Eleições na Bahia

Polêmica racial de ACM Neto entra no debate e Jerônimo manifesta solidariedade ao povo negro

Em seu primeiro debate entre candidatos ao governo da Bahia, depois de ter faltado a outros dois, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto foi questionado sobre sua declaração racial pelos adversários, que o chamaram de “afroconveniente”

Reprodução
Reprodução
"Quero manifestar a minha solidariedade ao povo negro da Bahia e do Brasil pelo uso inconveniente da autodeclaração racial do ex-prefeito", destacou Jerônimo Rodrigues (à direita na foto)

São Paulo – A polêmica em torno da declaração racial do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) marcou o debate promovido pela TV Globo, na noite de ontem (27), entre os candidatos ao governo da Bahia. Com alfinetadas, todos os seus três adversários relembraram da entrevista do candidato à TV Bahia, neste mês, em que ACM Neto afirmou se considerar pardo

“Você pode me colocar ao lado de uma pessoa branca, há uma diferença bem grande”, disse ele. Na ocasião, o ex-prefeito declarou, no entanto, não ser negro e ainda contestou os critérios usados pelo IBGE para a definição, que considera a soma de pardos e pretos. “Negro, não. Não diria isso, jamais”. “É erro do IBGE, não é meu. Simplesmente isso”, reagiu ACM Neto no estado onde quase 80% da população se declara negra.

Ao mencionar o caso, o ex-ministro do governo de Jair Bolsonaro João Roma (PL) e o ex-secretário de Educação da Bahia Jerônimo Rodrigues (PT) questionaram a declaração do candidato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o chamaram de “afroconveniente”. “Quero manifestar a minha solidariedade ao povo negro da Bahia e do Brasil pelo uso inconveniente da autodeclaração racial do ex-prefeito”, destacou o petista. 

Piada nacional

“Inclusive o partido dele votou contra as cotas raciais. Ser negro só é bom quando convém?”, acrescentou o candidato do PL durante o debate. Roma ironizou a situação do ex-amigo e aliado, agora rompido politicamente, pedindo para que “não cobrem de um candidato que não sabe nem a cor da sua pele. Nesses 20 anos de convivência, ele nunca me disse que era negão”, citou o ex-ministro. 

Para se defender, ACM Neto repetiu que se considera pardo desde as eleições de 2016. O candidato do União Brasil também argumentou que implementou políticas de combate ao racismo institucional e de cotas em concursos públicos da capital baiana. 

Por outro lado, foi lembrado pelo servidor público e ativista do Movimento Negro Kleber Rosa (Psol) que deveria ter humildade para reconhecer o equívoco de se declarar pardo. “Eu sou um candidato inequivocamente negro. Não basta dizer: é assim que eu me vejo. Eu não tenho opção de me passar por branco. O senhor deveria estudar um pouco mais sobre relações raciais no país. Não percebe que a sua declaração virou piada nacional”, contestou o psolista. 

PT aponta oportunismo de ACM

Este foi o primeiro debate com a participação de ACM Neto, que faltou aos outros dois confrontos, organizados pela Band e a TV Educativa da Bahia. À época dos debates anteriores, o ex-prefeito vinha liderando a corrida pelo governo da Bahia – o quarto maior colégio eleitoral do país. Mas, logo após a polêmica racial, entre outros fatores, o cenário eleitoral sofreu um reviravolta. Atualmente, seu principal adversário é Jerônimo Rodrigues que vem crescendo nas pesquisas. 

De agosto para meados de setembro, por exemplo, o ex-secretário de Educação fez a diferença entre ele e ACM Neto cair de 38 pontos percentuais para 17 pontos. Pela última pesquisa Datafolha, há uma semana, o ex-prefeito tinha 48% das intenções de voto contra 31% dos votos no petista. Ontem, pesquisa AtlasIntel/A Tarde mostrou novo cenário, com vantagem para Jerônimo e chance de ser eleito já no primeiro turno, no próximo domingo (2). Ele soma 46,5% das intenções de voto, enquanto ACM Neto tem 39,6% da preferência do eleitorado. 

A ascensão de Jerônimo tem por trás também sua consolidação como “o candidato de Lula”. Durante o debate nessa terça, o ex-secretário de Educação também acusou ACM Neto de “oportunismo” ao tentar atrair voto do eleitorado do ex-presidente do PT. “Um governador não pode ter comportamento oportunista. Primeiro disse que daria uma surra em Lula. Agora que Lula está liderando as pesquisas, ele quer pongar. Isso é oportunismo político”, criticou. Jerônimo ainda contestou a postura de neutralidade que o candidato do União Brasil vinha tendo até então em relação a Bolsonaro. 

Educação e Jerônimo 

“Escolha um lado. Para você, serve um presidente que fez o Brasil voltar para o mapa da Fome? Para nós, não serve. Temos um lado, que é o lado do povo”, completou. O candidato do PT também rebateu críticas sobre sua gestão na Educação da Bahia. Ele acusou ACM Neto de não conhecer a realidade das escolas públicas e desrespeitar os profissionais e alunos. Em contrapartida, defendeu escolas em tempo integral e educação profissional para os jovens de todo o estado. 

“O grupo do ex-prefeito ficou 40 anos no governo e não cuidou das estradas, da segurança pública e nem da saúde. Sou professor e em 2005 não tínhamos nem giz e nem sala de aula. Senti na pele as dores que seu grupo causou à Bahia e não queremos isso de volta”, argumentou Jerônimo. 

ACM Neto também protagonizou uma “lavação de roupa suja” com o candidato bolsonarista. Em um embate no campo pessoal, Roma disse que o ex-prefeito “fugiu de todos os debates”, enquanto “fazia festinha e divulgava pesquisas”. E que ele não teria “condições psicológicas de ocupar o governo do estado”. Em resposta, ACM Neto chamou o ex-ministro de “desleal” e apontou que ele teria “sede de poder”. O candidato do União Brasil ainda acrescentou que era padrinho da filha de Roma. Incomodado, o candidato do PL afirmou que a relação dos dois mudou depois que ele passou a integrar o primeiro escalão do governo Bolsonaro. 

Com informações do jornal Folha de S.Paulo