Projeção eleitoral

‘Subida de Lula nas pesquisas é esperada e mostra que é real a possibilidade de vitória em 1º turno’

Análise do jurista Rogério Dultra dos Santos leva em conta dados da pesquisa Genial/Quaest, mostrando que 26% dos eleitores de Ciro, Tebet e demais candidatos podem mudar o voto para que Lula vença no 1º turno

Agência Brasil e Ricardo Stuckert
Agência Brasil e Ricardo Stuckert
Clima em favor do petista também deve despertar voto útil de última hora

São Paulo – A nova pesquisa da Quaest, contratada pelo banco Genial e divulgada nesta quarta-feira (21), indica a possibilidade de definição da eleição presidencial já no primeiro turno, com a vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o que destaca o professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rogério Dultra dos Santos, integrante da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), em entrevista ao Jornal Brasil Atual

De acordo com o levantamento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 44% das intenções de voto, ante 46% de todos os outros candidatos somados. Considerando apenas os votos válidos, o petista aparece com 48,9%. O que o coloca a apenas 1,2 ponto dos válidos para vencer no próximo dia 2 de outubro, quando são necessários 50% mais um voto para levar a eleição em primeiro turno. Para o jurista, tanto a pesquisa Quaest como a Ipec (ex-Ibope), publicada na segunda (19), indicam uma tendência de alta de votos para o ex-presidente, que pode ser ainda mais beneficiado pelo voto útil nesta reta final de campanha. 

“Nesse sentido, sim, essa subida do Lula nas pesquisas já era esperada. E eu acredito que sim, há essa possibilidade real do Lula conseguir levar essas eleições no primeiro turno. Para isso, a campanha de Lula está investindo no voto útil e em novas alianças. O Lula agora se aproximou do Henrique Meirelles que é do quadro histórico do MDB. É um outro símbolo da ampliação de aliança que o Lula está fazendo para tentar resolver as eleições no primeiro turno”, comenta Santos. 

Peso do voto útil

O diretor da Quaest Pesquisa e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Felipe Nunes, também destaca que a vitória do candidato do PT no primeiro turno não é “matematicamente impossível”. A análise do especialista é apoiada no alto percentual de eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) que ainda indicam possibilidade de mudança de voto. A pesquisa também mostra que, quando questionados, 26% dos eleitores de Ciro e Tebet e outros candidatos dizem que mudariam o voto para que Lula vença no primeiro turno. 

“Isso dá o dobro do que Lula precisa para ganhar (aproximadamente 3 pontos percentuais). Se essa simulação de fato vai acontecer, é outra história”, pondera. Nunes destaca ainda que a migração parte principalmente dos eleitores do candidato do PDT. “Mesmo que Ciro não queira apoiar Lula, essa é uma decisão do seu eleitor, como se vê”. Além disso, a campanha do petista também é favorecida pelo clima de confiança entre os eleitores sobre a vitória do ex-presidente. De acordo com o pesquisador, esse climão de opinião pode despertar ainda mais o voto útil de última hora. 

A pesquisa identificou que 49% acham que Lula é quem vai ganhar a eleição, enquanto 37% acham que Bolsonaro vence. “Falta cada vez menos tempo para Bolsonaro mudar o clima de opinião e reverter esse quadro. Se não ultrapassar Lula já no primeiro turno, fica praticamente impossível virar no segundo. Por que? Metade do eleitor de Ciro e 35% dos eleitores de Tebet acham que eles deveriam apoiar Lula em um eventual 2º turno”, ressalta Nunes. 

Rejeição e alianças políticas

Em segundo lugar na pesquisa, o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que registrou 34% dos votos, vem tentando ampliar a rejeição ao nome de Lula para impedir essa migração de votos na última semana de eleição. A estratégia é a mesma utilizada em 2018, mas a pesquisa também mostra que ela não vem dando resultados. A campanha do candidato à reeleição chegou a ocupar os programas eleitorais inteiros apenas com ataques a Lula. Mas a rejeição ao ex-presidente se manteve em 35%, sem qualquer crescimento entre os que assistem aos programas de TV. Já a de Bolsonaro subiu de 60% para 65%.

A maioria dos espectadores, na verdade, vota mais em Lula (47%) do que em Bolsonaro (36%). “As pesquisas estão mostrando que a propaganda (bolsonarista) não será capaz de demover os eleitores brasileiros da sua percepção da situação real que estão vivendo, de alta na inflação, dificuldade na compra de alimentos, aumento dos preços e assim sucessivamente. Eu acredito, portanto, que essa estratégia da campanha de Bolsonaro, embora em termos de política seja uma estratégia usual, ela não está produzindo os efeitos esperados”, garante o professor. 

Santos conclui analisando que o embarque da ex-ministra Marina Silva (Rede) na campanha de Lula também vai trazer um percentual bastante significativo de votos no país. “Essa reaproximação também irá render frutos nesses últimos momentos que antecedem o primeiro turno”. Nesta quarta, dissidentes de uma ala do PDT vão lançar um manifesto a favor do voto no ex-presidente Lula já no primeiro turno. O documento tem aproximadamente 100 nomes, dos quais 30 são filiados ao PDT. Entre eles, há alguns nomes históricos de aliados ao brizolismo, como o de Cidinha Campos. 

Saiba mais na entrevista