TSE nega suposto acordo com as Forças Armadas para ‘apuração paralela’
Tribunal desmente “reportagem” da Folha de S.Paulo e diz em nota oficial que não há “qualquer acordo” para “apuração em tempo real” de votos pelos militares
Publicado 12/09/2022 - 16h39
São Paulo – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negou nesta segunda-feira (12), em nota, a existência de acordo com as Forças Armadas para permitir acesso diferenciado aos dados da apuração das eleições destes ano. Ontem, o jornal Folha de São Paulo afirmou que o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, “teria cedido aos militares”, garantindo acesso aos “arquivos brutos da totalização” dos votos. Além disso, a reportagem diz que os militares teriam “em tempo real” os dados sobre a totalização dos votos.
“O Tribunal Superior Eleitoral informa, em relação à apuração das eleições 2022, que não houve nenhuma alteração do que definido no primeiro semestre, nem qualquer acordo com as Forças Armadas ou entidades fiscalizadoras para permitir acesso diferenciado em tempo real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral”, diz a nota.
A Folha disse ainda que os militares enviarão fotos do QR Code dos boletins de urna para o Comando de Defesa Cibernética do Exército, em Brasília, que fará um “trabalho paralelo de contagem dos votos”. De acordo com a reportagem, a conferência será feita com 385 boletins de urna.
No entanto, na manhã de hoje o TSE esclareceu, que a contagem de votos a partir da somatória dos boletins de urna (BUs) é possível “há várias eleições”. A novidade deste ano é a publicação online dos BUs, “para acesso amplo e irrestrito de todas as entidades fiscalizadoras e do público em geral”. “Independentemente dessa possibilidade, como ocorre há diversas eleições, qualquer interessado poderá ir às seções eleitorais e somar livremente os BUs de uma, de dez, de trezentas ou de todas as urnas”, ressaltou o TSE.
Leia a nota:
O Tribunal Superior Eleitoral informa, em relação à apuração das eleições 2022, que não houve nenhuma alteração do que definido no primeiro semestre, nem qualquer acordo com as Forças Armadas ou entidades fiscalizadoras para permitir acesso diferenciado em tempo real aos dados enviados para a totalização do pleito eleitoral pelos TREs, cuja realização é competência constitucional da Justiça Eleitoral.
O TSE reitera informação amplamente divulgada em junho passado (https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Junho/nota-de-esclarecimento-contagem-simultanea-de-votos-ja-e-possivel) sobre a contagem de votos, a partir da somatória dos BUs, ser possível há várias eleições e que para o pleito deste ano, foi implementada a novidade de publicação dos boletins de urnas pela rede mundial de computadores, após o encerramento da votação para acesso amplo e irrestrito de todas as entidades fiscalizadoras e do público em geral.
Independentemente dessa possibilidade, como ocorre há diversas eleições, qualquer interessado poderá ir às seções eleitorais e somar livremente os BUs de uma, de dez, de trezentas ou de todas as urnas.
Repercussões
A matéria da Folha reacendeu as preocupações em relação ao discurso golpista de Bolsonaro. Há meses, ele vem usando os militares como meio de levantar suspeitas infundadas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral brasileiro. Após o desmentido do TSE sobre essa suposta nova investida contra as urnas, o termo “Forças Armadas” ficou algumas horas entre os trending toppics (assuntos mais falados) do Twitter. Jornalistas, intelectuais e políticos se manifestaram sobre o tema.
O jornalista e professor Ricardo Pereira acusou a Folha de cometer uma “barrigada” ao anunciar o suposto acordo entre o TSE e as Forças Armadas. No jargão jornalístico, “barriga” é quando um veículo publica uma informação inverídica, devido a falhas na sua apuração. Já o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) destacou como “acertadíssima” a nota do TSE, desmentindo qualquer acordo com os militares.
Apesar do desmentido, o escritor Marcelo Rubens Paiva destacou o “rolo” em que a sociedade brasileira se meteu, ao aceitar a participação dos militares na fiscalização das eleições. Foi o ministro Luis Roberto Barroso, em setembro do ano passado, quando era presidente do TSE, que convidou os militares a participar. O intuito alegado era reduzir a possibilidade de contestação do resultado das urnas.
A Folha deu mais uma barrigada. O jornal é notório nisso. Agora foi a divulgação de que as forças armadas fariam uma apuração paralela, negado pelo TSE. Nada vai ser apurado, mas seria bom saber se foi mais uma de suas barrigadas ou a Folha está empenhada em tumultuar as eleições
— Ricardo Pereira (@ricardope) September 12, 2022
TSE informou nesta 2ª feira que as Forças Armadas não vão receber “acesso diferenciado” aos dados da eleição de 2022. Em nota, o tribunal negou que os militares farão uma apuração paralela. Decisão acertadíssima e dentro do que diz a Constituição.
— Ivan Valente 5050 (@IvanValente) September 12, 2022
E se o número da apuração paralela das Forças Armadas, que ocupam 6 mil cargos no atual governo e tiveram benefícios na Reforma da Previdência, for diferente do @TSEjusbr? Em que baita rolo vocês nos meteram…
— Marcelo Rubens Paiva (@marcelorubens) September 12, 2022