental”, lamenta o presidente do CNS, Fernando Pigatto em entrevista à repórter Girrana Rodrigues, do Seu Jornal, TVT. De acordo com ele, qualquer mudança precisa ser feita a partir do debate com a sociedade. “A Política Nacional de Saúde Mental no nosso país foi uma conquista. A volta de manicômios, de retrocessos, nós não podemos permitir. Tanto que o Conselho Nacional de Saúde está chamando para a partir do próximo ano a 5º Conferência de Saúde Mental.”

O presidente do CNDH, Leonardo Pinho, acrescenta que, em paralelo ao ato virtual, as entidades também entregarão ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) pedido para que as propostas de revogação e alteração da política de saúde mental e drogas não sejam pautadas no próximo dia 17 na Comissão Intergestores Tripartites (CIT), onde serão votadas.

Apoio a Padilha

O manifesto também será entregue ao STF e ao Conselho Federal de Medicina (CFM), em Brasília, e ao Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Nele, também é reforçada a defesa da liberdade de expressão e manifestação em apoio ao ex-ministro da Saúde, hoje deputado federal, Alexandre Padilha (PT-SP). O parlamentar é alvo de uma sindicância do Cresmesp por ter criticado a decisão do governo federal de estimular tratamentos com eletroconvulsoterapia no SUS. 

“Só a mobilização popular, comunitária, em defesa do SUS e da reforma psiquiátrica vai fazer com que a gente não permita essa revogação e continue a exigir mais orçamento para fortalecer o Sistema Único de Saúde e a rede de atenção psicossocial”, afirma o presidente do CNDH. 

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