Mobilização continental

Líderes latino-americanos pedem a Ciro que desista de candidatura em nome da democracia

Em carta aberta, líderes defendem a vitória de Lula no primeiro turno, “porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, mas entre fascismo e democracia”

Marcello Casal Jr. / ABr
Marcello Casal Jr. / ABr
Carta a Ciro Gomes: "Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder"

São Paulo – Carta aberta divulgada nesta quarta-feira (21) por intelectuais e líderes políticos latino-americanos pede ao candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) que desista de sua candidatura para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que ele possa vencer no primeiro turno, em 2 de outubro. No texto, os líderes justificam o pedido “porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno”.

“A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo”, afirma ainda o texto.

A carta inclui nomes como o do argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, do ex-presidente Rafael Correa, da senadora Piedad Córdoba, do deputado venezuelano Juan Eduardo Romero e o ex-ministro boliviano Juan Ramón Quintana Taborga.

Confira a íntegra da carta, em tradução livre

Querido companheiro Ciro Gomes:

Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente antiimperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.

Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna, porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerada um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.

Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou perto de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele. 

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Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que ele continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Que não é a vez dele, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos. 

Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.

Assinam a carta

Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel de la Paz, Argentina

Rafael Correa, ex-presidente do Equador

Stella Calloni, jornalista, Argentina

E. Raúl Zaffaroni, ex-juiz da Corte Suprema, Argentina

Atilio Boron, politólogo, Argentina

Piedad Córdoba, senadora, Colômbia

Amado Boudou, ex-vice-presidente da Argentina

Gabriela Rivadeneira, ex-presidenta da Assembleia Nacional, Equador

Fernando Buen Abad, filósofo, México

Ignacio Ramonet, jornalista, França/Espanha

Ernesto Villegas, República Bolivariana da Venezuela

Hugo Moldiz, ex-ministro, Bolívia

Jaime Lorca, Fundação Memória e Futuro, Chile

Xavier Lasso, jornalista, Equador

Katu Arkonada, País Basco/Bolívia

Jorge Lara Castro, ex-chanceler, Paraguai

Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colômbia

Esteban Silva, professor universitário, Chile

María Seoane, jornalista, Argentina

Mempo Giardinelli, escritor, Argentina

Juan Eduardo Romero, deputado PSUV, Assembleia Nacional, Venezuela

Alicia Entel, professora universitária, Argentina

Gilberto López y Rivas, antropólogo, México

Daniel Jadue, prefeito de Recoleta, Chile

Telma Luzzani, jornalista, Argentina

Florencia Saintout, presidenta, Instituto Cultural da provincia de Buenos Aires, Argentina

Ramón Grossfogel, professor universitário, Puerto Rico

Mario Giorgi, Rádio Undav, Argentina

Claudia V. Rocca, seção argentina da Associação Americana de Juristas

María Fernanda Barretto, escritora colombo-venezuelana  

Daniel de Santis, professor universitário, Argentina

José Seoane, professor universitário, Argentina

Paola Gallo Peláez, Co-presidenta del Mopassol, Argentina 

Jorge Cantor, Argentina 

Rodolfo Hamawi, professor universitário, Argentina

Emilio Taddei, professor universitário, Argentina

Julio Ferrer, jornalista, Argentina

Juan Ramón Quintana Taborga, ex-ministro, Bolívia

Andrea V. Vlahusic, Co-presidenta del Mopassol, Argentina

Héctor Bernardo, jornalista, Argentina

María Fernanda de la Quintana, jornalista, Argentina

Jorge Elbaum, professor universitário, Argentina

Carlos López López, parlamentar do Mercosur 

Ana María Ramb, escritora, Argentina

Pamela Dávila, jornalista, Ecuador

Rafael Urrejola Ditborn, jornalista, Chile

Paula Klachko, professora universitária, Coord. REDH/Cap. Argentino 

Henry Morales, Coord. Movimiento Tzuk Kim Pop, Guatemala

Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina

Carlos Bedoya, Coord. Latindadd, Perú

Alexia Massholder, profesesora universitária, Argentina

Claudio Katz, economista, Argentina

Marcelo Rodríguez, professor universitário, Argentina 

Mario Alderete, Argentina

Graciela Josevich, AUNA Argentina


Para aderir à carta, envie mensagem a: cirorenuncia@gmail.com


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