Foragido

Pastor de Goiás coordenou ação de bolsonaristas no golpe frustrado de 8 de janeiro

Usando o pseudônimo “Regina Brasil”, Thiago Bezerra organizava a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF desde o dia 4, em grupo do Telegram e pelas redes sociais. Coordenou também tentativas de bloqueio a refinarias

Reprodução/Youtube
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Pastor Thiago Bezerra diz que está "exilado, longe da casa e da família lutando pelo Brasil"

São Paulo – Reportagem da Agência Lupa publicada nesta quarta-feira (1°) revela que o pastor Thiago Bezerra, da igreja Amor Supremo, de Goiânia, coordenou ação de bolsonaristas no golpe frustrado de 8 de janeiro. Usando o pseudônimo “Regina Brasil”, ele organizava a invasão do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 4 de janeiro por meio de um grupo no Telegram e nas redes sociais. Com mais de 100 mil seguidores no Instagram, coordenou também tentativas de bloqueios a refinarias e distribuidoras de combustíveis.

E esteve em Brasília no dia 8. Em vídeo transmitido ao vivo, dizia: “É guerra. Se você sair da sua casa pra ir pra uma manifestação, fique em casa. Selva!”. O jornalista Oswaldo Eustáquio, atualmente foragido, participou da transmissão, de forma remota. 

Bezerra também publicou conteúdo nos stories em que aparecia dentro de um prédio na Praça dos Três Poderes, já com cenas de destruição. Nos primeiros vídeos, pede aos seguidores que sigam sua conta reserva no Instagram. Em seguida, apresenta a entrada do prédio, provavelmente, o Congresso.

Apesar das transmissões da invasão dos golpistas ao Congresso, Bezerra ainda não foi preso. E continua divulgando mensagens a seus seguidores. A RBA localizou um vídeo em seu canal no YouTube há seis dias, em que diz a seus seguidores que “está no exílio há mais de 70 e poucos dias, longe da família e da casa lutando pelo Brasil” e se compara aos apóstolos de Cristo, que segundo a Bíblia, eram perseguidos e presos por religiosos e políticos. “Não mudou nada de lá para cá.”

Nas mensagens aos bolsonaristas, invasão era “festa”

Segundo a Lupa, o grupo moderado por “Regina” se referia a uma “Festa da Selma” desde 4 de janeiro. A princípio, o pastor chamou para uma “festa” no dia 15, orientando a invasão aos prédios públicos, refinarias e distribuidoras de petróleo, além de supermercados. O pastor também usou o grupo para organizar as caravanas a Brasília.

Segundo a agência, que analisou as mensagens, inclusive de áudio, é nítido que o pastor é o dono da conta que orientou bolsonaristas golpistas. A voz nas mensagens da suposta moderadora é claramente masculina e muito similar à que aparece nos vídeos do pastor em outras redes sociais. Além disso, foi identificada uma conversa em que um dos usuários do grupo, se refere a “Regina” como “Pr Thiago”. Sem contar a chave Pix divulgada nos pedidos de arrecadação, vinculadas a ele.

Em um outro grupo, cujo nome mudou de “Brasil dos INDESISTIVEL” para “Maior é o que está em nós!”, Bezerra publicou gráficos. Isso foi em 4 de janeiro, e se referiam ao planejamento do ato golpista, no caso, a “festa”. Nessa linguagem metafórica, segundo a Lupa, o local seria Jericó; as refinarias eram “Açúcar Refinado” e as distribuidoras, o “distribuidor de açúcar” e assim por diante.

Naquele mesmo 4 de janeiro compartilhou áudio dizendo que a invasão era uma “guerra”. “Hoje viramos a resistência do Brasil. Não é pra ir pra Brasília um dia e voltar no outro, não vai resolver o problema da nação. Manda as crianças pra casa do vovô e vem pra guerra”, disse. “Muitos de nós vamos ser presos”, disse, antevendo conflito com as forças de segurança.

Pastor também pediu PIX para pagar transporte

Bezerra fala também de “ficar lá e não voltar para o QG”, que aponta para a intenção de invadir e ocupar edifícios públicos antes de 8 de janeiro. A reportagem da Lupa relata ainda detalhes das instruções para a invasão a todos esses espaços propostos. No caso das distribuidoras, a ideia era impedir a entrada e saída de veículos para forçar o desabastecimento de combustível.

Por meio do grupo, o pastor também pediu doações para transportar bolsonaristas golpistas para Brasília. Em áudio de 5 de janeiro, pediu PIX no total de R$ 150 mil para custear 10 ônibus para trazer pessoas da “tribo que mexe com chá”.

E usou seu próprio Instagram para divulgar os atos. Em 6 de janeiro, Bezerra publicou um vídeo convidando seguidores a “mandar uma mensagem” para os “corruptos”. E outro para a “Festa da Selma” em 15 de janeiro. Segundo ele, havia apoio do “Açúcar União”, “Líder Segurança de Condomínios” e “Instituto Ayrton Senna”.

No dia seguinte, mudou o discurso e disse no Instagram ser contra “quebradeira” e “depredação do patrimônio público”. E acusou, sem provas, que havia ‘infiltrados’. Logo depois, usando o grupo da “Regina Brasil”, o pastor chegou a enviar vídeo pedindo dinheiro para os “patriotas”.

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Redação: Cida de Oliveira