Lula + Alckmin

Aliança deve ser programática, por reconstrução nacional e fim da era Bolsonaro, defende analista

Para Maria do Socorro Braga, uma chapa reunindo o ex-presidente e o ex-governador tucano para disputar a Presidência pode significar mais do que análises apaixonadas indicam

Reprodução/Youtube
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Em 2006, então candidatos, Lula e Alckmin disputaram o segundo turno e o petista foi reeleito presidente

São Paulo – Uma possível chapa reunindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin divide opiniões na centro-esquerda e dentro do próprio PT. Mas o cenário político e social do país – ante a destruição provocada por Jair Bolsonaro – é muito grave. A partir desse quadro, a ideia de tal aliança pode significar mais do que análises apaixonadas indicam. Uma chapa Lula-Alckmin, dependendo de como for costurada, pode significar amadurecimento político e pragmatismo diante de duas emergências interligadas: a reconstrução nacional e a retirada de Bolsonaro do poder. Nenhuma das duas é fácil.

A opinião é da cientista política Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). O ex-governador paulista, na iminência de deixar o PSDB, ainda não decidiu se vai para o PSB, o PSD ou o Solidariedade (hipótese remota, apesar do convite de Paulo Pereira da Silva).

Para ela, a esquerda sozinha não conseguirá vencer a eleição presidencial em 2022. A constatação pode não ser a mais agradável para alguns setores, mas pode significar mais do que se pensa. “Com esse governo atual, a democracia está se acabando. Hoje ela é só formal. A aliança viria para tentar reconstruir o país, voltar ao caminho da normalidade. A instabilidade hoje é tanta que a gente chega a questionar se o resultado da eleição de 22 será respeitado, se Lula vencer.”

Diante dos riscos reais e da conjuntura mais difícil desde a redemocratização do país, uma “frente ampla” – simbolizada pela chapa – seria de fato a união de esforços por essa reconstrução nacional. “Talvez um novo contrato social, quem sabe uma nova Constituinte ou nova reorganização da sociedade brasileira”, pontua Maria do Socorro. Tal aliança precisa ser feita a partir de questões programáticas, o que não é simples: seria a reunião de um candidato de esquerda ou centro-esquerda com um vice “de direita, sim”.

“É algo complicado para setores do PT, por causa do histórico. Mas tanto Lula quanto Alckmin têm interesses pragmáticos”, diz a professora da Ufscar. Lula, porque ele tem o objetivo de retornar à presidência e reconstruir a imagem do partido, muito abalada pela Lava Jato, e depois de ter sido preso e impedido de participar de uma eleição que poderia ter ganho.

E Alckmin, hoje no ostracismo, teria uma chance muito concreta de dar o troco no líder que o neutralizou e inviabilizou no PSDB: o governador de São Paulo, João Doria, candidato tucano ao Planalto. Alckmin tem também em mãos até mesmo, em última análise, a possibilidade de chegar à presidência da República, lembra a professora.

Acordo programático

Uma agenda distributiva, redução de desigualdade, crescimento com distribuição de renda, aumento do salário mínimo etc., legados, do PT, são questões que têm de estar claramente dentro de um acordo programático. “O qual, em certa medida, tem a ver com o governo FHC e o Plano Real”, diz Maria do Socorro.

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A costura por tal acordo não será fácil, mas depende de maturidade política e pragmatismo diante de um risco real, na opinião da cientista política. O risco é o pesadelo do bolsonarismo se renovar com a reeleição do atual mandatário ou as elites encontrarem outra alternativa, seja com o ex-juiz Sergio Moro, seja com outro “coelho da cartola”, considerando que a eleição ainda está distante.

Antipetismo não morreu

A analista lembra que o antipetismo está longe de ter acabado, e que as pesquisas que hoje apontam Lula no segundo turno podem ser ilusórias. “O PT que não fique de salto alto. Não pense que será fácil ganhar essas eleições. É, na verdade, muito difícil”, alerta. “Tem muita coisa em jogo. Por isso a aliança com esse setor conservador é importante. Traz um ganho – além de uma agenda de reconstrução da democracia, mesmo que o PT saia do processo mais conservador entre aspas.”

Para a professora, uma eventual aliança precisaria colocar equipes para pensar um programa amplo. Muita gente, como sempre, vai votar “com o bolso” no ano que vem. O eleitor da classe C, hoje endividada – “que talvez não tenha conseguido pagar a prestação de uma geladeira” –, pode definir a eleição, acredita Maria do Socorro. Bolsonaro tem até o ano que vem para tentar manter ou ampliar o voto desse eleitorado, que não  é ideológico. E, a depender de medidas populistas que o governo venha a adotar, pode achar mais conveniente “deixar como está”.

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