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É preciso ir às ruas para ‘interditar’ Bolsonaro, diz Lula

Ex-presidente afirmou que, se as instituições não reagirem, caberá ao eleitor escolher em 2022 um candidato que governe para o povo, e não apenas para militares e milicianos

Reprodução/Rádio Sagres
Reprodução/Rádio Sagres
Lula evitou comentar o favoritismo para as eleições do ano que vem, como mostra a mais recente pesquisa Datafolha

São Paulo – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (17) que é preciso ir às ruas para exigir que Bolsonaro “seja interditado”. Ele listou três caminhos para afastar o atual presidente do poder: a cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por conta do esquema de caixa 2 para a disseminação de fake news na campanha de 2018; denúncias de crimes cometidos contra as instituições democráticas e também durante a pandemia; ou por meio de um processo de impeachment no Congresso Nacional.

Quanto à última opção, Lula se mostrou cético. Ele não acredita que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decida pela abertura de um dos mais de 130 pedidos de afastamento contra Bolsonaro. Isso porque ele controla mais de 30 bilhões em emendas a serem distribuídas aos deputados.

“Não acredito que o Lira coloque o impeachment em votação, a não ser que haja muita pressão da sociedade. Por isso, temos de ir para a rua, temos que fazer pressão”, disse Lula em entrevista à Rádio Sagres, de Goiás. “Se nada disso resolver, vamos esperar que o povo em outubro de 2022 resolva o problema do país”, acrescentou. Ele disse acreditar que a população vai escolher alguém que não governe “para os militares da reserva e para milicianos”.

O ex-presidente evitou comentar seu favoritismo apontado novamente pela mais recente pesquisa Datafolha. Segundo Lula, é cedo para atentar a esse tipo de resultado, já que as pesquisas devem apresentar um quadro “mais real” quando as campanhas começarem efetivamente, em meados do ano que vem.

Atos golpistas e carta de rendição

Ele também comentou sobre a Carta à Nação, elaborada pelo ex-presidente Michel Temer, divulgada após os atos golpistas de 7 de setembro como tentativa de pacificação, após a escalada de agressões contra o Supremo Tribunal Federal. Para Lula, o episódio demonstra que Bolsonaro está “desmoralizado” e “fragilizado”. “Acho que ninguém acreditou (na carta), disse Lula.

“Penso que não era necessário alguém dar conselho para o presidente de que ele precisa governar esse país em harmonia, respeitando as pessoas e as instituições, porque esse é o papel do presidente da república. Não é fazer provocações, não é fazer agitação”, disse Lula.

Por outro lado, Lula disse que as manifestações, apesar de contarem com a participação de apoiadores pagos, mostrou que Bolsonaro tem apoio de certos setores da população. “Não tanto quanto ele imaginava, mas tem uma base forte. Afinal de contas, ele aparece nas pesquisas está com aprovação de 24%. E 24% é muita gente.”

Contudo, Lula acredita que o apoio ao atual ocupante do Palácio do Planalto deve permanecer oscilando em torno desse índice. “Há pouca perspectiva dele ter um crescimento muito grande. E possivelmente também não tem a perspectiva de decrescer muito. Daí a dificuldade da chamada ”terceira via'”, destacou. O ex-presidente também provocou, dizendo que “nunca acreditou” na capacidade de mobilização do MBL, em referência aos atos esvaziados no último final de semana.

Descontrole da inflação

Além dos possíveis crimes cometidos durante a pandemia, Lula também afirmou que o governo Bolsonaro perdeu o controle da inflação. “Estamos vendo a inflação voltar aos dois dígitos”, destacou. Ele citou a elevação dos preços da gasolina (39%), do etanol (62%), do diesel (35%), do botijão de gás (31%) e da energia elétrica (21%), que registraram um salto nos últimos 12 meses. Também ressaltou a carestia dos alimentos, citando a subida dos preços do óleo de soja (68%), do arroz (32%) e do feijão (17%). Cortes de carne como o patinho e músculo subiram cerca de 35%. “E a inflação, quando ela volta da forma que está voltando, prejudica a parte mais pobre da população.”

Reconstrução

O líder petista afirmou que é preciso “desmontar” o “programa de destruição” decorrente da atual política econômica e pensar em “reconstruir” o país. “Aliás o PT já tem um programa de reconstrução do Brasil, para que a gente possa fazer com que o país volte a crescer, gerar emprego e distribuir renda”, afirmou.

A saída, segundo ex-presidente, é “colocar o pobre no orçamento”, assim como incluir o rico “no Imposto de Renda”. Afirmou que os mais pobres, quando recebem recursos de programas sociais, não utilizam para comprar dólar ou investir na bolsa de valores. “Ele vai aplicar na barriga”, ressaltou.

Para Lula, a prioridade é resolver o problema do desemprego, que atinge mais de 14 milhões de pessoas, segundo o IBGE. O ex-presidente lembrou que, durante o seu governo, 20 milhões de vagas de emprego com carteira assinada foram criadas, com o Brasil alcançando a posição de 6ª economia mundial. “É essa minha profissão de fé: o pobre precisa entrar no Orçamento da União. O pobre precisa ter trabalho. E é por isso que tenho vontade de voltar. Porque sinto que posso fazer mais”, declarou.

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