Lina Vieira nega pressão de Dilma sobre investigação

Em depoimento à CCJ do Senado, ex-secretária da Receita Federal reitera encontro com Dilma, mas nega intenção do governo de abandonar fiscalização da familia de José Sarney. 'Entendi como pedido de celeridade'

Depoimento da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, na CCJ (Foto: José Cruz/Agência Senado)

A ex-secretária da Receita Federal, Lina Vieira, reafirmou que se encontrou com a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff para falar sobre a fiscalização da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Em depoimento na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, ela negou ter havido pressão da ministra.

Lina Vieira disse ter entendido o pedido de “agilizar as investigações do filho de Sarney” apenas como demanda de celeridade e não como pressão para mudar a orientação da ação da Receita. 

Ainda sobre a investigação de Fernando Sarney, Lina Vieira afirmou que o processo se arrasta desde 2007 e que a Justiça já havia solicitado mais agilidade às apurações.

Lina negou ter interesses eleitorais ou disposição para fazer jogo político de “a ou de b” e confirmou o encontro com Erenice Guerra, assessora da Casa Civil, para agendar reunião com Dilma. Lina Vieira disse não ter como provar os encontros porque eles não estavam registrados em sua agenda.

“Não almejo nem em sonho disputar cargos eleitorais”, afirmou. Lina Vieira garantiu querer apenas preservar sua imagem e garantir a verdade dos fatos. “Não vim a esta comissão com o propósito de fazer o jogo de A ou de B, de X ou de Y”, declarou. “Não tenho interesse em alimentar polêmicas, nem em prejudicar ninguém.”

Segundo Lina, os jornalistas da Folha de S.Paulo foram entrevistá-la para confirmar a informação que tinham do encontro com a ministra Dilma. Ela negou ter procurado os jornalistas para a entrevista.

Sobre sua saída do governo, ela declarou que não tem ressentimentos. “Recebi como natural a exoneração e nem questionei o motivo.”

Lina recusou-se a responder perguntas relacionadas ao procedimento contábil adotado pela Petrobras que gerou o pedido de CPI para investigar a estatal. Ela tampouco forneceu informações sobre outras investigações a respeito da família de José Sarney, por se tratar de fiscalizações sigilosas.

Protestos governistas

Antes do início do depoimento, o líder do governo no Senado Romero Jucá (PMDB-RO) criticou o uso da Comissão para um depoimento relacionado à economia. Na semana passada, após o depoimento do secretário da Receita Otacílio Cartaxo na CPI da Petrobras, a oposição aproveitou ausências governistas na CCJ para chamar Lina Vieira.

Foram duas horas de debates envolvendo lideranças da base do governo e da oposição até que a ex-secretária fosse chamada. Senadores do PSDB, do DEM e Pedro Simon (PMDB-RS) acusaram Jucá de querer suspender o depoimento. O líder do governo negou a intenção de impedir a sessão, mas quis evitar que a manobra se repetisse em outras comissões.