Aliança frágil

Dilma: ‘Risco de o PMDB romper com o governo nunca foi novidade’

Presidenta afirma que o PSDB sempre amparou a conduta golpista de Eduardo Cunha e que não vai fingir que crise com os peemedebistas não existe

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Dilma disse ter tido conversa “muito positiva” com Temer, e que “não vai fingir” que não há problemas

Brasília – Em tom bem humorado, a presidenta Dilma Rousseff reconheceu hoje (11) a crise existente entre o governo e o PMDB e disse que a possibilidade de o partido do vice-presidente Michel Temer deixar a aliança com o PT nunca foi nenhuma novidade. “Estou aqui falando isso apenas porque fui perguntada por vocês (enfatizou, numa maneira de dizer que não estava provocando a discussão sobre o tema).” “Tive uma conversa que considerei muito positiva com o Temer na última quarta-feira, mas não vou ser hipócrita e fingir agora que o problema não está acontecendo”, disse.

Poucas vezes Dilma demonstrou estar tão à vontade para falar sobre a crise com os peemedebistas. Sobretudo depois do envio da carta do vice-presidente a ela e da destituição do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), que mantinha boas relações com o Palácio do Planalto.

A entrevista da presidenta sobre o tema que ampliou a crise política do país nos últimos dias foi concedida às pressas, durante sua saída da solenidade de entrega do Prêmio Nacional de Direitos Humanos, no Palácio do Planalto.

Dilma também afirmou que a base da conduta do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sempre teve o amparo dos tucanos. “Não é nenhuma novidade. Não é possível que os jornalistas aqui presentes tenham ficado surpreendidos. Aliás, a base do pedido e das propostas do presidente da Câmara é o PSDB, sempre foi. Ou alguém aqui desconhece esse fato?”, disse.

Ela destacou que, na conversa com Michel Temer, “o conteúdo foi pessoal e institucional”, no qual o vice-presidente apontou questões de caráter partidário, enquanto presidente nacional do PMDB, que foram ouvidas com atenção por ela.

“Essa foi a conversa que tivemos. Agora, a única coisa que posso dizer para vocês é que, em relação a nós (o governo em si), vamos trabalhar contra o impeachment”, acentuou, num recado de que as articulações para a rejeição do pedido protocolado pela oposição na Câmara seguem firmes. E que as contradições observadas entre os peemedebistas quanto ao apoio à base aliada não a desanimaram.

Na noite de quarta-feira (9), ao sair do encontro com a presidenta no Palácio da Alvorada, Michel Temer afirmou que tinha anunciado a ela sua disposição de exercer a função institucional de vice e que ficaria neutro em relação à discussão sobre o impeachment. Ou seja: não participaria das articulações do governo sobre a questão, mas também prometia não atuar pela aprovação do afastamento de Dilma.