bolsonarismo golpista

‘O direito de manifestação não se aplica a atos contra a democracia’, diz Gleisi, sobre nota das Forças Armadas

Comando das Forças Armadas, que antes se reuniu com Bolsonaro, divulga comunicado em que condena “excessos” dos bolsonaristas golspistas e posa de defensor do estado democrático de direito

Foto: André Borges
Foto: André Borges
Estão na mira da CPI pessoas que participaram de atos que questionaram os resultados das urnas em 2022

São Paulo – A presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann, criticou a nota conjunta que os comandantes das Forças Armadas divulgaram nesta sexta-feira (11) sobre os protestos que ocorrem no país. No documento, que veio a público um dia após encontro da cúpula militar com o presidente Jair Bolsonaro (PL), o comando do Exército, Marinha e Aeronáutica condena “excessos”, mas defende o “direito” do que chama de manifestações legítimas. Desde 30 de outubro, apoiadores de Bolsonaro, financiados por empresários bolsonaristas, promovem atos em estradas e diante de quartéis, pedindo intervenção militar para derrubar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Não é papel dos comandantes militares opinar sobre o processo político, muito menos sobre a atuação das instituições republicanas. O direito de manifestação não se aplica a atos contra a democracia, que devem ser tratados pelo nome: golpismo. E combatidos. Não são pacíficos, nem ordeiros”, disse Gleisi, por meio de sua conta no Twitter.

Forças Armadas indiretamente apoiam os atos de bolsonaristas

Na nota, os comandantes destacam a legislação que assegura o direito de manifestação. No caso, a Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021: “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”. Ou seja, os atos podem continuar.

De maneira dúbia, afirmam ser condenáveis “eventuais restrições” a direitos. “Eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública”, diz trecho da nota.

Esses “excessos” e “eventuais restrições de direitos” são crime e motivos de punição, segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Tanto que hoje ele decidiu ampliar para todo o território nacional a punição contra donos de caminhão e empresas financiadoras dos bloqueios em estradas e vias públicas.

Na decisão, Moraes afirma que a “persistência de atos criminosos e antidemocráticos em todo o país, contrários à democracia, ao Estado de Direito e à proclamação do resultado das eleições” recomenda a extensão da decisão anterior “em todo o território nacional”.

Comandantes aprovam golpistas diante de quartéis

Quanto à permanência dos bolsonaristas golpistas na frente dos quartéis, o comandante do Exército, general Freire Gomes, já havia se manifestado ontem. Para eles, os atos não devem ser reprimidos pelos batalhões por mais que possam causar distúrbios nas regiões militares.

A orientação foi repassada durante reunião por videoconferência, com cerca de 150 generais da ativa, com duas horas de duração, segundo o jornal Folha de S.Paulo. A pauta principal da reunião foram os resultados das operações de garantia de votação e apuração e os demais trabalhos realizados pelo Exército durante o ano.

O colunista do portal UOL Leonardo Sakamoto também criticou a nota conjunta do Exército, Marinha e Aeronáutica. “Os comandantes das Forças Armadas arranjaram tempo para passar pano para os golpistas que acampam em torno de quarteis através de uma nota. Enquanto isso, as fronteiras são uma peneira, pobres morrem ‘por engano’ nas periferias e Viagra com sobrepreço é comprado pelos militares”, disse, também pelo Twitter.

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Redação: Cida de Oliveira


Leia a íntegra da nota das Forças Armadas

Às Instituições e ao Povo Brasileiro

Acerca das manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do País, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira reafirmam seu compromisso irrestrito e inabalável com o Povo Brasileiro, com a democracia e com a harmonia política e social do Brasil, ratificado pelos valores e pelas tradições das Forças Armadas, sempre presentes e moderadoras nos mais importantes momentos de nossa história.

A Constituição Federal estabelece os deveres e os direitos a serem observados por todos os brasileiros e que devem ser assegurados pelas Instituições, especialmente no que tange à livre manifestação do pensamento; à liberdade de reunião, pacificamente; e à liberdade de locomoção no território nacional.

Nesse aspecto, ao regulamentar disposições do texto constitucional, por meio da Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, o Parlamento Brasileiro foi bastante claro ao estabelecer que: “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.

Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade.

A solução a possíveis controvérsias no seio da sociedade deve valer-se dos instrumentos legais do estado democrático de direito. Como forma essencial para o restabelecimento e a manutenção da paz social, cabe às autoridades da República, instituídas pelo Povo, o exercício do poder que “Dele” emana, a imediata atenção a todas as demandas legais e legítimas da população, bem como a estrita observância das atribuições e dos limites de suas competências, nos termos da Constituição Federal e da legislação.

Da mesma forma, reiteramos a crença na importância da independência dos Poderes, em particular do Legislativo, Casa do Povo, destinatário natural dos anseios e pleitos da população, em nome da qual legisla e atua, sempre na busca de corrigir possíveis arbitrariedades ou descaminhos autocráticos que possam colocar em risco o bem maior de nossa sociedade, qual seja, a sua Liberdade.

A construção da verdadeira Democracia pressupõe o culto à tolerância, à ordem e à paz social. As Forças Armadas permanecem vigilantes, atentas e focadas em seu papel constitucional na garantia de nossa Soberania, da Ordem e do Progresso, sempre em defesa de nosso Povo.

Assim, temos primado pela Legalidade, Legitimidade e Estabilidade, transmitindo a nossos subordinados serenidade, confiança na cadeia de comando, coesão e patriotismo. O foco continuará a ser mantido no incansável cumprimento das nobres missões de Soldados Brasileiros, tendo como pilares de nossas convicções a Fé no Brasil e em seu pacífico e admirável Povo.

Brasília/DF, 11 de novembro de 2022.

Almirante de Esquadra Almir Garnier Santos
Comandante da Marinha

General de Exército Marco Antonio Freire Gomes
Comandante do Exército

Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior
Comandante da Aeronáutica