Cenário eleitoral

Novas filiações reforçam espaço para diferentes lutas políticas no PT, aponta cientista político

Paulo Niccoli Ramirez vê sinalização para fortalecimento de pautas LGBTQIA+ e no embate antirracista com filiação de Fabiano Contarato e Douglas Belchior

Leopoldo Silva/Ag. Senado
Leopoldo Silva/Ag. Senado
Nesta segunda-feira (13), Contarato anunciou que deixou o partido Rede Sustentabilidade para se filiar ao PT.

São Paulo – Há uma inflexão importante, para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, consolidada na filiação do senador Fabiano Contarato ao PT, que pode indicar uma rejeição maior ao lavajatismo partidarizado, representado nas candidaturas do ex-juiz e ministro Sergio Moro e do ex-coordenador da força tarefa, Deltan Dallagnol, ambos do Podemos. É o que destaca o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP) em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual

Ontem (13), Contarato anunciou a saída do partido Rede Sustentabilidade para se filiar ao PT. Delegado da Polícia Civil do Espírito Santo por quase 30 anos, o senador passou a ser um crítico de métodos adotados pela Operação Lava Jato. Em seu primeiro ano de Brasília, ele chegou a ‘bater boca’ com então ministro Sergio Moro.

Em entrevista ao The Intercept Brasil, o senador contou que, mesmo com 27 anos de polícia, a única vez em que foi ameaçado de morte foi após o embate com Moro.

Anti-lavajatismo partidário

A avaliação de Niccoli é que a mudança de partido e as críticas à operação “demonstram uma mudança de opinião de parte da sociedade e do corpo político brasileiro que antes saudavam a Lava Jato como um grande processo de ‘caça aos corruptos'”. Mas que, “no entanto, terrivelmente teve como principal objetivo tirar de cena a qualquer custo o ex-presidente Lula”, pondera. Para o cientista, a figura do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin também “é importante nesse jogo de xadrez para que o PT consiga atrair eventualmente arrependidos com a Lava Jato e eleitores que venham a se identificar com a terceira via”. 

“Sergio Moro usou da Lava Jato como um vale-tudo para tirar Lula da disputa eleitoral. E agora o que estamos acompanhando é que os congressistas norte-americanos querem maiores explicações sobre qual a participação dos Estados Unidos, inclusive da CIA, para treinar Sergio Moro num curso em Harvard com o objetivo de prejudicar os processos democráticos, em favor dos interesses econômicos norte-americanos”, observa Níccoli. “Sergio Moro terá muito o que explicar nas próximas eleições.” 

Pauta do PT

A filiação de Contarato ao PT foi a segunda de impacto anunciada em uma semana. Na última segunda-feira (6), o partido filiou o ativista antirracista, fundador da UNEafro e articulador da Coalizão Negra por Direitos, Douglas Belchior. De acordo com Níccoli, isto sinaliza um espaço maior dentro da legenda para luta antirracista e pelos direitos da população LGBTQIA+ em 2022. 

“Tudo isso diante do fracasso do governo Bolsonaro com discursos homofóbicos e contrários à diversidade. E isso implica no fortalecimento do PT como uma bandeira que busca aglomerar diferentes segmentos da sociedade e lutas políticas”, analisa. 

E a Rede?

Por outro lado, o cientista político vê uma fragmentação no partido Rede Sustentabilidade. Segunda agremiação que mais elegeu senadores em 2018, a Rede tem agora somente o senador Randolfe Rodrigues pelo Amapá. Além de Contarato, também deixaram a legenda Alessandro Vieira (SE) que migrou para o Cidadania, Flávio Arns (PR)  e Styvenson Valentim (RN), que foram para o Podemos. Também se cogita que a única deputada federal pela Rede, Joênia Wapichana (RR), possa deixar o partido. 

“A Rede não conseguiu constituir esse movimento (de mobilização do eleitorado) nos últimos anos. VImosa participação de um ou outro senador do partido em pautas importantes, mas falta ainda um contato direto com o povo e uma comunicação mais forte com a sociedade para além do viés institucional no Congresso”, justifica Niccoli.

Confira a entrevista

Redação: Clara Assunção