Fumaça golpista

Militares cobram acesso a código-fonte das urnas que já foi liberado em 2021

Ministério da Defesa pede ao TSE acesso ‘urgentíssimo’ a dados disponíveis há 10 meses

Billy Boss/Câmara dos Deputados
Billy Boss/Câmara dos Deputados
Forças Armadas, e demais instituições que compõem a Comissão de Transparência das Eleições (CTE), tiveram acesso ao código-fonte das urnas eletrônicas em outubro do ano passado

São Paulo – O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acesso ao código-fonte das urnas eletrônicas que serão usadas nas eleições deste ano. Em novo ofício, enviado com a rubrica “urgentíssimo” ao ministro Edson Fachin nesta segunda-feira (1º), a Defesa dá prazo até o dia 12 de agosto para que a Justiça Eleitoral atenda a solicitação. O ofício não cita o que o ministério pretende fazer caso o pedido não seja atendido. No entanto, segundo o TSE, o acesso aos códigos-fonte foi aberto em outubro de 2021, um ano antes da realização do pleito.

“Solicito a Vossa Excelência a disponibilização dos códigos-fontes dos sistemas eleitorais, mais especificamente do Sistema de Apuração (SA), do Sistema de Votação (VOTA), do Sistema de Logs de aplicações SA e VOTA e do Sistema de Totalização (SisTot), que serão utilizados no processo eleitoral de 2022”, diz o ofício.

Porém, o pedido é redundante e desnecessário. Como faz em todas as eleições um ano antes do pleito, as entidades cadastradas para auditoria das votações já receberam o acesso aos códigos. A análise é feita em uma sala com toda segurança dentro do próprio TSE. Em 2021, as Forças Armadas foram incluídas pelo Tribunal, juntamente com outras entidades, na Comissão de Transparência das Eleições (CTE). Além dos militares, a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e partidos políticos também tiveram acesso ao código-fonte das urnas.

Em outro documento, a Defesa solicitou outras informações relacionadas à disputa eleitoral. Entre elas, os dados das últimas eleições, numa referência às acusações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a confiabilidade dos resultados. Acusações para as quais até agora não foi apresentada uma única prova. “A ausência das referidas informações poderá prejudicar o desenvolvimento dos trabalhos (…) quanto ao cumprimento das etapas de fiscalização previstas na Resolução do TSE. E também, que há a necessidade de um ponto de contato que facilite as ações de fiscalização”, insinua o ministro.

Fumaça golpista

A nova investida dos militares, alinhada com o discurso do presidente Jair Bolsonaro, que frequentemente levanta suspeitas sobre a lisura do processo eleitoral, foi criticada nas redes sociais. Para o advogado Thiago Amparo, professor de direito internacional e direitos humanos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo, trata-se de mais uma “manobra política” para levantar suspeitas infundadas sobre o processo eleitoral.

No mesmo sentido, o colunista do Brasil de Fato Cleber Lourenço também levantou suspeitas sobre a competência dos militares para lidar com o processo eleitoral. Ou então estariam mal-intencionados ao pedir novamente o código-fonte das urnas eletrônicas.

Bolsonaro volta a atacar ministros do STF

Mais cedo, em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio Grande do Sul, Bolsonaro repetiu sua narrativa de suspeitas sobre o sistema eleitoral. Ele chegou a chamar o ministro Luís Roberto Barroso de “criminoso” e acusou o ministro de ter interferido na votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do voto impresso, derrotada no Congresso no ano passado.

“Interferência política é crime previsto na Constituição. O Barroso é um criminoso […] depois ele vai para o Reino Unido falando que queriam ressuscitar o voto de papel como antigamente. Barroso, você é um mentiroso, um mentiroso”, disse Bolsonaro.

Barroso respondeu. Ele acusou Bolsonaro de mentir sobre sua suposta interferência na derrubada da PEC do voto impresso.

Na entrevista, o presidente da República atacou também o ministro Luiz Fux, presidente do STF, com quem costuma manter relações mais harmoniosas. Isso porque, ontem (1º), Fux afirmou, em sessão de reabertura dos trabalhos da Suprema Corte, que o sistema eleitoral brasileiro é um dos mais confiáveis do mundo.

A declaração do ministro foi recebida por Bolsonaro como um posicionamento “equivocado, ou é uma fake news”. E foi além, sugerindo que Fux deveria ser investigado no Inquérito das Fake News, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes, a quem Bolsonaro trata como inimigo.


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