Mais articulações

Cunha articula mudança de relator do processo contra ele e recurso à CCJ

Iniciativas teriam como objetivo protelar ainda mais a apreciação do caso no Conselho de Ética. Também está sendo esperado pedido de vista do relatório por parlamentares aliados do presidente da Câmara

Wendel Lopes/PMDB

Dentre os líderes partidários, ninguém acredita que Cunha venha a ser bem-sucedido nas suas investidas

Brasília – Em mais um capítulo da novela que envolve o processo de investigação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética, o assunto que mais tem chamado a atenção dos parlamentares na manhã de hoje (18), a poucos minutos para a sessão conjunta do Congresso Nacional, não é a pauta de votações. E, sim, a possibilidade da defesa de Cunha solicitar, nos próximos dias, a mudança do relator do processo que corre contra ele, o deputado Fausto Pinato (PRB-SP).

A informação não foi confirmada pelo presidente da Câmara, mas tem sido dada como certa por parlamentares vinculados a ele. Ao ser questionado sobre o assunto na noite de ontem, Eduardo Cunha disse que só quem iria falar sobre isso seriam seus advogados de defesa. Mas entre deputados que o apoiam os argumentos são de que Pinato está sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) justamente por ter dado informações falsas numa ação judicial. E, por isso, não teria legitimidade suficiente para avaliar a situação de um colega que é acusado de ter mentido no Conselho de Ética.

A defesa de Cunha também tem expectativa de apresentar um recurso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara pedindo para ser anulado o relatório prévio que foi antecipado por Pinato na última segunda-feira (16), por considerar que o adiantamento do relatório teria inibido, ao deputado, o direito à defesa e ao contraditório. A principal acusação é ao fato de o relator tê-lo apresentado sem receber, antes, a defesa prévia de Cunha.

Entre os líderes partidários, ninguém acredita que Eduardo Cunha venha a ser bem-sucedido nas suas investidas, consideradas pífias, levando-se em conta as acusações que pesam contra ele e, inclusive, já comprovadas por muitos documentos.

Acontece que as duas movimentações (não apenas o pedido de saída do relator, como a apresentação do recurso, caso aconteçam) vão contribuir para atrasar o rito de tramitação do processo de investigação que corre contra o presidente da Casa. E é com isso que deputado e sua equipe de advogados trabalha.

Também está sendo dado como certo que o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SD-SP), se prepara para pedir vista do relatório na reunião do Conselho de Ética programado para amanhã (19), com o intuito de tornar ainda mais lento o andamento dos trabalhos.

Recuo do DEM

Na noite de ontem, a bancada do DEM, que dava sinais de seguir a iniciativa do PSDB e declarar oficialmente uma postura contrária a Cunha, decidiu em reunião protelar este anúncio. Os parlamentares do DEM demonstraram estar mais “em cima do muro” do que nunca, em relação ao tema. De 17 integrantes da legenda presentes ao encontro, apenas quatro defenderam o rompimento imediato com o presidente da Casa.

O líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE), que já tinha dado a entender a disposição de se posicionar contra Cunha, afirmou que não houve uma votação efetiva, mas a maioria da bancada, de fato, demonstrou desejo de esperar a votação do relatório preliminar de Fausto Pinato para, somente depois, tomar alguma iniciativa.

Enquanto isso, o presidente segue no seu ritmo de sempre. “Ele continua o mesmo tanto para o bem como para o mal”, ironizou um desafeto. Ontem, Cunha foi vaiado no congresso nacional do PMDB e teve sua ida ao evento considerada uma espécie de “saia justa” por parte de integrantes nacionais do partido, que torceram e trabalharam até o último momento para que não aparecesse. Por outro lado, o deputado continua dizendo, em suas declarações, que “está tranquilo” e não tem “nada a temer”. Mesmo com todos os documentos e informações já apresentados contra ele e sua família.