Projetos

Eleição municipal é oportunidade de pensar a cidade de São Paulo de forma integrada. E pública

Deputado Luiz Cláudio Marcolino e presidenta do Instituto Lula, Ivone Silva, debatem no “Jornal Brasil Atual” a importância das escolhas eleitorais de outubro para planejar e desenvolver os municípios

Reprodução/Montagem RBA
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Para Marcolino, gestores locais precisam ter visão global. Ivone destaca a importância de escolhas para o Legislativo municipal

São Paulo – A pouco mais de oito meses das eleições municipais, as articulações e alianças se aceleram, e dezenas de milhões de eleitores têm a oportunidade de fazer novas opções para suas cidades. Para refletir sobre essas possibilidades, o Jornal Brasil Atual, da Rádio Brasil Atual, reuniu ontem (30) o deputado estadual Luiz Cláudio Marcolino (PT-SP) e a presidenta do Instituto Lula, Ivone Silva, também vice da CUT no estado de São Paulo. Em conversa com Rafael Garcia, eles falaram sobre a importância da eleição municipal para a vida nas cidades. E sobre a necessidade de políticas integradas entre município, estado e federação.

Um dos assuntos foi a recente aprovação do projeto de privatização da Sabesp, na Assembleia Legislativa. Um exemplo de como as decisões políticas afetam a vida das pessoas. Além do provável aumento da tarifa, já admitido pelo próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a questão envolve também decisões empresariais, sobre possível instalação, ou não, no estado. “Não é só o custo da água que vai aumentar, mas todo um projeto de desenvolvimento (será atingido)”, observa Marcolino.

Muito além do trabalho

Para Ivone, a eleição é oportunidade de discutir a cidade, o estado e o país também do ponto de vista do trabalhador. “Não é só o direito trabalhista. Como é o transporte dele, como é a moradia dele.”

Ela critica o atual prefeito paulistano, Ricardo Nunes, que costuma se vangloriar de ter dinheiro em caixa. “Dinheiro de prefeitura não é para dar lucro, ficar rendendo no banco. Nós pagamos impostos exatamente para esses impostos serem utilizados na educação, na saúde, no transporte, em projeto contra enchente. Esse atual prefeito não consegue fazer uma gestão que engloba… (…) Você tem que ter um projeto de cidade mesmo, não só coisas isoladas”, afirma.

Descentralizar políticas

Uma preocupação do gestor, ainda mais em uma cidade como São Paulo, deve ser a descentralização. Ivone fala em levar cinemas e teatros para áreas mais distantes. “Vi vários festivais, vários palcos (em regiões centrais), com artistas legais, e não tinha público.” Ao mesmo tempo, o setor privado avança. “Hoje, o Anhangabaú não é mais público, é privado. Ficou horrível (o projeto), o original não era assim. Virou uma coisa morta. E virou privada. (…) A cidade está sendo loteada para quem pode pagar.”

Privatização que atinge também a saúde. “As pessoas não acham remédio. Quem é que toma conta hoje dos postos de saúde? São empresas privadas que fazem isso”, diz Ivone. “Boa parte da saúde está terceirizada”, reforça Marcolino, que relaciona a epidemia de dengue e chikungunia ao “desmonte” de gestões anteriores em políticas de prevenção.

Eleição e vida cotidiana, tudo a ver

O deputado relaciona projetos nos planos federal, estadual e municipal para demonstrar os efeitos na vida cotidiana. Enquanto o governo paulista acabou de aprovar o controle privado da Sabesp, no plano nacional a gestão Bolsonaro tentou privatizar empresas como Petrobras, Correios e Caixa. Aqui, Tarcísio tem Metrô e CPTM, além de reduzir recursos da educação. “Quando a gente fala em eleição, democracia e a vida do trabalhador, tem tudo a ver. Continua sendo (em São Paulo) uma agenda muito parecida com a de Bolsonaro no governo federal.”

A questão do transporte público foi outro tema debatido no programa especial do Jornal Brasil Atual. Ivone e Marcolino afirmam que é preciso haver uma política integrada – agora, há gratuidade nos ônibus aos domingos na cidade de São Paulo, mas o governo estadual não acompanhou essa política e, além disso, aumentou o valor das tarifas no transporte sobre trilhos (trem, metrô). E mesmo na questão dos ônibus se poderia pensar na ampliação do benefício.

O deputado petista é autor do Projeto de Lei (PL) 621/2011, que prevê o funcionamento 24 horas dos trens do Metrô, da CPTM e da EMTU. Ele argumenta que as pessoas trabalham em vários locais à noite e durante a madrugada (hospitais, hotéis, bares) e precisam voltar para casa, assim como os frequentadores. Segundo ele, o projeto está na ordem do dia para ser votado na Assembleia Legislativa.

Sem visão desenvolvimentista

Para o parlamentar, fala à cidade um projeto de desenvolvimento. “A prefeitura não tem visão desenvolvimentista. (…) Não dá para olhar a cidade de São Paulo de forma isolada.” Ele cita a política industrial anunciada recentemente pelo governo federal, assim como a aprovação da reforma tributária e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como medidas para impulsionar a economia e o desenvolvimento do município. Lembra ainda do programa Ruas Abertas, implementado em 2016 pelo então prefeito e atual ministro Fernando Haddad. “Não era só a (avenida) Paulista. Quando você faz o Ruas Abertas, você tem cultura viva o dia inteiro”, afirma.

Assim como a segurança exige planejamento e integração entre as polícias Militar e Civil e a Guarda Civil Metropolitana. Além de investimento em inteligência. “(Existe) tecnologia suficiente para desbaratar diversas quadrilhas. É possível, sim, fazer essa combinação (polícias e GCM), dialogando com as empresas, com os sindicatos. Saúde tem que ser um projeto combinado entre município, estado e governo federal. Samu foi um projeto que deu certo”, afirma. (…) “O governo (estadual) não coloca um centavo nas UPAs”, acrescenta. Segundo ele, apenas no setor de saúde o estado de São Paulo tem déficit de 30 mil servidores.

Eleições legislativas

Por fim, assim como acontece no plano federal, não basta eleger um prefeito com visão progressista. Nesse sentido, é preciso escolher com atenção quem irá compor as Câmaras Municipais. “Nada contra os empresários, que também fazem parte da democracia, mas se você tem 10% de empresários não pode ter 70% deles te representando”, diz Marcolino.

“A Câmara tem que ter a cara do povo”, acrescenta Ivone. Várias Câmaras no Brasil não têm uma única mulher. Como é que pode uma Câmara Municipal não ter a cara de sua população?”, questiona. Por isso, observa, é preciso desconfiar quando se diz em escolher “não políticos” para cargos eletivos. “Política é importante de ser discutida. Quem não gosta do Estado é justamente quem não precisa do Estado.”


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