Trabalhadores

Redes cobram respeito após Bolsonaro chamar moradores de favelas de traficantes

Tom agressivo de Bolsonaro contra Lula e moradores de favelas movimentam as redes. Internautas pedem respeito

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Bolsonaro a Lula, no debate: Bolsonaro avançou contra o petista: “Só tinha traficante do seu lado”

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem (16), durante o debate contra Jair Bolsonaro (PL), que “favelado não é bandido”. Lula defendeu suas visitas a favelas durante a campanha, entre elas ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Lá, ele usou um boné escrito CPX, abreviação de “complexo”, como são chamados bairros que reúnem conjuntos de favelas. Desde então, ele foi alvo de mentiras e fake news por parte dos bolsonaristas e do próprio presidente. Ainda durante o debate, Bolsonaro se referiu à sigla como parte do crime organizado.

“Eu fui no Complexo do Alemão. Encontrei um povo extraordinário, trabalhador. Eu acredito no povo. Ali não tinha bandido. Tinham mulheres e homens que levantam cedo para trabalhar”, defendeu Lula. A defesa de Lula do povo que mora em favelas repercutiu durante o dia de hoje nas redes sociais. “É importante mostrarmos a diferença entre os candidatos. De um lado, Lula exalta o povo brasileiro de maneira igual! Sendo ele da favela ou do asfalto. Do outro, temos um candidato preconceituoso e que não tem o menor respeito pelos brasileiros”, defendeu a vereadora da cidade fluminense de Niteroi Verônica Lima (PT).

‘Respeite a favela’

Bolsonaro avançou contra o petista: “Só tinha traficante do seu lado”. A evidência do preconceito contra os moradores do Complexo do Alemão também colocou a frase “Bolsonaro odeia favelado” entre os assuntos mais comentados do Twitter. Internautas inundaram a rede de relatos. “Lula entra nas favelas e não é agredido porque nunca tentou separar a favela do resto do país. Lula colocou o favelado na universidade, no avião, na Disney. Ele trouxe dignidade ao favelado”, disse um internauta chamado Jaildo, que revelou ainda ser faxineiro e ter passado a infância em situação de rua.

Imagem que viralizou nas redes sociais. Fonte: Reprodução/Twitter
bolsonaro favelas
“Fui ao Complexo do Alemão. Encontrei um povo extraordinário, trabalhador”, disse Lula, reagindo a ofensas de Bolsonaro a população das favelas. Redes também reagiram

“Se você é favelado, mora em alguma comunidade, se ama o Nordeste, vamos salvar o Brasil desse obscurantismo. Chega de preconceito”, defendeu outra internauta, a baiana Ana Mattos.

Uma das percursoras do funk carioca no país, Valesca Popozuda cobrou respeito de Bolsonaro. “Bolsonaro insiste em falar que quem mora em comunidade e favela é bandido! Favelado não é bandido. Respeite os moradores de comunidades, você desconhece essa palavra né?”, afirmou.

‘Atentado’

Dentro do contexto do bolsonarismo de ligar favelados ao crime, hoje, o candidato ligado ao presidente ao governo de São Paulo, o carioca Tarcísio de Freitas, foi até a comunidade de Paraisópolis fazer campanha. Trata-se de uma das maiores favelas do país. Lá, ouviram som de tiros. Imediatamente, a rádio defensora incondicional do presidente, Jovem Pan, divulgou que aquilo seria um “atentado” contra o carioca.

Contudo, a Polícia Militar logo afastou a possibilidade, ainda que sob investigação. “Os dados que temos até agora não há indicação de atentado. Mas não descartamos nenhuma hipótese ainda” disse o secretário estadual de Segurança Pública, João Camilo Pires de Campos.

“Quem é de comunidade sabe quando é pq ocorrem tiroteios. O principal deles é provocado pela presença da polícia que inicia os confrontos. Por isso as câmeras diminuíram não só os assassinatos mas os confrontos. Tarcísio está querendo associar favelado a bandido como fez Bolsonaro”, lembrou uma internauta identificada como @yaaynikhalili.

O repórter da TV Globo Victor Ferreira esteve no local. Ele relata que conversou com o secretário e também com trabalhadores da região. “Conversei com moradores de Paraisópolis e gente que trabalha em UBS na região e viu os tiros. Os relatos são unânimes: o tiroteio não foi no mesmo local em que Tarcísio estava. Quem já ouviu um tiroteio sabe que tiros podem ser ouvidos de longe (…) Foi uma ocorrência policial que terminou com um suspeito morto, que aconteceu próximo, mas não no mesmo local em que o candidato fazia campanha.”

Mais repercussões

Outros temas abordados no debate de ontem também ganharam repercussão no dia de hoje. O senador eleito pelo Piauí e coordenador da campanha de Lula, Wellington Dias, defendeu que a agressividade e a desinformação por parte de Bolsonaro impediram uma conversa mais propositiva. “Especialmente por parte do atual presidente, um nível de agressividade e ali uma facilidade que é lamentável de se colocar sistemáticas mentiras, informações que não batem com a realidade, como disseram os próprios jornalistas ainda durante o debate”, disse.

Mesmo assim, Dias comemorou que Lula conseguiu apresentar algumas propostas e deixar claro compromisso com o povo. “Ainda assim, o presidente Lula conseguiu ali tratar de temas como da saúde, temas relacionados à necessidade de cuidar das filas, cuidar da implantação, que é compromisso dele com mais especialidades, a vacinação trazendo o prejuízo que foi esse desprezo do atual presidente da República ali na pandemia contra a ciência, contra as vacinas”, completou.

Momento curioso

Em um momento, no mínimo, curioso do debate, Bolsonaro chegou a colocar a mão sobre o ombro de Lula. O petista lembrou que o político, quando ele era presidente e Bolsonaro, deputado federal, fazia discursos em defesa do petista. As redes foram ligeiras em encontrar um desses casos. Como nesta postagem do deputado Alencar Santana: