CPI DA COVID

Rogério Carvalho diz que ministro da Defesa enviou militares a Sergipe para espioná-lo

Comissão também aprovou pedido de afastamento da secretária de Saúde, Mayra Pinheiro

Leopoldo Silva/Agência Senado
Leopoldo Silva/Agência Senado
Segundo o relato do parlamentar, uma pessoa próxima a ele foi visitada, na semana passada, oficiais da ativa do Exército, em Sergipe

São Paulo – O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou, durante o início dos trabalhos da CPI da Covid nesta terça-feira (3), que foi alvo de espionagem de militares do Exército, com ordens do ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto.

Segundo o relato do parlamentar, uma pessoa próxima a ele foi visitada, na semana passada, por oficiais da ativa do Exército, em Sergipe. Carvalho acusou o ministro da Defesa de espioná-lo. “Eles foram ao meu estado para bisbilhotar a minha vida, querendo saber algo para usar contra mim. O Braga Netto foi o emissário dessa espionagem. Eu não tenho medo e não abrirei mão das minhas convicções. Ninguém vai me intimidar”, denunciou.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), prestou solidariedade e acrescentou que os senadores independentes também são perseguidos. “Você tem toda a nossa solidariedade, isso acontece com todos nós. Semanas atrás, apareceu um documento da década de 1980 sobre parlamentares que lutavam contra a ditadura, e eu estava lá, mas tentaram publicar com um ar pejorativo contra quem participava do movimento”, acrescentou.

Nas redes sociais, outros parlamentares comentaram as acusações de Rogério Carvalho contra o ministro da Defesa. O deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) disse que os relatos são gravíssimos. “Isso precisa ser investigado e para isso é fundamental a vinda de Braga Neto à CPI, além de toda sua responsabilidade na trágica e criminosa atuação do governo Bolsonaro na pandemia”, tuitou.

Já o deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) classificou a suposta espionagem como a consolidação do “Estado policial”. “É uma violação do regime democrático. A CPI tem que convocar o ministro da Defesa, Braga Netto”, afirmou ele.

Capitã Cloroquina na mira

A CPI da Covid aprovou um pedido à Justiça de afastamento da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”. Ela já prestou depoimento na CPI e defendeu uso de medicamento ineficaz no tratamento da covid-19.

Mayra é uma das 14 pessoas listadas pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) como investigadas pela CPI. Segundo o autor do pedido à Justiça, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, diz que ela “mentiu ou entrou em contradição em ao menos 11 oportunidades” durante depoimento à comissão.

Omar Aziz afirmou que Mayra não tem mais condições de continuar no Ministério da Saúde. “Depois do que o Brasil assistiu, sinceramente, não dá para o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) manter na sua equipe uma pessoa que pensa totalmente diferente da ciência”, disse o senador.

Aziz lembrou ainda do vídeo publicado pelo The Intercept, na semana passada, que mostra Mayra combinando seu depoimento com pesquisadores defensores da cloroquina e senadores governistas. “Ela disse que ia receber a bola de cinco senadores para fazer o gol. Os senadores viraram o meio de campo da seleção brasileira e ela, o Neymar. Ainda pediu pergunta e resposta. Eu me nego a acreditar que algum senador se prestou a isso, pois seria um ato imensurável. É uma investigada que estava sentada aqui”, disse o senador.

Requerimentos aprovados

Os senadores da CPI aprovaram também a reconvocação do militar da reserva Elcio Franco, ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde. Elcio, atualmente, é assessor da Casa Civil. O requerimento é de autoria de Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Elcio Franco era o braço direito de Eduardo Pazuello, quando o general era ministro da Saúde.

Os senadores aprovaram também a quebra de sigilos telefônico, telemático, fiscal e bancário do líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), apontado como um dos responsáveis pelas irregularidades na compra da vacina Covaxin.

A CPI da Covid aprovou requerimentos de quebra de sigilo bancário de sites que atuam em defesa do presidente Jair Bolsonaro. De autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), as páginas consideradas propagadoras de fake news, que serão investigadas, são: Terça Livre, Brasil Paralelo, Crítica Nacional, Senso Incomum e Conexão Política.


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