Em Contagem-MG

Falta de investimentos do Estado causou desindustrialização, diz Lula

Até o momento, não houve um encontro entre Lula e o pré-candidato ao governo pelo PSD, Alexandre Kalil, e impasse por acordo em MG continua

TVT/Reprodução
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'"Esse país não precisa de arma, quem tem que ter arma são as Forças Armadas", disse Lula

São Paulo – Nesta terça-feira (10), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prosseguiu em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte) sua passagem de três dias por Minas Gerais. Em discurso na cidade, importante polo industrial, ele falou da desindustrialização do país. “O Brasil já chegou a ter 30% do seu PIB extraído da sua produção industrial. Caiu para 11%. Contagem ainda tem 21% do seu PIB industrial, o que mostra que aqui ainda tem muita indústria”, disse.

Lula apontou que a desindustrialização pela qual passa o Brasil é decorrente da falta de investimentos do Estado. O pré-candidato lembrou que o Brasil “já foi um produtor de autopeças, deixou de produzir aqui, e agora a gente está com empresa fechando e dando férias porque não tem chip e não tem peças para montar os carros no Brasil”.

Em seu discurso, assim como fez ontem em Belo Horizonte, Lula não deixou de fustigar Bolsonaro. “Esse país não precisa de arma, quem tem que ter arma são as Forças Armadas para defender a gente. E a polícia, para prender quem quer importunar a vida do povo”, disse. “Esse país está precisando é de mais escola, é de mais hospital, é de mais livro, é de mais cultura”, acrescentou.

A deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também discursou em Contagem – administrada pela prefeita petista Marília Campos – , e falou do movimento Vamos Juntos pelo Brasil, lançado no sábado (7) por Lula e seu vice Geraldo Alckmin. “É um movimento pela democracia, pelos direitos do nosso povo e por quem quer governar de fato este país. Porque hoje o Brasil está sem governo”, declarou. “O Brasil não tem um presidente da República, tem um impostor naquela cadeira.”

Aliança na pauta

Do ponto de vista político, o principal tema em torno da visita de Lula a Minas continua sendo o impasse que cerca a difícil aliança com o PSD no estado. Até o momento, não houve um encontro entre Lula e o candidato ao governo pelo partido, Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte. A aliança esbarra na disputa pela única vaga ao Senado.  Para fechar com Lula, o PSD quer o apoio à reeleição de Alexandre Silveira e o PT quer o deputado Reginaldo Lopes.

No momento, Kalil parece precisar mais de Lula do que o contrário. Pesquisa do Instituto Ver/Rádio Itatiaia de 19 de abril mostra o ex-presidente com 44% das intenções de voto, contra 27% de Bolsonaro. Por outro lado, para o governo do estado, o governador Romeu Zema (Novo) lidera, com 44%, e Kalil tem a metade, 22%.

Mas, politicamente, uma aliança interessa a ambos. Para Kalil, pela popularidade de Lula e a óbvia vantagem sobre Bolsonaro. O apoio do ex-presidente poderia lhe render o crescimento para chegar ao primeiro turno realmente competitivo. E, para Lula, por dois motivos. Primeiro, porque a eleição ainda está distante e muita coisa pode acontecer. Se Bolsonaro diminuir a distância para o petista, seria importante o PT contar com um palanque influente em Minas.

Segundo, porque boa parte do PSD mineiro ameaça apoiar Bolsonaro. Com cerca de 16 milhões de eleitores, Minas é o segundo colégio eleitoral do país e nenhum candidato pode dar “sopa para o azar” no estado. O hoje difícil acordo implicaria no sacrifício de Alexandre Silveira ou Reginaldo Lopes ao Senado.

Bolo e pão de queijo

Nesta terça, Kalil respondeu com ironia a matéria do jornal O Globo, de ontem à noite, intitulada “Sem acordo com o PSD de Minas, Lula deixa BH depois de tomar ‘bolos’ de Kalil”. Em seu Twitter, o pré-candidato ao governo de Minas respondeu: “Aqui em Minas Gerais ninguém dá bolo em amigo. Normalmente, é café quente e pão de queijo”. Foi um modo mineiro de desmentir que não estava menosprezando Lula, como O Globo quis dar a entender. Segundo os assessores de Kalil, ele não tinha compromisso agendado com Lula.

Lula encerra seu atual giro por Minas Gerais amanhã, em Juiz de Fora.