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Ministra da Saúde, Nísia Trindade, critica atraso nas pautas de gênero e diz que é alvo de misoginia

Primeira mulher a ocupar o ministério enquanto as mulheres são 70% da força de trabalho do SUS, Nísia tem gestão aprovada por especialistas, trabalhadores e gestores pela recuperação das políticas de saúde

Divulgação/Abrasco
Divulgação/Abrasco
"Teremos um memorial da covid e teremos uma política de memória desse triste tempo"

São Paulo – A ministra da Saúde, Nísia Trindade, primeira mulher a dirigir uma das pastas mais importantes do governo, disse que é alvo de misoginia e que o país está atrasado nas pautas de gênero. Em entrevista ao jornalista Leandro Demori, do programa DR com Demori, da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), ela lembrou que as mulheres são maioria entre os trabalhadores do SUS.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) tem 70% de sua força de trabalho feminina. Vemos como estamos atrasados na agenda de gênero. E não é por falta de quadros qualificados no campo da saúde. Outra questão é o fato de eu ser uma socióloga dedicada à área de saúde. Isso aparece muitas vezes. Sofro esse duplo preconceito”, disse.

Cientista social e doutora em Sociologia, Nísia Trindade é pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao Ministério da Saúde, professora e integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Mundial de Ciências (TWAS). Em 2016, Nísia foi escolhida pela maioria da comunidade dos servidores da Fiocruz para presidir a entidade, acabou barrada pelo governo golpista de Michel Temer, que queria dar posse à segunda colocada. Mas foi empossada devido à pressão dentro e fora da entidade científica centenária. E foi eleita para um segundo mandato.

Na equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desde o início deste terceiro mandato, resistiu à pressão do Centrão pelo seu cargo, um dos mais cobiçados. E começou o segundo ano no comando da pasta na mira de bolsonaristas e até de setores da esquerda. Agora por causa da edição de uma portaria em dezembro, que travaria recursos extras do antigo orçamento secreto para estados e municípios, segundo alguns parlamentares. Ou seja, segundo eles, não houve clareza sobre os critérios adotados para as liberações. E que parte dos recursos para cidades com apadrinhados da base foi contemplada e outras não.

No entanto, a gestão de Nísia tem sido elogiada por especialistas e associações do setor pelos avanços nas taxas de vacinação no país. Ela revogou medidas anticientíficas e até violentas, como a que exigia dos médicos o acionamento da polícia em casos de aborto legal no SUS. E encarou a situação do cuidado aos mais de mil yanomamis. Nísia também retomou programas públicos de grande alcance social, como o Farmácia Popular e o Mais Médicos. É também papel da ministra coordenar nacionalmente as ações do SUS.

Indagada sobre o movimento antivacina, que compromete o Programa Nacional de Imunizações e prejudica a população, Nísia defende a ciência. “Ao que parece, muitas pessoas não serão convencidas, mas eu não perco a esperança. Nós temos que lutar com nossos argumentos da ciência e de evidências que não são de disputa política. Eu me preocupo mais com aquelas pessoas influenciadas por informações falsas que aparecem como se fossem científicas. Esse é um problema do negacionismo científico hoje”.

Na entrevista a Leandro Demori, Nísia também destacou a importância do trabalho dos quadros técnicos do Ministério que comanda. E a reestruturação das equipes de diversas áreas, como o programa de referência no tratamento de HIV e AIDS. “Algo muito importante é recuperar a confiança no Ministério da Saúde, nas informações fornecidas, nas orientações e nos protocolos. Isso tudo estava muito abalado.”

Convidada a assumir um dos mais disputados ministérios do país em um momento de caos no pós-pandemia, ela conta como foi receber esse convite. “Eu tinha que aceitar aquele desafio. O meu primeiro sentimento foi de uma emoção engajada”, recorda ao mencionar a experiência na gestão da Fiocruz no enfrentamento à crise humanitária provocada pela Covid-19.

O programa DR com Demori é apresentado pela TV Brasil nesta terça (23), às 22h. A atração tem uma versão em formato radiofônico transmitida no mesmo dia, mais tarde, às 23h, na Rádio MEC e na Rádio Nacional. O conteúdo também fica disponível para o público assistir no app TV Brasil Play e no canal do YouTube da TV Brasil.

Redação: Cida de Oliveira