No CPX do Alemão

Lula vira alvo de fake news bolsonarista por boné com sigla ‘CPX’, de ‘Complexo’

Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) associaram a abreviação a uma facção criminosa, o que não é verdade. Moradores do Complexo do Alemão saem em defesa de Lula e apontam racismo em mentira. “Chega de preconceito desses covardes”

Renato Moura / Voz das Comunidades
Renato Moura / Voz das Comunidades
"É muito grave porque não é apenas um ataque ao presidente Lula, mas a todos nós, moradores e moradoras de favelas e periferias", destacou Raull Santiago

São Paulo – Moradores do Complexo do Alemão, comunidade da zona Norte do Rio de Janeiro, apontam racismo e preconceito por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, desde quarta-feira (12), criaram mais uma fake news contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desta vez porque o candidato a Presidente usou um boné escrito “CPX”, abreviação de Complexo, nome como o conjunto de favelas da zona norte do Rio é chamado, durante comício na região. Bolsonaristas passaram a espalhar que a abreviação CPX seria referência a um grupo criminoso, o que é completamente falso, além de associarem toda a comunidade ao tráfico de drogas e ao crime organizado

CPX, além de sigla de “Complexo”, é muito utilizada nas redes sociais por moradores, principalmente os mais jovens, dos conjuntos de favelas que dividem a mesma região. Na capital fluminense há vários, como o Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Complexo da Maré e outros. O boné, de acordo com o jornal Voz das Comunidades, é considerado uma manifestação de representatividade para as favelas do Rio. 

Mentiras que os bolsonaristas contam

A abreviação é usada ainda por órgãos oficiais. A própria Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro menciona CPX em seus perfis nas redes sociais para simplificar a digitação. a sigla consta inclusive no resume da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do governo estadual para 2023. 

No entanto, o significado de CPX foi distorcido por bolsonaristas numa tentativa de associar Lula a facções. Como fez o ex-secretário especial da Cultura e deputado federal eleito Mario Frias (PL-SP) que associou a sigla a “cupinxa” que, segundo ele, seria “parceiro do crime” e ainda uma abreviação usada por grupos criminosos. A mentira foi também reproduzida pelos perfis da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). 

Indignados, moradores e líderes comunitários do Complexo do Alemão levaram aos trending topics do Twitter a sigla, nesta quinta (3), em defesa de Lula e para denunciar o teor racista das fake news. Nascido e criado na região e fundador do jornal Voz das Comunidades, Rene Silva destacou que “desde sempre CPX é abreviação de Complexo. assim como usam Bxd para Baixada e RJ para Rio de Janeiro”, explicou. 

Reação dos moradores

“É importante que as pessoas de favela que estão pensando ainda em votar no Bolsonaro, saibam que eles não gostam de pobre e moradores de favelas! Criar uma Fake News sobre o boné CPX que é abreviação de COMPLEXO pra dizer que é associado ao tráfico, é criminoso demais. (…) Favela não é bandido! Chega de preconceito desses covardes. Morador de favela, se liga no que pensam os eleitores dele. Eu sei que vc não é bolsonarista, pode estar votando nele sem saber mais informações, então fique ligado porque em 4 anos de governo nenhum investimento na favela!”, alertou Rene Silva. 

O ativista, empreendedor e também morador do Complexo do Alemão, Raull Santiago também classificou a estratégia da extrema direita como “caluniosa e violenta”. “É muito grave porque não é apenas um ataque ao presidente Lula, mas a todos nós, moradores e moradoras de favelas e periferias”, destacou Santiago. “Estão criando uma fake news em cima de todo uma realidade de pessoas diversas. Ou seja, além de absurdo, é grave, horrível e só mostra a face dessas pessoas. Por isso a importância da gente votar com consciência e escolher um candidato que vai na favela e veste um boné com a sigla de uma favela”, acrescentou. 

A jornalista e comentaria da GloboNews Flávia Oliveira também frisou que “criminalizar a CPX, que o Rio sabe que é abreviação de Complexo do Alemão, é horror à favela. É racismo. Não tem outro nome”. 

Caminhada de Lula no CPX Alemão

A caminhada no Complexo do Alemão foi organizada por líderes comunitários e instituições locais. O evento contou com a participação também de artistas e durou cerca de 3 horas, com milhares de moradores nas ruas. Na ocasião, Lula se comprometeu, se eleito, a chamar uma conferência nacional específica para discutir políticas para as favelas.

“Vocês podem ficar certos que vai ter uma conferência nacional dos povos das favelas pra gente decidir as políticas públicas para as favelas. Prometo para vocês que esse país vai mudar e vai mudar para melhor”, disse ele. O candidato a presidente defendeu que o Estado se faça mais presente nas comunidades, com projetos de saúde, educação, emprego, segurança, cultura e lazer.