Renan e Alves consolidam PMDB como maior força do Congresso Nacional

Com nomes polêmicos, partido se consolida na sustentação do governo Dilma, mas disputa pelas lideranças das bancadas revela legenda dividida

Apesar da nova denúncia da PGR, Renan Calheiros não deverá encontrar dificuldade para chegar pela segunda vez à presidência do Senado (foto: Waldemir Barreto / Agência Senado)

Rio de Janeiro – A provável eleição do senador Renan Calheiros (AL) para a presidência do Senado, amanhã (1º), inaugurará um novo período de consolidação do PMDB como maior força do Parlamento e principal partido de sustentação do governo de Dilma Rousseff, depois do PT. Também favorito para chegar à presidência da Câmara na segunda-feira (4), com o deputado Henrique Alves (RN), o partido passará a comandar as duas casas do Congresso Nacional.

Renan garante ter pelo menos 58 votos entre os 81 senadores, margem que, se confirmada, garantirá sua volta à presidência do Senado cinco anos após ter deixado o cargo para evitar a cassação do mandato. Na ocasião, se descobriu que Cláudio Gontijo, lobista ligado à empreiteira Mendes Júnior, pagava as despesas de uma ex-namorada do senador, a jornalista Mônica Veloso, com quem ele tem uma filha.

Na sexta-feira passada (25), faltando uma semana para a eleição da Mesa, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, desengavetou o caso e apresentou denúncia contra Renan no STF. Sob suspeita de ter agido por motivação política, Gurgel disse que não teve tempo de fazer isso antes porque estava envolvido demais com o julgamento da Ação Penal 470, conhecida por processo do mensalão. Petistas, incluindo o presidente do partido, Rui Falcão, têm acusado a Procuradoria-Geral de agir partidariamente contra o PT e o governo Dilma.

Enquanto isso, a oposição ao governo no Senado, minoritária, estava dividida no processo e chegou a lançar dois candidatos: Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) – hoje (31), Randolfe retirou sua candidatura e decidiu apoiar o pedetista. Já o PSDB pratica o jogo duplo. De um lado, o senador Aécio Neves (MG), virtual candidato tucano à Presidência da República no ano que vem, rechaça publicamente a candidatura de Renan. De outro, o líder do partido, senador Álvaro Dias (PR), negocia com o PMDB para que os tucanos fiquem com a 1ª Secretaria do Senado, responsável por um dos maiores orçamentos da casa. No final da tarde de hoje, a bancada do PSDB anunciou formal a Taques.

Barbada

Na Câmara, Henrique Alves, que tem o apoio do PT e demais partidos da base, também contará com os votos de boa parte do PSDB e do DEM para chegar à presidência da casa. No caso dos tucanos, pesa a disputa com o PSD para saber qual dos dois partidos – cada um com 51 deputados – é a terceira maior legenda e tem direito, pelo critério da proporcionalidade, a ocupar a 1ª Secretaria. Esta funciona como uma espécie de prefeitura da Câmara e controla orçamento anual de R$ 23 milhões. Após declarações de Alves de que antiguidade é posto, e que isso favoreceria naturalmente o PSDB, não serão os tucanos que impedirão a vitória do candidato peemedebista.

Os adversários de Alves, salvo uma reviravolta de última hora, também parecem destinados a fazer figuração. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) deve obter o voto dos descontentes com os arranjos políticos em curso na Câmara, mas não tem o apoio oficial sequer do presidente de seu partido, o governador de Pernambuco Eduardo Campos.

Já Rose de Freitas (PMDB-ES), atual vice-presidente da Câmara, lançou-se candidata por pressão do chamado “baixo clero”, grupo de deputados de menor expressão, mas não deverá repetir a surpresa provocada pelo deputado Severino Cavalcanti (PE) em 2005. O maior valor simbólico de sua candidatura é confirmar que o PMDB é forte, mas permanece uma legenda dividida e multifacetada na Câmara.

Na tarde de hoje, o PSOL também decidiu lançar candidatura própria, com o deputado Chico Alencar (RJ), sob argumento de que seria necessário se contrapor à “moral homogênea” dos demais concorrentes.

Assim como Renan, Alves, que está em seu 11º mandato, também foi alvo recente de denúncias surgidas na grande imprensa. O deputado foi acusado de apresentar emendas para beneficiar a empresa de um então assessor parlamentar, Aluizio Dutra de Almeida, que também era tesoureiro do PMDB no Rio Grande do Norte. Após exonerar Almeida, Alves angariou apoio dentro e fora do partido e manteve sua candidatura.

Briga pelas lideranças

A disputa pela liderança da bancada do PMDB na Câmara, por sua vez, é palco da mais dura batalha política em curso nos últimos dias em Brasília. Com o decidido – e decisivo – apoio do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o deputado Eduardo Cunha aparece como favorito na disputa contra Sandro Mabel (GO) e Osmar Terra (RS), mas não goza da simpatia da presidenta Dilma, preocupada com o histórico de Cunha. O deputado já foi alvo de diversas denúncias de irregularidades no passado, quando comandou a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) no Rio de Janeiro, e também por suas ingerências nos fundos de pensão da empresa estatal Furnas.

Com pouco tempo de PMDB, Mabel é um empresário de sucesso e um nome consolidado na Câmara, fato que o coloca como um azarão ainda capaz de surpreender o favoritismo de Cunha. Aos interlocutores, o deputado goiano garante já ter pelo menos 41 votos assegurados, o que garantiria sua vitória. Terra, mais ligado aos setores ruralistas do partido, corre por fora.

O acirramento da disputa pela liderança do PMDB na Câmara fez com que os três candidatos se reunissem ontem (30) para aparar as arestas e evitar ataques públicos: “Quem vai segurar essa baixaria? Desse jeito, como ficaremos depois das eleições?”, indagou Terra. Cunha se queixou da postura de Mabel: “Não adianta nós nos sentarmos para conversar, sermos hipócritas, e depois continuarem as caneladas”, disse. Mabel retrucou que cada candidato “tem seus apaixonados que fogem um pouco ao controle”.

No Senado, a disputa pela liderança da bancada do PMDB é mais tranquila, mas não livre de conflitos. O grupo de Renan Calheiros, com o apoio do senador José Sarney (AP), quer que Romero Jucá (RR) volte a ocupar o posto. Essa articulação, no entanto, é combatida nos bastidores pelo senador Eunício Oliveira (CE), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da casa e também interessado em ocupar a liderança do partido.

A disputa já teria sido levada ao conhecimento da presidenta Dilma, mas o Planalto quer que o PMDB resolva a questão internamente.