Entre Vistas

‘Tive que aprender a ignorar os ataques rasteiros da oposição’, diz Eliziane Gama sobre CPMI do 8 de janeiro

Relatora da comissão que pediu o indiciamento de 61 pessoas, incluindo Bolsonaro, a senadora analisa os resultados de seu trabalho e defende penas impostas pelo STF. ‘Quem agride o Estado de direito está agredindo toda a nação’

TVT/YouTube/Reprodução
TVT/YouTube/Reprodução
A Juca Kfouri, na TVT, senadora relatou detalhes da CPMI e defendeu penas rigorosas para quem atacou a democracia

São Paulo – Passadas três semanas da entrega do relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, a relatora do processo, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), vive um novo momento e um pouco mais de paz. Ao longo dos últimos cinco meses em que esteve à frente do colegiado, a parlamentar foi alvo de ameaças de morte, além de ataques, comentários machistas e tentativa de silenciamento por parte de colegas da oposição. Agora, já com o relatório aprovado e incorporado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em diferentes investigações, Eliziane credita parte do resultado ao modo como decidiu ignorar as agressões bolsonaristas.

Foi o que ela destacou ao jornalista Juca Kfouri durante o programa Entre Vistas, exibido na quinta-feira (2) na TVT, em que compartilhou os bastidores do processo. “Todos os dias eu ia para a CPMI sabendo que teria um enfrentamento com algum parlamentar, sobretudo da oposição que faz, como ficou bem claro, um ataque muito rasteiro”, classificou. No primeiro mês de trabalho, a senadora tentava revidar os ataques, como fez ao ser provocada pelo senador Marco Feliciano (PL-SP), que acusou o colegiado de ser “rotulado”. Ao que Eliziane rebateu, apontando que Feliciano se comportava como uma “pessoa abjeta e misógina”.

Rotina de trabalho

Logo depois, no entanto, a senadora mudou de atitude e decidiu ignorar os ataques. “Porque não valia a pena. Não tem o que se debater com essas pessoas. (…) E eu fiz isso durante basicamente quatro meses de trabalho, não respondia a esses parlamentares especificamente”, comentou

“Receber o convocado que você vai interpelar sabendo que será interrompida, que ouvirá tumultos para desviar o foco, foi um verdadeiro exercício de concentração, de paciência. Porque eu tinha que simplesmente fechar os ouvidos para eles e focar no depoente para realmente ter um bom rendimento. Então num primeiro momento foi complicado. (…) Mas depois eu tomei a decisão de fato de ignorá-los. Porque para eles a única resposta que eu poderia dar era a indiferença e foi o que eu fiz. No final de tudo, de todos os depoimentos e informações que tivemos, não há dúvida nenhuma que essa forma que eu decidi tratar o decorrer dos trabalhos foi uma forma eficiente”, garantiu a Juca Kfouri.

Punição à altura

Por outro lado, até hoje, a senadora acumula mensagens de apoio de seguidores que acompanharam sua saga na comissão. Nesta semana, a Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou à relatora o compartilhamento de documentos secretos recebidos pelo colegiado durante a investigação sobre os ataques às sedes dos três poderes. O pedido foi visto como sinal de continuidade da investigação no Ministério Público Federal (MPF).

Em seu parecer, Eliziane pediu o indiciamento de 61 pessoas, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro. O grupo é acusado de associação criminosa, violência política, abolição violenta do Estado democrático de direito e golpe de Estado. A relatora também pediu punição à altura para os influenciadores e financiadores que fomentaram os atos golpistas. Assim como vem sendo aplicado sobre os executores, condenados pelo STF a penas que variam de 14 a 17 anos de prisão.

“Às vezes, as pessoas dizem: ‘Essa decisão do Supremo de 14, 15 e 17 anos (de prisão) é muito tempo’. Ela é e tem que ser mesmo, porque quem agride o Estado democrático de direito está agredindo toda uma nação brasileira. Quando você luta para a implantação de um golpe, você está querendo na verdade voltar o Brasil à censura, ao radicalismo e à tortura, que foi o que a gente viveu na ditadura militar”, destaca Eliziane. “Esse foi o cenário que a gente viveu. E se esse golpe tivesse dado certo, eu não estaria aqui falando contigo, Juca. Aliás, eu não sei nem onde estaríamos hoje, possivelmente buscando asilo em algum lugar”, concluiu a relatora.

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