Minas Gerais

Em Minas, Lula prega ‘relação civilizada’ e Zema ouve gritos de ‘vacina, sim’

Lula anunciou investimentos de R$ 121,4 bilhões no estado, pelo Novo PAC. E ressaltou que não quer dividir a oposição, ao se aproximar de governadores bolsonaristas. “O que eu quero é uma relação civilizada”

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR
Ao lado de Zema, Lula afirmou que nunca pediria para um governador gostar mais ou menos dele: "Já sou casado"

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou hoje com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Lula foi a Belo Horizonte para anunciar investimentos de R$ 121,4 bilhões do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A cerimônia no Minascentro contou com a participação de ministros e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que desponta como candidato à sucessão do governo mineiro.

Primeiro a discursar no evento, o atual governador recebeu vaias e ouviu gritos de “Vacina, sim” e “Fora, Zema”. O público também levou cartazes com o Zé Gotinha, símbolo da vacinação, em protesto contra o mineiro.

Isso porque, no domingo, Zema anunciou que alunos sem vacinação em dia poderão frequentar as escolas mineiras, alinhando-se ao discurso negacionista de grupos bolsonaristas. Ontem, em entrevista à CNN Brasil, o governador sugeriu que as crianças deveriam estudar ciência para que optem por se imunizarem ou não.

Diante dos protestos, Zema adotou discurso conciliador. “Na minha vida de gestor aprendi que podemos pensar diferente, o que é normal, mas a boa convivência, sem extremismos, é o que vai fazer a vida dos mineiros melhorar. As obras, a geração de emprego e os investimentos não têm ideologia. O benefício é para todos”.

Viva o Zé Gotinha

Na sequência, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, voltou a insuflar o público, iniciando seu discurso com um “viva” ao Zé Gotinha. “O Zé Gotinha deveria ter vindo aqui comigo”, disse a ministra. Ela também destacou que a atual gestão conseguiu reverter a queda de vacinação, aumentando a cobertura vacinal de sete das oito vacinas do calendário infantil.

“Quem ama vacina?”, perguntou a ministra, desatando novos grito de “vacina, sim” por parte do público. Posteriormente, em entrevista coletiva, Nísia afirmou que vai lutar para que o direito das crianças receberem imunização seja respeitado.

Do mesmo modo, o ministro da Educação, Camilo Santana, apelou aos prefeitos e ao governador Zema pela vacinação de todos os alunos. “Esse é o dever do Estado e a vacina é para salvar vidas. Essa é a orientação do Ministério da Educação e do governo do presidente Lula”.

Assim como Zema, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, outro bolsonarista, também afirmou no final de semana, pelas redes sociais, que nenhuma escola do estado vai recusar matrículas de alunos por falta de vacina.

Política civilizatória

Lula destacou que as obras do Novo PAC foram definidas em diálogo com prefeitos e governadores. Para ele, trata-se de uma política pública “civilizatória”. “Porque o papel do presidente não é ficar preocupado em saber a que partido pertence o governador, mas com o povo do estado que elegeu o governador”, afirmou.

Nesse sentido, os anúncios do governo federal em Minas têm ênfase em energia e transição energética, saúde, educação, transportes, infraestrutura social, cultura e inclusão digital. Envolvem, por exemplo, a retomada de obras do Hospital Universitário de Juiz de Fora, o acordo de uso futuro do terreno do aeroporto Carlos Prates, em Belo Horizonte, R$ 33 bilhões em rodovias, R$ 778 milhões em aeroportos (em especial os regionais) e propostas de apoio a agricultores atingidos pela seca no Norte de Minas.

Lula destacou que manteve boas relações com governos mineiros durante seus dois primeiros mandatos. Foi tanto o caso de Aécio Neves (PSDB), a quem ele chegou a chamar de “companheiro”, como de Fernando Pimentel (PT).

Além disso, o presidente afirmou que a sua aproximação com governadores bolsonaristas nem tem como objetivo “criar divisão” no bloco da oposição. Nos últimos dias, Lula realizou anúncios de obras ao lado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (Republicanos), que junto com Zema, foram os principais apoiadores no Sudeste da tentativa de reeleição do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Eu não quero dividir nada. Estou conversando com o governo do estado que foi eleito pelo mesmo povo que me elegeu, pela mesma urna que me elegeu. Nunca vou pedir para um governador ou prefeito gostar mais ou menos de mim. O que eu quero é que a gente construa no país uma relação civilizada”.

Críticas a Bolsonaro

Lula, no entanto, não se furtou em criticar o antecessor. “Se eu perguntasse para vocês: me lembre de uma obra de infraestrutura que o governo passado fez em Minas Gerais? Certamente vocês não teriam essa obra, porque ela não existiu”, provocou.


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