Jogo bruto

Oposição vai à Justiça para suspender ‘fila da CPI’ que blinda Tarcísio em São Paulo

Protocolo de pedidos de CPIs começa amanhã, mas assessores de parlamentares governistas estão acampados na fila há dois dias, após terem recebido “informação privilegiada”

Divulgação/PT na Alesp
Divulgação/PT na Alesp
Marcolino prevê "batalha dura" para fazer valer o direito da oposição em fiscalizar o governo

São Paulo – O líder em exercício da Federação Brasil da Esperança (PT,PCdoB e PV, com 19 parlamentares) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), deputado Luiz Claudio Marcolino (PT), entrou na Justiça para barrar a “fila da CPI” que busca blindar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele apresentou ao Tribunal de Justiça mandado de segurança que busca anular o que a oposição classifica como uma manobra “sorrateira”.

Desde a última terça-feira (20), assessores de parlamentares do PL e Republicanos fazem fila no guichê que protocola os pedidos de abertura das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). O registros, no entanto, serão feitos apenas a partir de amanhã.

A oposição alega que a base governista recebeu “informação privilegiada” sobre o novo protocolo presencial para os pedidos de CPIs. Até então, esses procedimentos presenciais estavam suspensos até esta quinta (23). No entanto, a fila de assessores se formou ainda antes da nova norma ser publicada no Diário Oficial, por determinação do presidente da Alesp, deputado André do Prado (PL).

O regimento da Assembleia só permite o funcionamento de cinco CPIs simultâneas, cujos trâmites de instalação têm início por ordem de protocolo. Além disso, há um limite de 20 CPIs a cada legislatura. Com a fila, a intenção dos apoiadores do governador é preencher todas essas vagas, com proposituras por vezes irrelevantes, apenas para impedir os trabalhos da oposição.

“A situação é tão desprovida de qualquer razoabilidade que servidores que receberam senhas estavam impedidos de se retirar para ir ao banheiro, sob pena de perderem o lugar na fila e a senha”, disse Marcolino.

Direito da minoria

Desse modo, Marcolino solicita a anulação desse ato que determinou o protocolo por via impressa, que a fila formada por assessores da base governista “não seja reconhecida como meio de definição da ordem cronológica”.

Além disso, pede a suspensão do protocolo impresso, até que a Mesa Diretora da Casa edite novo regulamento. O objetivo é “assegurar o direito da minoria, com democracia e publicidade, e garantia de que as informações sejam democratizadas e disponibilizadas para todos parlamentares”.

“No transcorrer dos dias da suspensão, sem que houvesse qualquer ato da presidência regulamentando o protocolo das proposituras, a minoria parlamentar foi surpreendida na manhã do dia 21 de março com uma fila de mais de 50 pessoas vinculadas à maioria de parlamentares”, relata Marcolino na ação.

“Logo na sequência da formação da fila, a presidência, por meio da Secretaria Geral Parlamentar, passou a distribuir senha para os servidores que estavam na fila, compactuando com o intuito da maioria parlamentar de impedir o direito constitucional da minoria de protocolar requerimentos de comissão parlamentar de inquérito”, acrescenta. Nesse sentido, o parlamentar destaca que o regimento interno da Assembleia Legislativa não prevê nenhum regulamento sobre a distribuição de senhas.

Articulação

Conforme a RBA antecipou ontem, os deputados da oposição estão atuando em duas frentes para tentar romper a blindagem erguida pela base do governo. Além de judicializar a questão, os parlamentares ainda apostam na política.

Assim, o deputado Eduardo Suplicy (PT) – o mais votado nas últimas eleições – propôs que seja respeitada a proporcionalidade das bancadas na proposição das CPIs. Ele pediu “bom senso” a André do Prado e lembrou que o critério da proporcionalidade também foi adotado na eleição da Mesa, garantindo a sua vitória como presidente.

Por outro lado, a oposição está obstruindo todas as atividades da Alesp, como votações e eventos. O intuito é pressionar a base do governo para que aceite negociar uma solução para a “fila da CPI”. “Já percebemos que vai ser uma batalha dura aqui dentro da Alesp, com a bancada governista tentando impedir o processo de investigação por parte da oposição”, declarou o líder Marcolino, pelas redes sociais.